As famílias portuguesas de classe média e média baixa têm pouca oferta de serviços de apoio aos seus idosos com qualidade e a preços acessíveis, segundo um estudo de avaliação das necessidades dos seniores em Portugal a que a Lusa teve acesso.
O estudo, financiado pela Fundação Aga Khan e realizado pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano e pela Boston Consulting Group, foi feito com base em entrevistas a 1300 pessoas e análise da oferta existente no mercado.
Em Portugal, segundo o estudo, os serviços são prestados pelo sector público para os idosos com baixo rendimento, e pelo sector privado para os de rendimento médio-alto e alto.
Para as famílias das classes média e média baixa a oferta é reduzida.
"O actual panorama resulta numa resposta incipiente à satisfação das necessidades de grande parte da população", refere o estudo, adiantando que, "de facto, as organizações públicas e sem fins lucrativos não têm capacidade para abranger na totalidade o segmento de rendimentos médio-baixos".
Esta situação, adianta o estudo, leva a que operadores formais prestem serviços a preços que não são acessíveis à maior parte destas pessoas, pelo que acabam por ser servidos por operadores informais, de forma insuficiente e com graves rupturas.
O custo médio por utente por mês varia. No caso das Misericórdias (terceiro sector), por exemplo, o custo é de 722 euros nos lares para grandes dependentes, 614 euros nas residências assistidas e 482 nos lares.
Já no que respeita aos serviços formais prestados pelo sector privado, os valores rondam os 650 e os 1.250 euros por mês para os cuidados residenciais e os dois mil euros para cuidados domiciliários (24 horas por dia) ou até mesmo os três mil euros se for de cariz médico.
Tendo em conta que os serviços informais de cuidados permitem aos idosos permanecerem em casa mais tempo e são mais baratos do que a maioria dos serviços formais, estes tendem a ser o primeiro recurso das famílias.
Estes serviços, explica o estudo, têm geralmente um cariz social e são prestados por mulheres que acumulam tarefas domésticas (limpeza da casa, tratar da roupa, cozinhar), mas são também caracterizados por várias situações irregulares.
"A maior parte dos prestadores de cuidados não tem contratos formais nem declara os rendimentos das suas actividades. Além disso, alguns prestadores de cuidados que são imigrantes não têm documentos", refere o estudo, citando um relatório da Eurofamcare.
Ocasionalmente, os serviços informais têm um cariz médico. São prestados por enfermeiros que estão reformados ou trabalham em paralelo em unidades médicas, mas apenas as famílias de rendimento médio-alto conseguem recorrer a estes serviços devido aos elevados custos associados.
O estudo considera que os serviços disponíveis para cuidados a idosos continuam a ser insuficientes, apesar do investimento feito pelo governo, em particular ao nível dos serviços domiciliários e centros de convívio e também do papel das organizações da sociedade civil, tais como associações, mutualidades, cooperativas, fundações e misericórdias.
Nas misericórdias por exemplo, são dadas respostas sociais a idosos através de famílias e acolhimento, apoio domiciliário, centros de dia e lares de grande dependência.
A capacidade total destas respostas é de 30.720 vagas, mas ainda assim existem 17.567 utentes em lista de espera, dos quais 14.679 para as casas de repouso.
O estudo, agora divulgado, tem como objectivo central promover o conhecimento das tendências e necessidades da população portuguesa com 55 ou mais anos de idade, sendo um dos contributos da Fundação Aga Khan para o conhecimento da situação portuguesa, plasmado num protocolo assinado com o Estado português.
A Fundação Aga Khan foi criada em 1967 e está vocacionada para o apoio às comunidades mais vulneráveis, independentemente da sua origem étnica, género, religião ou convicção política.
Sedeada em Genebra, na Suíça, a fundação opera em Portugal desde 1983, tendo apoiado iniciativas na dinamização e autonomização de grupos comunitários constituídos por crianças e jovens em risco, visando a sua integração social.
Data de introdução: 2008-11-30