ASSOCIAÇÃO FAMILIAR VIMARANENSE

Fazer da morte uma forma de vida

A História…

No século XIX apesar das convulsões políticas, económicas e sociais, registou-se um aumento demográfico que se deveu sobretudo à diminuição da mortalidade, à melhoria da alimentação, aos avanços na medicina e ao desenvolvimento de hábitos de higiene. Guimarães acompanhou o resto do país e o desenvolvimento também chegou à cidade com a abertura de novas avenidas, a chegada do comboio e a melhoria das condições de saneamento básico da cidade.
O progresso e desenvolvimento industrial e comercial conduziram ao aumento da mão-de-obra e ao aparecimento de uma classe operária, que foi sobrevivendo com muitas dificuldades, pois o trabalho nas fábricas era muito duro e os horários muito longos. A alimentação era escassa e deficiente e as habitações tinham condições degradantes, o que levou ao desenvolvimento de doenças como a tuberculose, a pneumonia e o raquitismo. Alastraram-se também os problemas sociais, como o alcoolismo, a prostituição e a mendicidade.

O alto índice de mortalidade, especialmente o materno-infantil tornou-se uma verdadeira praga da época, e os mais necessitados eram obrigados a recorrer a peditórios “porta a porta” para poderem realizar os funerais dos seus familiares.
Enquanto isto, a burguesia enriquecia, o que levou ao aparecimento de um sentimento de revolta e de agitação social, que conduziu a frequentes reivindicações por melhores condições de trabalho e aumento de salários. A situação política em Portugal estava em tumulto, com a decadência da monarquia e o avanço da república, situação que culminou em 1908 com o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe.
O sucesso das ideias liberais trouxe uma nova forma de auxílio social, com destaque para a criação de mutualidades. Tratava-se de associações de solidariedade social laicas, criadas com o objectivo de ajudarem os seus membros a protegerem-se mutuamente na adversidade (doença, morte). Procuravam apoiar os operários que se encontravam muito desamparados, tratando do funeral e concedendo um subsídio de luto, obtido através da acumulação das quotas mensais dos sócios.

Nasceu assim, a “Associação Fúnebre Familiar Operária Vimaranense”, que teve a sua primeira reunião a 26 de Julho de 1908, na extinta sede da “Associação dos Operários de Calçado”. Referindo-se às origens da associação, o semanário vimaranense “O Regenerador” informou que, a 19 de Julho de 1908, um modesto operário, Martinho Augusto Passos, pensou em fundar esta associação. O mesmo periódico referia que, sendo pouco conhecida, esta associação tinha grandes dificuldades porque os operários de Guimarães desconheciam as vantagens do princípio associativo. O jornal terminava a notícia, lembrando aos operários as vantagens da inscrição como sócios.
A associação foi crescendo em número de sócios e diversificando serviços. Para além da assistência na morte com a atribuição de um subsídio e serviço de armador, passou a dispor de assistência médica e de enfermagem. *

* Escrito com base na obra “Associação Familiar Vimaranense - Um século de Mutualismo” (Julho 2009)

Dar assistência, nos dias de hoje…

Hoje, com cerca de 19 mil associados, a instituição de solidariedade social pretende dar respostas concretas e adequadas às necessidades actuais da população.
A vertente de apoio na morte, ainda se mantém fiel ao espírito da fundação, “não podendo ser considerada como concorrente comercial, como aliás já foi acusada”, sublinha o actual presidente da direcção, Domingos Sousa. A assistência médica e de enfermagem passou a ser uma das grandes apostas da associação. Com cinco médicos clínicos gerais e gabinete de enfermagem, associados aos serviços protocolados com entidades de saúde externas nas mais diversas especialidades médicas, a instituição oferece um sistema complementar de saúde aos sócios. “Oferecemos aos nossos associados uma prestação de serviços de nível familiar que se podem comparar com os serviços similares, tanto a nível de qualidade como de capacidade. Em termos de assistência médica, temos protocolos particulares com cerca de 100 médicos de especialidades diversas, a preços económicos”, explica o dirigente.

Para melhorar o serviço de enfermagem, a instituição contratou uma empresa externa, o que possibilitou a criação dos serviços de medição de colesterol e diabetes, bem como a possibilidade de serem realizados electrocardiogramas nas instalações da associação”.
Mas a vontade de ir mais longe mantém-se entre a equipa dirigente. “Gostávamos de criar uma farmácia social, bem como um lar de idosos”, revela o presidente. Possibilitar aos sócios serviços de transporte de doentes, com ambulâncias devidamente equipadas e apoio domiciliário, que segundo, Domingos Sousa, é uma grande carência do tecido histórico da cidade, são também metas a alcançar.


O negócio da morte

Um negócio que não entra em crise por falta de “clientes”, mas que sente a crise devido às dificuldades em receber.
O trabalho do agente funerário começa normalmente com um telefonema. Depois disso, o familiar dirige-se ao escritório ou é a própria agência que se desloca a casa para tratar dos procedimentos habituais. O atendimento tende a ser cada vez mais personalizado e profissional, como defende a Associação de Agentes Funerários de Portugal.
Enquanto que antigamente, a quase totalidade dos funerais realizavam-se em casa, em que o armador decorava a casa para o funeral, hoje cada vez menos isso acontece.
Depois da entrega da documentação necessária, a agência funerária desloca-se a casa ou ao hospital, consoante as situações, para vestir e tratar do corpo, transportando-o de seguida para a capela ou para a residência.

O tratamento do corpo varia consoante o diagnóstico do óbito. A própria urna tem que ser preparada para determinada situação. É da responsabilidade da agência funerária a divulgação do óbito num jornal, a decoração (flores, velas, panos, carpetes, etc.), o pagamento à Junta de Freguesia e à Igreja e o transporte. Todo este processo implica custos. O pagamento deve ser feito, de preferência, de imediato, isto é, a partir da missa do sétimo dia. Contudo, nem sempre é possível, recorrendo-se ao serviço a prestação. A urna é o factor que mais pesa no custo final de um serviço fúnebre. O preço varia consoante a qualidade das madeiras, o estofo e a apresentação. Pode ir dos 500 euros aos 1800, sem extravagâncias fora do comum. Nos últimos dez anos, a opção pela cremação tem crescido. Nestes casos, algumas pessoas preferem que os recipientes das cinzas sejam colocados em ossários, jazigos, entre outras opções.
Ao contrário do que se pensa, a urna para cremação não é a mais barata. Aliás, deve ser especial e própria para o efeito. O preço ronda os 900 a 1000 euros.
No total, o custo de um serviço fúnebre normal, sem incluir o anúncio no jornal e outras despesas supérfluas, vai dos 1100, 1200 euros aos 2200.

“O serviço de armador de uma mutualidade é apenas e só para sócios, por isso não somos concorrentes de uma agência funerária comercial. Evitamos a especulação dos preços e nenhum associado fica sem funeral, independentemente do que possa pagar. O nosso subsídio de luto (cerca de 300 euros, em média) é o mínimo para que se possa realizar um funeral com toda a dignidade”, explica o presidente da Associação Familiar Vimaranense, que já esteve envolvida em processos judicias devido à actividade funerária e, segundo Domingos Sousa, devido à falta de regulamentação no sector.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2009-10-20



















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