JOSÉ CARLOS VIEIRA - PRESIDENTE DA UDIPSS-VISEU

Estamos a regredir no processo de cooperação

José Carlos Vieira é o Presidente da UDIPSS-Viseu desde Agosto de 2007. Foi Presidente do Secretariado Distrital de Viseu da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social, no mandato de 1999 a 2003. De 2000 a 2003 foi também Presidente da Direcção no Núcleo Regional de Viseu da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, cargo que acumulou com a Presidência da Direcção da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral do Núcleo Regional de Viseu.
José Carlos Vieira tem 52 anos, nasceu e reside em Viseu. Tem o 2º Ano do Curso Complementar
.

SOLIDARIEDADE - Que motivos estiveram na origem da sua candidatura à UDIPSS-Viseu?
JOSÉ CARLOS VIEIRA
- Não posso dizer que tenha havido da minha parte ou de um grupo de pessoas a iniciativa de formalizar a minha candidatura à União Distrital de Viseu. Eu estive no então Secretariado Distrital, antes da alteração da estrutura da União que deu lugar à criação da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade. Quando foi criada a União Distrital, 23 de Maio de 2003, foi necessário proceder a eleições para os diversos órgãos. Como desempenhava o cargo de Presidente do Núcleo Regional de Viseu da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral e Tesoureiro da Direcção Nacional da mesma Associação, conjugado com a minha actividade profissional e dificuldades da minha vida pessoal, transmiti aos elementos que na altura faziam parte da Direcção do Secretariado que não podia continuar a desempenhar o cargo. Foi possível, felizmente, encontrar outro elemento que também fazia parte da Direcção e que no meu entendimento tinha melhor perfil para o lugar.
Em Outubro de 2006, foi publicado no jornal Lamego uma carta aberta a todos os Dirigentes e Funcionários das IPSS do Distrito em que o Presidente da Direcção se despedia de todos.
Como até Maio do corrente ano, não tinham ocorrido as eleições, foi desencadeada uma reunião com um grupo de pessoas, com o objectivo de constituir lista. Dessa reunião resultou praticamente a sua conclusão, sendo outro elemento, que estava com a responsabilidade de assumir a Presidência da Direcção.
Como não aceitou e pelo facto do processo já se ter arrastado em demasia, apesar das grandes dificuldade inerentes à minha vida profissional e pessoal, decidi aceitar.

Para si, que já é dirigente numa IPSS, este é um desafio acrescido. Como espera conseguir conciliar?
É de facto um grande desafio e de difícil conciliação, como já anteriormente referi. No entanto, dedicando-
me há cerca de 25 anos às causas da solidariedade, não podia deixar de, mais uma vez, dar o meu contributo. Espero contar com o apoio dos meus colegas e a compreensão, mais uma vez, da família.

Quais são os principais objectivos para este triénio?
Face às circunstâncias que acabo de descrever, não tive praticamente tempo para organizar um plano de acção muito aprofundado, até porque julgo que todos estamos fartos de agentes que prometem e depois não cumprem. Assim, preferi levar ao conhecimento dos associados sob o lema "AO SERVIÇO DOS VALORES DA SOLIDARIEDADE", alguns compromissos que tenho a certeza irei cumprir: O apoio jurídico; Promover acções de formação profissional em parceria com a CNIS, para profissionais e dirigentes; Participar nas diversas comissões, das quais saliento pelo seu elevado grau de importância a de acompanhamento e avaliação dos protocolos de cooperação.
Defender os interesses das associadas aos diversos níveis; Requerer o estatuto de IPSS para a UDIPSS; Propor as alterações à Assembleia Geral dos Estatutos e Regulamento Eleitoral.

Quais são os principais problemas sociais do distrito?
Viseu é um Distrito do interior que se debate muito com a desertificação, por erros cometidos, que não criam formas de fixar as pessoas. Continuamos a assistir que a pouca indústria fecha, uma agricultura de subsistência e um comércio tradicional que começa a ter concorrência das grandes superfícies.
Estas situações têm gerado muito desemprego. Apesar de ainda não ter elementos concretos, estou convicto de que estamos a caminhar para uma sociedade de extremos, em que me preocupa muito os pobres, que cada vez são mais e vivem cada vez pior.

Quais são as problemáticas sociais no distrito para as quais não existem respostas?
Eu creio que no meu distrito não há problemáticas sociais sem resposta, porque o mesmo era dizer que os agentes com responsabilidades nesta matéria, seriam irresponsáveis. No entanto, o que há é insuficiência em determinadas áreas, que aliás têm sido divulgadas. Estou a lembrar-me da infância, idosos e deficientes.

Quais são os principais promotores da solidariedade e parceiros prováveis da UDIPSS liderada por si?
Os principais promotores da solidariedade são indiscutivelmente as Instituições Particulares de Solidariedade Social. Contudo é necessário mobilizar as Associações Industrial, Comercial, Câmaras Municipais e sociedade em geral.

Que dificuldades espera encontrar?
Desde logo as financeiras, uma vez que a percentagem que nos cabe das quotas das associadas, suporta apenas os custos administrativos, o assessor jurídico e pouco mais.
Estamos a reunir nas instalações da Caritas e as Assembleias Gerais no Centro Sócio Pastoral, a quem agradecemos a cedência do espaço. Gostaria de ter estudos sobre diversas áreas, para melhor exercer as funções e elaborar um plano de acção mais ambicioso, mas tal como já disse corria o risco de não o cumprir.
As outras, estou disponível conjuntamente com os colegas da Direcção e apoio dos diversos Órgãos Sociais, para os equacionar e tratar com o cuidado que cada uma merecer.

Qual é o papel que uma UDIPSS deve desempenhar?
Uma UDIPSS deve fundamentalmente desempenhar o papel de defesa dos associados.
Este papel, mais do que nunca é necessário que seja bem desempenhado, dadas as enormes responsabilidades que os dirigentes das IPSS cada vez mais têm. Estou certo que muitos dos dirigentes, pela enorme absorção que diariamente têm, ainda não pararam para pensar no que oportunamente foi legislado sobre Transportes Colectivos de Crianças, Segurança Alimentar, Segurança contra Incêndios, etc.
Quem legislou pensou no que isso representa de encargos para a grande maioria, se não quase totalidade das IPSS!!!
Deve também ser mediadora, se solicitada, de eventuais conflitos entre IPSS e a tutela. Incentivar a criação de respostas em áreas deficitárias, alertar as associadas para o cumprimento das normas legais que se apliquem aos equipamentos.

Quais são as relações que espera manter com a CNIS?
Uma relação da maior cordialidade e respeito institucional para poder receber o mesmo tratamento.

Qual é a importância da Igreja na solidariedade social no distrito?
Tem tido e com certeza irá continuar a ter um papel fundamental, não apenas no desenvolvimento de respostas sociais, mas também, proporcionar às pessoas mais carenciadas, meios que lhes permitam viver com um pouco mais de dignidade.

Que importância atribui ao voluntariado na solidariedade?
Atribuo uma importância enorme. Vejo com grande preocupação o facto de não haver mais voluntários e a dificuldade que sinto no seu aparecimento ao nível mais jovem, principalmente para as áreas mais difíceis do social, como por exemplo, a deficiência.
O que senti, é que muito do voluntariado que as Instituições têm, para além dos dirigentes, é desenvolvido também pelos profissionais, sem os quais muitas acções não se desenvolviam. É urgente que os nossos governantes criem formas que viabilizem e fomentem o voluntariado.

Que avaliação faz deste governo na relação com as IPSS?
A avaliação que faço é a de que estamos a regredir no processo de cooperação. Como é possível que um Governo utilize as instituições, quando necessita, e as deixe com todos os ónus, quando já delas não precisa! É, entre outros, o caso do ATL, as Escolas do Ensino Especial.
As Instituições que tiveram estas valências não prestaram um relevante serviço? O que se faz às pessoas que fizeram o seu melhor para diariamente responderam aos utentes?... Desemprego?
Cooperação não é decididamente este tipo de comportamento. Isto, para não falar nos custos técnicos, que estão na origem da comparticipação por utente, às Instituições.
Por estas e muitas outras razões, a avaliação é francamente negativa.

 

Data de introdução: 2007-10-09



















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