A Ânimas – Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social -, é uma Associação sem fins lucrativos que visa promover a utilização de cães de assistência por pessoas com incapacidades, como seja o caso de indivíduos utilizadores de cadeiras de rodas e indivíduos surdos. Neste sentido desenvolve actividades de formação de técnicos, treino de cães e o relacionamento destes com os respectivos utentes com vista à sua maior independência, integração social e comunitária.
“A nossa associação desenvolve actividades de treino específico de cães e de formação de técnicos que façam a ligação do utente ao seu animal. Estes cães são cedidos gratuitamente às pessoas com incapacidades que necessitem dos seus serviços. Pretende-se, assim, disponibilizar a estas pessoas a posse de um animal que se demonstrou ser de grande utilidade não só em termos psicológicos e motivacionais no momento de superar uma incapacidade mas, do mesmo modo, em termos de reabilitação. As pessoas que possuem um cão de assistência aumentam o seu nível de independência de forma notável, uma vez que esses animais actuam em áreas nas quais o utente está total ou parcialmente incapacitado, como sejam o abrir portas, recolher objectos do chão ou de locais inacessíveis, acender luzes, despir certas peças de vestuário ou, no caso de indivíduos com deficiência auditiva, alertar para o toque de uma campainha, para o choro de um recém-nascido, para o alarme de incêndio” – afirmou ao Solidariedade a presidente da instituição, Prof. Doutora Liliana de Sousa.
Para esta docente do ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), e responsável do Departamento de Neurocomportamento do IBMC (Instituto de Biologia Molecular e Celular), o projecto de que lançou mãos em Maio de 2002 “pretende promover, à luz do que tem sido realizado com êxito noutros países e já em Portugal, a integração social e laboral de muitas pessoas, dando um passo no sentido de eliminar barreiras e sensibilizar a sociedade para estes problemas”.
O cão de assistência é treinado durante dez a doze meses, sendo mais tarde submetido a um período de ligação ao seu futuro dono, de acordo com os seus problemas, completando a formação aproximadamente ao fim de um ano.
As raças mais utilizadas para cães de assistência são o Labrador Retriever e o Golden Retriever, pelo seu carácter afável, dócil e agradável. Estas raças são mundialmente as mais usadas, quer se trate de cães-guia para cegos, cães para auxiliar indivíduos com deficiência motora ou cães no âmbito da Terapia Assistida por Animais.
Os cães cedidos pela Ânimas entregam-se com coletes, com caderneta de direitos dos cães de assistência, apólice de seguro de responsabilidade civil, certificado de treino do cão credenciado pela associação, boletim de vacinas e de análises ao sangue, que deverá ser renovado cada 6 meses, e que o utente deverá trazer consigo sempre que se desloque em locais públicos acompanhado do seu cão.
Em todo este processo, a associação tem como princípio salvaguardar o bem-estar dos animais durante o seu ciclo de vida. Para isso cria condições de forma que, tanto durante o período de desenvolvimento dos cachorros, como durante as diversas fases de treino, e mesmo depois de serem cedidos aos utentes, os cães sejam tratados com todos os cuidados que necessitem, obedecendo a todas as regras de ética referentes ao uso de animais de trabalho.
Em colaboração com a Escola EB 1 da Bajouca, os técnicos de saúde da Ânimas realizaram um programa de intervenção no âmbito da Terapia Assistida por Animais, com os alunos que mostravam dificuldades de aprendizagem. Neste programa foram utilizados dois cães como intermediários entre as crianças e os terapeutas, facilitando a aproximação e a comunicação entre ambos. No final do ano lectivo, os alunos que participaram mostraram mudanças positivas no seu desempenho escolar.
Em Maio de 2002, esta IPSS organizou um Seminário com o objectivo de sensibilizar os técnicos de saúde e o público em geral para a utilidade dos cães de assistência. Este evento, realizado em colaboração com a Fundación Bocalán, de Madrid, incluiu várias comunicações proferidas por intervenientes com vasta experiência, tanto no treino de cães como na aplicação de programas para pessoas com incapacidades.
Os cães são cedidos gratuitamente a pessoas de associações que manifestem necessidade de recorrer aos prestimosos serviços dos animais.
Nem tudo têm sido rosas na vida da associação. Liliana de Sousa refere as dificuldades com que vão deparando: “As exigências e o rigor que têm de existir para este tipo de trabalho levam a que a Associação, única no País e recentemente formada, se depare com inúmeras dificuldades, especialmente de ordem financeira. A Ânimas, que está a iniciar as suas actividades, confronta-se ainda com a falta de sensibilização e informação da sociedade em geral, o que dificulta a obtenção de ajudas financeiras e, consequentemente, a viabilidade dos objectivos a que se propõe. Assim, estamos a desenvolver esforços com o fim de angariar o maior número possível de apoios que permitam a implementação deste projecto cuja acção tem vastos benefícios quotidianos e psico-sociais”.
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Solidariedade, Junho de 2004
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