Um grupo de engenheiros portugueses vai lançar uma associação humanitária para prestar socorro em catástrofes e desenvolver projectos de combate à pobreza em países em desenvolvimento, em regime de voluntariado. O bastonário da Ordem dos Engenheiros, um dos promotores, disse que a ideia surgiu de uma deslocação a Moçambique, quando preparou uma comunicação sobre o papel da engenharia no combate à pobreza e se confrontou com "números impressionantes".
"No mundo, 1.100 milhões de pessoas não dispõem de abastecimento de água, 2.600 milhões não têm sistemas de esgotos, 1.500 milhões não têm electricidade", afirmou Fernando Santo, sublinhando que, "numa época em que se acentua o papel da engenharia nas novas tecnologias, a maior parte da população mundial vive em condições da Idade Média". Por isso, defende que, "a par das novas tecnologias, é essencial retomar a missão inicial da engenharia, que é a de melhorar as condições de vida das populações".
A associação humanitária, cuja escritura de constituição deverá ser assinada a 22 de Novembro - Dia do Engenheiro -, pretende seguir um modelo semelhante ao da AMI (Assistência Médica Internacional), organização humanitária não-governamental fundada pelo médico português Fernando Nobre, que já apoiou a iniciativa dos engenheiros. "Entre a medicina e a engenharia há uma grande afinidade nestas matérias", considerou o bastonário, dando o exemplo da prevenção de epidemias, em caso de catástrofe, que pode ser alcançada com intervenções de engenharia.
Um terramoto pode danificar o sistema de saneamento de uma localidade, deixando esgotos a céu aberto e contaminando as águas de abastecimento, o que, frequentemente, conduz a epidemias de doenças como a cólera. "Com a intervenção da engenharia, criando sistemas alternativos, estes efeitos podem ser minimizados", explicou o bastonário. "Quando aconteceu
o tsunami no Sudeste Asiático, os Estados Unidos da América enviaram, para além de uma equipa de médicos, outra de engenheiros" no primeiro socorro, referiu.
Mas para além de deslocar voluntários para acorrerem a catástrofes, a associação pretende ainda desenvolver projectos de engenharia em países com carência desse tipo de infra-estruturas, em colaboração com as autoridades locais.
Sistemas de abastecimento de água, construção de redes de esgotos, fornecimento de energia eléctrica e construções para substituição de bairros de lata são alguns dos projectos que a organização prevê lançar em países em desenvolvimento.
O financiamento "não é um problema", até porque "a Organização das Nações Unidas (ONU) tem disponíveis muitos milhões para o apoio a este tipo de projectos, que muitas vezes não são aplicados apenas por falta de organização das autoridades locais", considerou.
Voluntários também não faltarão, porque "muitos jovens engenheiros, essencialmente oriundos das Universidades de Aveiro e do Minho, já manifestaram o apoio e a intenção de aderir", disse Fernando Santo.
Além do bastonário da Ordem dos Engenheiros - que tem servido como "incubadora" da ideia -, são igualmente "sócios fundadores" o presidente do Colégio de Engenharia do Ambiente e docente da Universidade do Minho, António Brito, e o antigo presidente do Metropolitano de Lisboa, Mineiro Aires.
Data de introdução: 2008-11-14