FAMíLIA PARA O TERCEIRO MILéNIO

ANO INTERNACIONAL DA FAMÍLIA – 10.º ANIVERSÁRIO 1994-2004

Por José Carlos Jorge Batalha*
                          uipss.de.lisboa@mail.telepac.pt

Como parte intrínseca da sociedade humana e como instituição natural de relações intergeracionais, a Família tem sido o sustentáculo das civilizações, e, apesar da sua desvalorização ética e da sua degradação social – que tem sido a génese de muitos e graves problemas com que o Mundo moderno se debate - continua a evidenciar a sua indispensabilidade para a estruturação da sociedade e para a formação e realização do Homem.

Um breve olhar retrospectivo mostrar-nos-á as rápidas e profundas mudanças que afectaram a instituição familiar:
Éramos um mundo fechado, com antípodas, de informações difíceis, um planeta saudável, regíamo-nos secularmente por valores.
Somos hoje um mundo aberto, com vizinhos, com informações globais e instantâneas, de deslocações supersónicas.
Somos um planeta ecologicamente doente. Regemo-nos por interesses e proveitos. Vivemos entregues a nós próprios. Estamos infectados pelos vírus da solidão e da violência, da apatia e da indiferença.
A Família deixou de ser, aparentemente sem regresso, a primeira escola.
Era-o, de facto. A escola dos valores.
A primeira escola passou a ser a televisão: a mais sedutora, a mais barata e a mais universal das escolas.
Esta escola, já não forma os futuros cidadãos. Ensina-lhes competição, violência, sensacionalismo, consumismo, pornografia.
Alimenta e promove a ideia que a Família é já uma realidade passada, ultrapassada pelas novas realidades emergentes.
Aponta com incrível ousadia, novas formas de relacionamento inter-pessoal, releva o discurso que refere que a Família é uma questão politicamente incorrecta e é uma instituição retrógrada.
Neste contexto e, quiçá também por sua influência, há também algumas vozes, muito em voga actualmente, que advogam que os pilares fundamentais da Família : Pai e Mãe, são dispensáveis. Queira Deus que a ciência não nos permita evoluir para qualquer outra hipótese, embora este aspecto da engenharia genética não seja de menosprezar.
Tenho a firme convicção de que a reprodução de seres vivos a partir de uma célula - a chamada clonagem - que ameaça dispensar a forma de procriação que a natureza inventou, e que há milhões de anos é o verdadeiro suporte da família, possa vir a ser um fenómeno de consequências imprevisíveis e um obstáculo à consolidação da Família.
Mas é oportuno questionar que Família é possível, a partir de uma nova forma de reprodução que dispensa o amor, abdica do afecto, se não, em última instância, da própria relação sexual?
Que consequências no plano da instituição familiar?
A relação que firmamos com os nossos pais não é meramente orgânica!
É, sobretudo, uma cumplicidade que se constrói no tempo.

10 anos depois da Organização das Nações Unidas ter proclamado o ano de 1994, como o Ano Internacional da Família, temos a consciência, cada vez mais viva, dos perigos e dos riscos que corre a humanidade com a degradação a que tem estado sujeita a instituição e a vida familiar.

Esta consciencialização, deve comprometer-nos, hoje ao celebrarmos o 10.º aniversário do AIF, de que é possível, ainda que em moldes actuais, recompor a instituição familiar, por forma a voltar a desempenhar o papel de célula base da sociedade humana.
É, pois, urgente, um confronto com a Constituição da República, que nos rege, designadamente no que se refere à garantia dos direitos que, salvando a família, salvam esta sociedade:
A afirmação do primado da Família, o direito a existir e a progredir como família;
O direito de transmitir a vida e dar a educação aos filhos, segundo as próprias tradições e valores culturais;
O direito ao trabalho e à adequação das condições laborais às condições familiares;
O direito à segurança física, política, social e económica;
O direito à habitação;
O direito à protecção dos menores das situações de pornografia, toxicodepedência, alcoolismo, violência;
O direito à emigração, como família, na busca de uma vida digna;
O direito à segurança dos idosos, a viver e a morrer dignamente;
O direito a uma verdadeira justiça fiscal que reconheça o papel social da família.
Em cada política sectorial é fundamental integrar uma dimensão familiar já que a Família é a certeza e a resposta aos desafios do mundo actual e do futuro.
Não haverá solidariedade social sem solidariedade entre gerações, sem solidariedade familiar .
A família é, assim, a questão central da sociedade moderna.
 
* Presidente da UDIPSS - Lisboa – União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social


Solidariedade, Maio de 2004

 

Data de introdução: 2004-10-07



















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