O dia começou cedo… Por volta das nove e meia da manhã começaram a chegar ao recinto vários autocarros e carrinhas vindas de todo o país. Na bagagem traziam a merenda, muita alegria e boa-disposição, afinal, pela primeira vez, a grande família da solidariedade ia festejar os valores que os unem a todos. Perto de cinco mil pessoas participaram na primeira Festa da Solidariedade, na Quinta da Bela Vista, em Lisboa, no dia 29 de Setembro. Vários técnicos, utentes, amigos e dirigentes solidários quiseram marcar presença num evento que juntou cerca de 170 instituições particulares de solidariedade social vindas de todo país, do Norte aos Açores.
No segundo ano à frente dos destinos da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), Lino Maia, pretende que este evento simbólico seja “uma expressão, uma montra das actividades das instituições”. O presidente da CNIS admite que esta festa é uma forma das instituições “se darem a conhecer e serem reconhecidas pelos cidadãos em geral e pelo Governo em particular”. O evento contou com a presença de diversas personalidades, entre elas, Vieira da Silva, Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, o Secretário de Estado, Pedro Marques, a Governadora Civil de Lisboa, Adelaide Rocha, e vários deputados municipais.
A animação esteve distribuída por três palcos, para além da festa de rua com gigantones e diversos animadores circularam incansavelmente por todo o recinto distribuindo rebuçados e sorrisos. No palco principal assistiu-se a um desfilar de expressões artísticas, em que a idade não tinha peso e as gerações misturavam-se em confraternização. Aqui o público foi também artista e todos puderam ver e apreciar o trabalho desenvolvido pelos colegas. Desde grupos de dança, aos cantares ao desafio, aos grupos corais, não faltou imaginação aos utentes e pessoal das diversas instituições que actuaram.
A manhã foi abrilhantada pelas danças e bailaricos que surgiram espontaneamente no público e que aqueceram quem teve coragem de subir ao palco. Pelas encostas da Quinta da Bela Vista, os grupos espalhavam-se pelo chão e as conversas divagavam entre os assuntos de cada um e a festa propriamente dita. À hora de almoço, as toalhas estendidas no chão, as cestas abertas proporcionavam o alegre convívio das refeições e a quem por lá passava não faltavam convites para o almoço ou para provar um copinho de vinho. “Tome lá, que é bem bom!”, dizia o senhor Manuel de Portimão de sorriso nos lábios e garrafão na mão.
Da parte da tarde, o momento alto da festa: por entre o público surge acesa nas mãos de uma criança e de um idoso a chama da solidariedade. Símbolo da “gratidão nunca extinta e de uma festa que é, já de si, uma espécie de chama que leva as instituições a darem as mãos”, disse o presidente da CNIS, a chama foi entregue ao cuidado da UDIPSS de Lisboa por um ano. José Carlos Batalha, presidente da União lisboeta disse que “a capital sentiu-se honrada por ser o primeiro lugar da realização da grande festa da solidariedade”. “Vamos continuar o trabalho que fazemos ao serviço das pessoas e da vida e cuidar para que a chama da solidariedade se mantenha o mais acesa possível e a irradiar o maior calor possível, porque o fenómeno da solidariedade nunca se apagará”, disse.
Vieira da Silva quis deixar expressa a vontade do Governo em continuar o trabalho de cooperação com as instituições de solidariedade social. “O Estado tem com as IPSS uma parceria que é velha. Hoje, por exemplo, temos em construção uma série de equipamentos sociais totalmente da responsabilidade das instituições, mas financiados pelo Governo. Havendo esta parceria tão profunda, não faria sentido que estivéssemos ausentes desta festa de união da família da solidariedade”, afirmou o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social. O presidente da CNIS elogiou a relação com o Ministro, mas fez questão de referir que não pode “dizer o mesmo de todas as áreas do Governo”, referindo-se em especial ao sector da educação. “Ainda há ostracização e desconhecimento do que é este mundo da solidariedade”, afirmou o dirigente.
Quanto aos participantes não faltaram sorrisos e boa disposição e nem a chuva fez esmorecer a vontade de participar. “Estou a gostar muito da festa, pena é a chuva”, dizia Evaristo Lázaro, que veio do Montijo. Resguardado na tenda de apoio ao palco principal, lá trauteava as canções que iria apresentar de seguida. “Gostei muita da chama, foi muito bonito e esta festa é um convívio”, acrescentou.
Até as diferenças culturais ficaram esbatidas e diversas culturas deram as mãos. Encontramos representantes da comunidade Hindu, em Lisboa que, mesmo com alguma dificuldade no português, lá disseram que “foi um gosto muito grande participar nesta festa”. Traziam um grupo de crianças que iria dançar músicas indianas, mas a chuva intensa que começou a cair durante a tarde, fez com que a festa acabasse mais cedo. Apesar deste contratempo, a iniciativa correspondeu em pleno às expectativas do presidente da CNIS. “Consideradas as dificuldades de deslocação, o facto de ser um Sábado, o tempo, não esperava mais. Temos instituições de quase todos os distritos do país e dos Açores que tiveram que fazer um sacrifício para vir, pois todos sabemos que estes dirigentes têm família, actividade profissional e fizeram um esforço para cá estar com os seus utentes, amigos e familiares”, explicou o Pe. Lino Maia.
Os guarda-chuvas amarelos da festa solidária marcaram o adeus anual da iniciativa que promete voltar para o ano, desta vez em Braga. A chama da solidariedade ficará em Lisboa e para o ano será entregue aos dirigentes solidários da cidade dos arcebispos, numa passagem simbólica que se pretende que seja repetida durante muitos anos.
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