Em pouco mais de dois anos quase quatro mil portugueses sentiram que precisavam de uma arma de defesa pessoal. A insegurança é transversal à sociedade, a avaliar por uma análise da PSP sobre os requerimentos que recebeu, segundo as profissões dos candidatos. Os comerciantes lideram a tabela. A nova lei é muito mais exigente na emissão de licenças.
Quase quatro mil portugueses estão a aguardar licença de uso e porte de arma de defesa pessoal. Os requerimentos - 3774 para ser exacto - vêm de praticamente todos os sectores profissionais. Uma análise feita pela PSP em exclusivo para o DN mostra, no entanto, que são os comerciantes a liderar a tabela.
As estatísticas disponíveis não permitem saber com rigor se o aumento da criminalidade fez disparar os pedidos de armas, pois só desde o ano passado, com o arranque do novo Sistema de Informação e Gestão de Armas e Explosivos (SIGAE) da PSP, os processos estão centralizados e permitirão fazer análises comparativas de dados.
De qualquer forma, o Observatório Permanente sobre a Produção, o Comércio e a Proliferação de Armas Ligeiras espera que a a PSP indefira a maioria das solicitações.
Segundo números oficiais desta força de segurança - autoridade que tem a competência exclusiva deste licenciamento - existem em Portugal 29 mil licenças atribuídas para porte de arma de defesa. Desde 2006, ano de publicação da nova lei das armas, que não são emitidas licenças. A legislação passou a obrigar os candidatos a frequentarem um curso de formação (ver texto em baixo) que só este mês vai começar. Os 3774 pedidos deram entrada, pois, nos últimos dois anos.
De acordo com a PSP, "as profissões que poderão facilitar o acesso a arma de fogo são aquelas que pela sua natureza têm mais risco" e que "na emissão de licenças é verificada a profissão, como justificativa da pretensão" de uso da arma.
Vasco Melo, da União dos Comerciantes de Lisboa, não fica surpreendido por serem estes profissionais a liderar a tabela. "Se as forças de segurança e as autoridades públicas tivessem meios para impedir os assaltos, provavelmente as pessoas não se armavam", assevera, "o que querem que os comerciantes façam? Que fiquem de braços cruzados à espera que os assaltem e matem?"
O dirigente associativo dos taxistas "desconhecia" que estes profissionais fossem dos que mais procuram armas de defesa, mas não se surpreende. "Sendo a nossa uma profissão de alto risco é compreensível que nos seja facilitada a atribuição de armas pessoais", declara Florêncio Almeida, da ANTRAL.
Quem fica estupefacto é Mário Jorge Neves, da Federação Nacional dos Médicos, profissão em 5.º lugar na lista de espera para a obtenção de licen-ça. "Talvez se tratem de casos de médicos que trabalham em zonas mais iso- ladas no interior, ou nas cidades à noite, que se possam sentir mais inseguros", sugere o dirigente sindical.
A lista das profissões, extensa e variada, mostra que a insegurança é transversal a toda a sociedade.
Fonte: Diário de Notícias
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