Começa a ser recorrente, nos tempos que vivemos, falar em Crise!
E elas são mais que muitas, umas mais preocupantes que as outras. Podem ser analisadas de vários ângulos.
Pessoalmente, enquanto promotor social e, muito especialmente, através desta página do SOLIDARIEDADE, o que mais me preocupa nas Crises é a sua dimensão humana e social, deixando que outros, mais tecnocratas, as abordem do ponto de vista técnico!
Há ainda a faceta perigosa e manhosa do tratamento estatístico, ângulo através do qual é possível fazer dizer aos números uma coisa e o seu contrário. Nesta é que julgo mesmo muito necessário estar de olho aberto para não “manipular” problemas e pessoas!
Estaremos facilmente de acordo em considerar o desemprego como uma gravíssima expressão da Crise, dada a dimensão humana e social que o desemprego significa na vida de cada pessoa e de cada família, afectando, em cadeia, outras muitas dimensões do nosso viver de cidadania e democracia.
E o desemprego está a níveis preocupantes: ultrapassar a barreira dos 500 mil desempregados tem sido motivo para se accionar o toque do alarme social (e com razão).
Porém…há desemprego e desemprego!
Há o desemprego de quem, muitas vezes, de forma abrupta e sem explicações, apesar de se considerar um trabalhador cumpridor e profissionalmente capaz, se vê no olho da rua de uma empresa/instituição que dá lucros, gera receitas e, apesar disso, prefere encerrar e despedir o pessoal. Aqui custa compreender este desemprego e ao Estado compete dar a mão a quem assim se vê privado de ganhar honestamente o seu pão!
Há também o desemprego de quem, apesar de conhecer as dificuldades com que se defrontam certas empresas/instituições, nada faz para dar uma contribuição adicional para a defesa dos postos de trabalho, preferindo mesmo ser despedido, receber indemnizações e dar entrada no fundo de desemprego. Também os há!
Depois, como é comum dizer-se, há quem efectivamente busque não um trabalho para ganhar honestamente o seu pão, mas sim um emprego por conta de outrem (ter patrão), “estando-se nas tintas”para os problemas com que a empresa ou o patrão se vão confrontando em face da situação económica e financeira que está a abalar o mundo!
Também não faltam patrões que, a troco de baixos salários a gente que honestamente produz riqueza para as suas empresas/instituições, exploram trabalhadores que se julgam com direito a ver compensado o seu trabalho!
Seja qual for o resultado do debate que começa a fazer-se na sociedade portuguesa à volta das causas e consequências do desemprego que já há e do que irá crescer ainda mais no futuro (oxalá a gente se engane!), uma conclusão poderá já antecipar-se: cada vez mais será cada vez menos provável criar empregos por conta d’outrem (a menos que esse outrem seja o Estado)!
Não terá chegado a altura de as chamadas “políticas activas de emprego” alterarem profundamente as suas filosofias de pensar o trabalho e o emprego por conta própria (o auto-emprego), centrando na pessoa que quer trabalhar os apoios do Estado, evitando a continuação de políticas que obrigam sempre a contratar pessoas por contra d’outrem (sempre o patrãozinho), alimentando assim uma certa forma de subsidiodependência encapotada, distribuindo incentivos financeiros a quem dá trabalho e a quem aceita ser contratado “a prazo”?
Cruzei-me recentemente, na internet, com um trabalho intitulado: “auto-emprego, participação e inclusão social”. Li, imprimi e recomendo a sua leitura!
Por Pe. José Maia
Data de introdução: 2009-09-13