PISTA MÁGICA

A primeira Escola de Voluntariado do país

É a primeira Escola de Voluntariado em Portugal, um projecto inovador na área social que, segundo a fundadora, preenche uma lacuna na formação de voluntários. O projecto foi lançado pela associação sem fins lucrativos Pista Mágica, constituída em meados de 2008 e que, nos poucos meses de existência, já capacitou mais de 150 pessoas para o exercício do voluntariado.

A Escola de Voluntariado é o primeiro grande projecto desta associação que conta actualmente com cerca de uma dúzia de voluntários. Com raiz no Grande Porto, a Escola pretende estender-se a todo o país, consoante as necessidades assim o justifiquem. “A Escola é a materialização de um projecto desenhado há já alguns anos e surgiu da constatação da necessidade de capacitar os agentes da solidariedade em Portugal, especificamente na área do voluntariado”, explica Sónia Fernandes, presidente da associação.

Para a antropóloga com vasta experiência em voluntariado nacional e internacional, a boa vontade não basta e “é necessário agir com qualidade e competência”. Os fundadores e dinamizadores da Escola são elementos com experiência e capacitação na área, provenientes de universos complementares, nomeadamente no âmbito do voluntariado, cooperação internacional, saúde, economia, gestão, formação profissional, artes, entre outros. Segundo Sónia Fernandes “acumulam-se e consubstanciam-se saberes e experiências dos sectores governamental, não governamental e empresarial, fazendo da nossa Escola uma pioneira na oferta de serviços de capacitação e consultoria na área do voluntariado em assuntos específicos, como a gestão do voluntariado e, ao mesmo tempo, em assuntos generalistas que absorvem os voluntários e profissionais da área como a preparação para o trabalho no terreno, tanto a nível nacional como internacional”.

Para a responsável existem muitas pessoas em Portugal que querem ser voluntários, mas que passam por experiências que as “desencantam e faz com que desistam”. “Isso explica-se pela fraca capacidade de retenção de voluntários nas instituições, porque não conhecem as técnicas de manter voluntários motivados”. Devido a isso, Sónia Fernandes considera que grande parte do trabalho está na formação das organizações que acolhem voluntários, para que saibam filtrar e manter os voluntários activos. “Em Portugal não temos ainda consciência que o voluntário é um recurso humano e que tem que ser gerido como tal, atendendo aos aspectos específicos que possui. É comum, por exemplo, existir nos voluntários um excesso de motivação e é preciso ter competências para gerir e canalizar da melhor forma possível essa motivação”.
A antropóloga crê que em Portugal se pratica bom voluntariado, mas de “forma empírica”. “O voluntariado, o profissionalismo e o compromisso são palavras que casam. Se eu decidi dar uma hora por semana do meu tempo a uma causa, seja ela de ordem social, cultural, ambiental, ou outra, tenho que cumprir e são essas noções que falta interiorizar e perceber”. A dirigente diz ainda que falta reconhecer o papel do voluntário e fomentar condições na sociedade que propiciem o voluntariado. “Dou-vos um exemplo pessoal, eu fui chamada pelas Nações Unidas para uma missão numa situação urgente em que tive que partir de um dia para o outro e não pude tratar do meu IRS. Quando cheguei, expliquei a situação, mas tive que pagar uma multa, pois não existem quaisquer mecanismos legais que enquadrem essas situações”, exemplifica.

Actualmente a Escola oferece três cursos diferentes, considerados pelos responsáveis como os mais “emergentes” na sociedade portuguesa para satisfazer as necessidades do sector. O curso de Gestão de Voluntariado, destinado a capacitar os técnicos das organizações para a elaboração e gestão de programas de voluntariado, com uma duração de 40 horas. Um curso preparatório para o voluntariado internacional, vocacionado para pessoas que pretendam vir a fazer missões no estrangeiro e por fim um curso de iniciação ao voluntariado, destinado à população em geral que aspira ou já pratica o voluntariado e que confere noções básicas sobre a prática voluntária e o trabalho em equipa sem fins remuneratórios.

Sónia Fernandes é a principal mentora dos cursos, sendo que grande parte da estrutura curricular foi elaborada tendo por base a sua experiência no terreno. “Por exemplo, no que se refere ao voluntariado internacional, as pessoas não são preparadas para ir em missão e mesmo aquelas organizações que dão alguma preparação, esta é ainda muito deficitária”, refere. Ainda assim, a antropóloga elege as organizações religiosas como aquelas que melhor preparam os voluntários internacionais, embora os aspectos privilegiados, segundo ela, sejam os da fé e da dádiva ao outro e menos as questões práticas. “São organizações que, muitas vezes, têm recursos logísticos nos países de missão para receber os voluntários, que assim vão estar mais protegidos, o que é menos frequente em organizações não governamentais. Para Sónia Fernandes, que já participou em várias missões voluntárias pelo mundo, ao serviço da ONU, da Comissão Europeia e da ONGD “Médicos do Mundo”, “não existe qualquer preparação e as pessoas são abandonadas nos locais”. “As pessoas que estão nas organizações, muitas delas nunca tiveram uma experiência internacional, logo não existe o reconhecimento da necessidade de preparar as pessoas”, diz. A responsável explica que no curso falam de coisas tão básicas como preparar uma mala de viagem, segundo o país de destino e a natureza da missão. As questões culturais, como o código de vestuário, o papel da mulher e do homem, a língua são outras das temáticas do curso. “Em missão há a necessidade de ter a capacidade de nos ajustarmos ao que vai acontecendo, superar as dificuldades fisicamente e mentalmente, cumprir o tempo do descanso”. Sónia vai mais longe e fala mesmo em “sobreviver em missão, pois as provas pelas quais as pessoas passam são muito elevadas”.

Todos os cursos estão divididos em módulos que podem ser leccionados consoante as necessidades dos formandos ou das organizações e com um custo variável consoante o número de módulos. “Os cursos são abertos consoante a procura e como a nossa associação ainda é muito jovem, para já são cursos pagos, de forma a podermos suportar os custos com os formadores e material de formação. A médio/longo prazo, a nossa ideia é criar bolsas de formação para atribuir a pessoas que queiram frequentar os nossos cursos, mas que não tenham recursos disponíveis para o fazer”, explica a presidente da Pista Mágica. A Escola vai ao encontro das organizações, desde que esteja reunido o número de formandos suficientes para justificar a deslocação.

Outro dos objectivos da associação é o de adquirir o estatuto de ONGD, para poder trabalhar em parceria e concorrer a fundos apenas disponíveis para organizações do género. “No futuro, queremos também constituir um espaço com recursos didácticos em voluntariado, porque em Portugal praticamente não existe literatura sobre o assunto. Vamos trazer bibliografia de outros países e torná-la acessível à comunidade nesse centro de recursos”.

A associação pretende ela própria tornar-se num “exemplo de excelência da prática voluntária”, segundo a dirigente. “Queremos utilizar os recursos para ajudar a dinamizar os recursos da comunidade e exemplo disso foi a campanha de angariação de livros para um colégio em Angola com mais de mil crianças, cuja adesão superou em muito todas as nossas expectativas e que permitiu que para além do objectivo principal os destinatários pudessem montar uma biblioteca itinerante”. Actualmente, a associação está a levar a cabo uma campanha de angariação de fundos para ajudar um doente cubano que sofre de um tipo de cancro muito raro e que necessita de tratamento que não pode ser dado em Cuba. “O IPO do Porto dispõe da tecnologia necessária para o tratamento deste caso e já se dispôs a fazê-lo sem quaisquer encargos, estamos a angariar fundos para as viagens e respectivos vistos”, explica Sónia Fernandes.

No entanto, a responsável adverte para o facto do trabalho voluntário ter alguma compensação monetária inerente aos gastos decorrentes da própria actividade e que, segundo ela, não deve ser entendida como remuneratória. “A ONU, por exemplo, dá um valor monetário aos voluntários, que, muitas vezes, deslocam-se por períodos longos para fora do seu país e que no país de missão têm que pagar renda, alimentação, etc. Não pode ser entendido como uma remuneração pelo trabalho, mas sim ajudas de custos”.
Durante este mês, Sónia Fernandes vai lançar um livro sobre o tema, com o título “Sobreviver em missão” e que contou com o apoio da fundação Calouste Gulbenkian. A obra pretende orientar os voluntários para missões internacionais e assenta na experiência da autora. “Acredito que não existem manuais para a vida, mas dada a escassez de suportes de ajuda para os voluntários, resolvi, com base na minha experiência, dar algumas dicas para essa preparação”, explica. “Toda a gente que trabalha nesta área está muito desamparada e muitas vezes questões tão importantes como as da segurança são ignoradas, o que pode até por em risco a vida do voluntário”.

 

Data de introdução: 2009-05-05



















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