Seis e sete de Março foi a data escolhida para o primeiro grande encontro dos voluntários portugueses, sob a égide da recém criada Confederação Portuguesa do Voluntariado (CPV). Apresentar publicamente a CPV, conhecer melhor o voluntariado em Portugal e adoptar orientações e recomendações para o futuro são os objectivos deste congresso, a realizar no Fórum Lisboa.
A CPV nasceu oficialmente em Janeiro de 2007, mas a sua génese remonta a 2005 quando, para comemorar o Dia Internacional do Voluntariado, várias organizações de âmbito nacional participaram numa reunião alargada do Conselho Nacional de Promoção do Voluntariado (CNPV) e foram interpeladas nesse encontro para se juntarem numa confederação. A comissão instaladora é presidida por Eugénio Fonseca e é integrada pela Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), pela Animar, pela Cruz Vermelha Portuguesa, pelo Instituto S. João de Deus, pela Liga dos Bombeiros Portugueses, pela Plataforma Saúde em Diálogo e pela União das Misericórdias Portuguesas. “A confederação nasceu pelo motivo de se sentir que não havia nenhuma organização em Portugal da sociedade civil que, em nome de todas as da área respectiva, representasse os voluntários”, explica o presidente da comissão instaladora. “Já existe o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado. É um conselho que emana do Estado, mas não é uma instância representativa dos voluntários, daí ter nascido esta ideia”.
A confederação tem como finalidade representar os voluntários portugueses e as respectivas organizações, quaisquer que sejam os seus domínios de actividade. Neste âmbito, fazem parte dos objectivos da associação contribuir para a defesa dos direitos e interesses dos voluntários, através da representação do voluntariado de Portugal a nível nacional e internacional, da preservação e actualização da identidade do voluntário, da cooperação entre as organizações de voluntariado e da promoção da acção voluntária.
Eugénio Fonseca defende que é preciso criar condições para assegurar o recrutamento e a formação dos voluntários. “Há uma formação inicial que convém que seja mais homogénea para que o voluntário possa estar hoje numa organização e amanhã possa estar noutra. Quando falo em formação, falo em podermos arranjar modelos comuns em termos de conteúdo que levem a que haja uma uniformização dessa formação, de tal forma que quando o voluntário deixe de prestar serviço numa organização e passe para outra a base seja a mesma”.
O presidente afirma ser também necessário conhecer a realidade do voluntariado nacional e manter actualizado esse conhecimento. Segundo ele, os poucos estudos que existem não são abrangentes o suficiente para retratar o país. “Havendo uma organização como a nossa, com uma base de dados actualizada, é mais simples saber quantos são, o que fazem, em que zonas do país se localizam”. Eugénio Fonseca diz que o povo português é muito “voluntarista”, mas que para ser voluntário há “um caminho a percorrer”. Para o dirigente, nas últimas décadas, principalmente após o 25 de Abril tem havido uma reformulação do voluntariado em Portugal, com uma maior diversificação das áreas de actuação que deixaram de ser quase exclusivamente na acção social, saúde e nas colectividades de recreio e passaram a integrar vertentes novas como a cultura ou o ambiente. “Existe uma maior consciência, mas para a dimensão e para as necessidades do país é preciso haver uma consistência ainda maior, que o voluntariado seja encarado como uma cultura”, defende. O líder da CPV dá como exemplo o grande número de colectividades existentes em Portugal, sustentadas no voluntariado, mas cujo nível de participação é muito baixo. “As pessoas pagam a sua quota, mas não fazem mais do que isso, e essa fraca participação é também muito notória ao nível da renovação dos quadros dirigentes dessas associações. São cargos mais exigentes, de maior responsabilidade e de uma presença mais assídua e não há disponibilidade para isso e por isso, encontramos dirigentes que se perpetuam nos cargos, porque não há quem as substitua”.
Para o presidente é necessário fazer uma aposta forte no desenvolvimento de motivações que levem as pessoas a “comprometerem-se com o voluntariado”. “Há motivações que ainda não foram encontradas, pois falamos de um voluntariado que assenta na gratuidade, não tem qualquer contrapartida de ordem material. Há países, por exemplo em que, em igualdade de circunstâncias académicas no acesso ao ensino superior, dá-se preferência a quem fez mais horas de voluntariado, é uma motivação”. Eugénio Fonseca diz que um dos papéis fundamentais da confederação é desenvolver essas motivações e que a grande aposta passa pela mobilização dos jovens.
Estas matérias farão parte dos temas em discussão no I Congresso do Voluntariado Português, onde se vão abordar temáticas como: “O voluntariado em Portugal – das origens à actualidade”, “O ciclo de vida voluntário”, “Recrutamento e fidelização dos voluntários – o compromisso”, “Ética e responsabilidade social dos voluntários”, “O marketing do voluntariado” e “Mecenato e Reconhecimento social”.
Data de introdução: 2009-02-12