Solidariedade - A maior parte das IPSS do distrito estão já filiadas na União?
Virgílio Ardérius - Ultrapassa os 50%. Temos, neste momento, 116 instituições filiadas. Há muitas não filiadas, talvez porque não sentiram ainda a necessidade de aderirem. Cumpre-
-nos a nós, e à CNIS, fazer-lhes ver que há interesse em procederem à sua filiação.
Solidariedade - De que modo acha que a CNIS pode ajudar?
Virgílio Ardérius - Em minha opinião, torna-se urgente clarificar - quem faz ou deve fazer o quê? É que a CNIS continua a desempenhar a mesma tarefa que tinha antes a União, isto é, envia a informação directamente a todas as instituições. Logo, e por via disso, as instituições não sentem muito a necessidade da União Distrital. Se recebem a informação directamente da CNIS, sentem menos necessidade de recorrerem à União do seu distrito ou região. É um assunto que pretendo levar à próxima reunião, isto porque, em meu entender, interessa delimitar bem os campos de acção, é bom para todos que assim se faça.
Por outro lado, é necessário também encontrar uma dinâmica diferente da CNIS com as Uniões distritais. Eu creio que falta essa dinâmica, essa interacção. Sem ela ficamos um bocado espartilhados e menos coesos. A direcção da CNIS tem que encontrar formas para ultrapassar este problema, que é mais sentido por aquelas UDIPSS que não pertencem à direcção da CNIS. Uma hipótese passa por alterações estatutárias, integrando todas as UDIPSS na direcção da CNIS. Outra possibilidade passará por instituir reuniões periódicas entre a CNIS e as UDIPSS.
FALTAM LARES NAS ZONAS MAIS POPULOSAS
Solidariedade - O distrito regista uma cobertura harmoniosa de IPSS, ou nota alguns défices?
Virgílio Ardérius - Penso que não existem défices. É um dos distritos mais envelhecidos do país, razão para aqui encontrarmos lares e centros de dia com alguma profusão. Em meu entender, a implantação destas unidades deveria passar por uma planificação, apoiando-se os centros de maior importância.
A profusão pode não significar qualidade porque, depois, algumas das estruturas não têm capacidade para contratar técnicos qualificados.
No que reporta à terceira idade, a falta de lares e de centros de dia faz-
-se sentir com maior acuidade nas zonas mais populosas. Quanto à infância, direi que a cobertura é razoável. Penso que há ATL’s em número suficiente, embora o apoio estatal não responda a todas as necessidades.
Solidariedade - Em que vertentes as IPSS mais solicitam os serviços da União a que preside?
Virgílio Ardérius - As questões mais recorrentes têm, via de regra, a ver com os salários, são questões salariais, ou conflitos de índole laboral.
Solidariedade - Nota renovação nos quadros directivos das instituições de solidariedade social do distrito?
Virgílio Ardérius - A rotatividade, bem como a renovação dos quadros é deficiente. A grande maioria dos quadros pertence ao que chamamos terceira idade. Por várias razões, também pelo facto de não se encontrar grande disponibilidade por parte dos mais jovens. Mais do que pelas direcções, noto que as instituições se têm renovado graças à entrada de técnicos especializados.
São jovens qualificados que podem ajudar à renovação de uma instituição, seja pela persuasão, seja pela convicção, pela evidência das coisas, do que se constata que está mal e interessa, e é possível remediar. Insuflam dinamismo às IPSS.
Solidariedade - O Dr. Virgílio Ardérius lidera um grupo de comunicação social com peso específico na região. Como vê as estratégias de comunicação das IPSS, e a presença destas na internet?
Virgílio Ardérius - Creio que é uma batalha fundamental. Em relação ao grupo a que se referiu, o Terras da Beira já está há muitos anos na rede, fomos dos primeiros a colocar a nossa edição em papel na rede.
No distrito tem havido algum esforço para a implementação da internet nas instituições. A UDIPSS divulgou junto das suas filiadas os passos necessários para que elas integrassem o projecto Clique Solidário. No entanto, apenas seis aderiram.
Foram poucas, deviam ter sido muito mais, apesar de termos já bons exemplos entre as que aderiram. Em Valhelhos, na Covilhã, a ligação é feita via satélite. O Clique Solidário funciona no Centro Social e Paroquial da localidade. E, dentro de pouco tempo, passará a facultar aos interessados formação online, para já com um curso de informática de base. Uma cooperação entre aquela IPSS e o Centro de Formação Assistência de Desenvolvimento.
Posso dar outros bons exemplos, como o da ASTA, uma instituição para deficientes, localizada em Cabreira do Côa, que também aderiu ao Clique Solidário.
Ou o de uma IPSS localizada em Cerdeira do Côa. Nesta última, os idosos conseguem falar regularmente com os seus familiares que se encontram longe, muitos deles vivendo e trabalhando noutros continentes, tudo graças à internet, por possibilitar ligações áudio e vídeo sem custos.
INTERIOR “BOMBARDEADO” COM OFERTAS DE FORMAÇÃO
Solidariedade - Outro sector importante será o da formação...
Virgílio Ardérius - Sem dúvida alguma, trata-se de um sector indispensável. No entanto, noto algo que começa a preocupar-nos. O mesmo público-alvo está a ser objecto de ofertas de informação em demasia. São muitas as empresas e as instituições que aparecem a oferecer formação. Acho que o mercado já está saturado, ou começa a ficar saturado. E digo isto porque as ofertas que surgem se sobrepõem, em muitos dos casos. Empresas de distritos longínquos vêm à Guarda oferecer formação que já é cá prestada por entidades locais, instituições que funcionam há muitos anos, com boas estruturas logísticas, bons recursos humanos e técnicos, instituições que conhecem bem o terreno. E há quem venha ministrar formação acompanhada apenas de um telemóvel. O mais espantoso é o Estado alinhar em tais sobreposições, ao financiar essas acções.
A ideia com que fico é a de que o litoral, as zonas mais desenvolvidas do país já se encontram saturadas. Constatando isso, as empresas resolveram agora descobrir o interior. Nota--se uma grande pressão sobre o interior do país. As instituições estão a ser bombardeadas por pedidos de informação sobre as suas necessidades em formação. Também aqui devia haver um entendimento, uma intervenção da CNIS. Doutra forma, um dia destes o Estado fecha a torneira e acaba-se a formação.
Data de introdução: 2004-10-24