ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DA MOCIDADE, SETÚBAL

Uma escola para a vida

Congénere da internacional YMCA, “Young Man Christian Association”, a Associação Cristã da Mocidade de Setúbal nasceu em 1975 e faz parte do Movimento Acemista português formado por cerca de uma dezena de instituições. O Movimento existe em mais de 150 países e possui mais de 45 milhões de associados espalhados por todo o mundo, com forte incidência nos países nórdicos europeus.

Este Movimento surgiu em Junho de 1844, em plena Revolução Industrial, quando o jovem inglês, George Williams, trabalhador na área do comércio, decidiu criar a “Associação Cristã de Rapazes”. Nessa altura, existiam em Londres cerca de 150 mil jovens empregados do comércio, de escritório e da Banca, e outros milhares ligados a outros ofícios que sentiam necessidade de desporto e lazer.

Todavia, grande parte dessa juventude vivia nas casas comerciais onde trabalhavam. Entre as sete e as nove horas da manhã iniciavam um trabalho que tendia a terminar por volta das dez ou onze da noite. Chegavam mesmo a acabar as tarefas diárias à meia-noite e a recomeçar o trabalho do dia seguinte às seis da manhã. A alimentação e os alojamentos eram precários e os patrões proibiam a frequência de actos religiosos.
Perante este cenário, George Williams avançou com o seu projecto de constituir uma associação, cujas bases assentassem nos valores da Bíblia e na revelação de Cristo, valores esses que, segundo ele, justificavam uma luta em prol dos jovens e da sua dignidade humana.

O Movimento foi crescendo e dispersou-se por vários países. Em 1985 chega a Portugal, à cidade do Porto, através de ingleses exportadores de vinho do Porto. Segundo os dados da ACM, foi este movimento o responsável pela introdução de diversos desportos no nosso país como, por exemplo, o Basquetebol, o Voleibol ou o Ténis-de-Mesa. As diversas associações estão ligadas em alianças nacionais e internacionais, consoante a localização no globo e cada uma adapta o seu projecto de intervenção, segundo a realidade onde está envolvida, tendo sempre presentes as linhas estruturais que regem e dão corpo ao Movimento.
Embora exista um carácter global e internacional do movimento e uma matriz de acção de base, a intervenção no terreno é diferente e adequada a cada realidade. Em Setúbal, apesar da fundação remontar a 1975, o trabalho começou uma década depois, com a participação nas comemorações do Ano Internacional da Juventude que se celebrava nessa data. Enquanto instituição responsável pela organização, a ACM legaliza-se como IPSS e em 1986 começa a desenvolver um projecto de intervenção no bairro da Bela Vista. “Iniciámos o trabalho na Bela Vista com um projecto chamado “Oficinas Abertas”, através da valência de centro comunitário. As pessoas recebiam formação e mais tarde eram convidadas a sustentar o seu próprio negócio e tivemos casos de pessoas que se estabeleceram por conta própria”, explica Luís Sebastião, secretário-geral da ACM/Setúbal.

A instituição foi crescendo e disseminando as actividades consoante as necessidades envolventes, abrindo as valências de creche, jardim-de-infância, ATL para jovens, bem como a academia desportiva e programas de formação e aprendizagem. Actualmente, a actividade da ACM dispersa-se por cinco equipamentos diferentes, abrangendo aproximadamente 2500 utentes. Com um projecto social metaforicamente assente num triângulo, a associação pretende intervir em três dimensões distintas da pessoa humana, embora relacionadas entre si: física, intelectual e emocional.

O Centro Urbano da Bela Vista trabalha essencialmente a dimensão física. Inaugurado em 1999, alberga uma academia desportiva aberta à comunidade. O bar está também pensado para desempenhar uma função de aproximação com os moradores da Bela Vista. “Os centros urbanos, tal como as ACM os entendem, têm uma função de captação de pessoas e o bar acaba por ser uma porta de entrada no edifício e por conseguinte na instituição. Para isso, fizemos sempre um esforço para que a exploração do mesmo estivesse sempre a cargo de alguém do bairro”, refere Luís Sebastião. O responsável acrescenta que a academia desportiva trás também muita gente de fora ao bairro. “Foi preciso muito tempo para conseguir para abrir as portas às pessoas de fora do bairro, mas causa um efeito muito positivo dentro do bairro e nunca tivemos problemas relevantes”, afirma.

A própria existência no bairro da Bela Vista, onde vivem aproximadamente quatro mil pessoas de diversas comunidades, tem sido, segundo o dirigente, pacífica e muito respeitada de ambas as partes. “O projecto da ACM não é na linha do existencialismo, ou seja, nós procuramos centrar a nossa acção não no problema, mas sim nas causas. Isto significa que trabalhamos as pessoas, e talvez por isso, a nossa relação com o bairro é boa, é uma relação de respeito. Trabalho aqui há nove anos, já sai a qualquer hora da noite e nunca tive medo, aliás nem eu nem os nossos utentes”.
Em 2005, a instituição foi convidada pela Segurança Social para coordenar 60 processos de Rendimento Social de Inserção (RSI), e que em 2007 foi alargado para 275 famílias, o que corresponde a mais de mil pessoas.

O Parque Ambiental do Alambre é o mais recente projecto da instituição. Inaugurado em Março deste ano, numa parceria público-privada, o equipamento completa mais um vértice do triângulo que “norteia” o caminho da ACM. “É um Centro de Campo, ou seja, um espaço que por princípio se situa relativamente distante dos centros urbanos e onde se procura trabalhar com os jovens o seu projecto de vida, retirando-os do contexto do quotidiano, de modo a que possa haver um corte com as rotinas, com as dependências”, explica Luís Sebastião. As actividades desenvolvidas no Campo estão organizadas segundo três eixos: físico, intelectual e emocional. A ideia é alterar comportamentos com a ajuda dessas actividades. “Os jovens podem ser utentes de alguma das nossas valências ou podem vir enviados pelas escolas, como já tem acontecido”, explica o responsável que acrescenta que o Centro de Campo não se destina a jovens problemáticos, mas sim a toda a juventude. Luís Sebastião frisa que a ACM é um movimento social e de juventude, ou seja, às questões ligadas à juventude.

A instituição foi também a entidade convidada pela autarquia setubalense para coordenar um projecto inserido nos contratos locais de desenvolvimento, destinado à juventude. Destinado ao bairro da Bela Vista, o projecto assenta em dois eixos fundamentais: inserção social e profissional. Composto por 15 acções que vão desde a promoção do sucesso escolar até à formação de competências básicas, tem duração prevista de três anos e já está a ser executado. “Acredito que é preciso ousar mais na oferta da intervenção social, principalmente na mobilização das pessoas para as iniciativas. Há aqui um campo que tem que ser explorado”, diz o secretário-geral da ACM/Setúbal.

Para o futuro e na tentativa de preencher o último vértice do triângulo, a instituição pretende avançar com a construção da escola “Oficina Aberta”, um projecto já antigo e que servirá meio milhar de estudantes. “As Oficinas Abertas são a oportunidade de preparar os jovens para a vida. É uma escola de artes em que a promoção da cidadania será a competência com maior transversalidade e mais estruturante do projecto. É uma escola que não forma exclusivamente para o trabalho, mas sim para a vida”, adianta o dirigente. O projecto está orçado em 3,6 milhões de euros e já foi submetido a apreciação no âmbito do QREN. Assenta num conjunto de parcerias formais com entidades da cidade e do bairro e está classificado como projecto de interesse municipal.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2009-07-12



















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