ASSOCIAÇÃO BEM ESTAR DE PARCEIROS, LEIRIA

Instituição quer consolidar o trabalho e manter níveis de qualidade

Situada na malha urbana da cidade de Leiria, está a freguesia de Parceiros, com cerca de 3300 habitantes. Na década de 90 as respostas sociais praticamente não existiam, com destaque para as necessidades sentidas no âmbito da terceira idade. Assim, emerge a vontade de criar uma instituição que pudesse responder aos desafios impostos na altura e surge a Associação Bem Estar de Parceiros (ABEP) em 1993. “A ABEP era uma carência grande, sentida na freguesia, e um grupo de pessoas começou a desenvolver um trabalho na área do apoio domiciliário, em instalações cedidas pela paróquia”, explica Gonçalo Ribeiro, director de serviços da instituição.

Durante mais de uma década o apoio domiciliário foi a única valência, até porque o espaço não permitia avançar com outros serviços, mas as necessidades locais impunham um crescimento à ABEP. Em 2007, a associação muda-se para instalações próprias, num edifício de construído de raiz, pensado para acolher diversas respostas sociais. A obra custou perto de 2 milhões de euros, 500 mil ao abrigo do PIDDAC e o resto do montante com recurso a crédito à banca. “Houve necessidade de contrair vários empréstimos que estão a decorrer e que acabam por ser um entrave a diversos projectos que gostaríamos de ver implementados”, diz o director de serviços.

Com as novas instalações prontas, entra em funcionamento a creche, actualmente com 33 crianças e que desde a abertura está sempre lotada. Nesse mesmo ano, nasce também o Centro de Dia para uma dezena de utentes e entra em funcionamento a cozinha e a lavandaria. A cozinha ganha uma dimensão industrial, já que a instituição passa também a confeccionar as refeições para as escolas da freguesia, num total de 450 refeições diárias. Um ano depois, em 2008, é inaugurado o lar, com capacidade para 35 pessoas e que ficou logo cheio.

“A necessidade do jardim e do pré-escolar surgiu muito por vontade dos pais, que manifestavam descontentamento por terem de retirar os filhos da ABEP após concluírem a creche”. Gonçalo Ribeiro explica que o investimento de 136 mil euros no pré-escolar foi totalmente suportado pela associação, apesar do incentivo da Direcção Regional de Educação do Centro e da Segurança Social. A valência abriu em 2009 e tem capacidade para 50 crianças.

Outra das características que o responsável gosta de acentuar é o facto de não existir qualquer separação das valências. “Os utentes de lar e de centro de dia gravitam pelos mesmos espaços e temos também os do apoio domiciliário que, por vezes, passam por cá para beber um café ou até ficar cá durante o dia”, refere. A interacção geracional é também encarada como uma mais-valia e usada inclusive com fins terapêuticos. “Quando temos utentes com um estado mental de maior agitação, mais confusos, temos tido muito bons resultados em levar esses idosos ao contacto com as crianças, porque acabam por acalmar e nem é necessário recorrer a medicação”.

O dia-a-dia faz-se, no caso da terceira idade, entre a prestação dos cuidados básicos de saúde, alimentação e higiene, com o desenvolvimento de actividades de estímulo físico, mental e relacional. Acompanhados por duas animadoras, os utentes têm acesso a ginástica duas vezes por semana, a uma sala de trabalhos manuais ou a aulas de alfabetização. “Temos senhoras que ainda fazem o seu tricô, os seus bordados, pelo que conseguimos, quando estamos a representar a instituição no exterior, levar trabalhos feitos pelos utentes”, diz Gonçalo Ribeiro. “Quando faz bom tempo, a partir da Primavera, temos sempre as nossas duas carrinhas a sair para teatros, exposições ou para convívios com outras IPSS, por exemplo, torneios de cartas ou de dominós”. Contudo, o director salienta que o segredo está em não impor horários e ritmos aos utentes idosos. “Cada utente é muito individual na sua forma de encarar as coisas e nós já conhecemos um bocadinho os hábitos das pessoas e já sabemos que aquele determinado utente gosta de dormir a sesta depois do almoço e não o vamos contrariar”, explica. “O nosso papel é incentivar, dentro das limitações de cada um, à participação nas actividades”. Mesmo as pessoas com mais dependência ou mais limitações são sempre alvo de estímulos, de forma a contrariar o sentimento de isolamento.

A relação familiar é potenciada e a ABEP mantém as portas abertas a visitas quase todo o dia. “Temos situações de idosos que quando entram têm visitas semanalmente, depois passam a ter mensalmente e chega a uma altura que deixam de ter visitas, muitas vezes, nem no Natal”, lamenta o técnico. As relações familiares difíceis são alvo de um cuidado especial pelos técnicos da instituição, porque, segundo Gonçalo Ribeiro, são idosos que procuram o isolamento. “O facto de sermos uma equipa técnica alargada, com psicólogos, assistente social, enfermeiros, permite-nos um aprofundamento nas situações dramáticas de cada família. Mantemos a família a par do que se passa, tentamos perceber os motivos de períodos de ausência, até porque os idosos monitorizam muito facilmente essa situação e têm muita tendência em estabelecer comparações”. O técnico diz que não é possível trabalhar a qualidade de vida das pessoas se os idosos tiverem uma necessidade básica por preencher: o relacionamento com a família. “Por mais actividades que se possam desenvolver, por mais cuidados de higiene e conforto que se possam dar, essa carência é uma barreira muito difícil de ultrapassar”.

Com 5 valências, 60 colaboradores e mais de 150 utentes, a instituição continua a alargar serviços, sendo o mais recente a extensão do apoio domiciliário ao sábado. A equipa de rua passou a contar com a presença, alternadamente da psicóloga, da assistente social e da enfermeira para que a ajuda seja mais técnica e se detectem situações de isolamento mais facilmente. Outra das políticas de funcionamento da casa é não negar a entrada a utentes para centro de dia e apoio domiciliário, mesmo que estejam fora dos acordos de cooperação. “Enquanto no lar há um cumprimento mais exacto do número de utentes, em centro de dia e apoio domiciliário, mesmo que não tenhamos comparticipação, não é por isso que a porta se fecha, logo não temos lista de espera nessas valências”, explica o director de serviços.

As dívidas à banca têm dificultado a implementação de novos projectos, mesmo assim, o presidente da instituição, Diamantino Pedro, considera que as contas estão equilibradas devido a uma “gestão rigorosa”. Um dos objectivos traçados pela actual direcção é reduzir os custos de funcionamento a curto prazo. Para tal, a ABEP vai proceder à instalação, ainda este mês de Fevereiro, de painéis solares. A conclusão das obras do jardim exterior é outra das metas a atingir a curto prazo. “Estamos a construir um jardim de 160 m2, uma carência de há muito, mas que não foi contemplada no projecto inicial, jardim esse que vai ficar na frente do edifício e vai permitir que os nossos idosos e crianças possam estar mais em contacto com a natureza”, explica o presidente.

Gonçalo Ribeiro refere também a necessidade de consolidação do trabalho em cada valência, de modo a “manter a qualidade do serviço”. O técnico diz ainda que a ABEP pretende avançar para a certificação, mas que as despesas inerentes ao processo têm adiado essa decisão. “A ABEP é uma instituição sempre disponível para mostrar a casa, construída para a comunidade”. O responsável salienta o esforço diário de toda a equipa e garante que a associação está cada vez mais enraizada na vida da comunidade de Parceiros. Exemplo disso foi a última festa de Natal que conseguiu reunir mais de 300 pessoas.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2010-02-13



















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