Bandeiras, cartazes e balões deram cor, este sábado, a uma das praças mais conhecidas de Lisboa. O Marquês de Pombal encheu-se de gente para celebrar a festa da família, uma iniciativa da plataforma cidadania e casamento, a favor do referendo ao casamento gay, que juntou na capital cerca de cinco mil pessoas, vindas de norte a sul do país.
Dos «8 aos 80», muitos eram os que empunhavam faixas onde se podia ler frases como «casamento é homem e mulher» e «família é vida, família é futuro». E muitas eram as vozes que ecoavam a exigir um referendo que permita ao povo manifestar a sua opinião.
João Gonçalves, lisboeta, com 75 anos, católico, foi casado durante 55 anos. A esposa faleceu em 2009 e a sua memória foi uma das razões que o levou a vir até ao Marquês: «A minha mulher faleceu o ano passado, estou aqui por ela e porque acho absurda a legalização deste casamento», afirmou o idoso.
A mesma opinião tem David Novo. Os 60 anos que o separam de João Gonçalves não o fazem pensar de forma diferente. O adolescente de Oeiras critica a legalização do casamento gay, considerando que esta união civil é «perigosa» e «pode aumentar o número de homossexuais», que vão ver na lei «um incentivo a esta opção sexual».
De norte a sul do país
Enquanto a marcha descia a avenida, ouviam-se os mais variados sotaques. De norte a sul, muitos quiseram participar.
Margarida Araújo é uma dessas pessoas. Avó de 17 netos, a gondomarense diz que «não podia deixar de participar na manifestação» e trouxe consigo 23 familiares. Saiu do norte às 10h e dirigiu-se à capital porque «tem esperança que lei seja alterada» e não pode ficar indiferente a ataques à família: «Já viu o que o governo está a fazer às famílias? O Estado está a destruir os lares portugueses».
A mesma opinião tem a irmã Maria de Fátima. A freira veio de Vila Viçosa, no Alentejo, para se manifestar «a favor da família e contra a homossexualidade, porque essa opção é um acto de autodestruição do ser humano», afirma a brasileira.
A contra-manifestação: O clima de tensão
A marcha prosseguia pela avenida, quando irrompeu no ar os primeiros arrufos de tambores. Coloridos e barulhentos surgiram os contra-manifestantes, que lançavam beijos ao ar e apelavam à liberdade, em cartazes onde se podia ler: «eu também não votei no vosso casamento» ou «o que faz mal às famílias é o desemprego».
Em frente ao teatro São Jorge, a meia centena de activistas fez-se ouvir, provocando alguma tensão, que levou à mobilização de mais agentes para a zona.
Na sua maioria jovens, organizaram-se de forma espontânea depois de um repto deixado em vários sites, como o Facebook, explica Rosa Felix, uma das organizadoras da página que promoveu o evento.
Para a jovem, tornou-se imperativo reagir e demonstrar que não ficam «indiferentes perante manifestações contra uma liberdade conquistada», explicou Rosa, indignada.
Indignada estava também Erika (nome falso), uma alemã que se dizia «chocada» com o facto de na manifestação organizada pela Plataforma Cidadania e Casamento participarem tantos jovens, acrescentando que «na Alemanha não existe este preconceito social», referiu a estrangeira.
Uma manifestação legítima, nas palavras de Catarina Fernandes, mas que «incentiva a homofobia e tenta destruir a liberdade», refere a jovem, acrescentando que a contra-manifestação «é um apelo à liberdade».
«Estamos contra leis que privilegiam alguns e é estranho que quando se conquista uma liberdade, existam pessoas contra», afirma Catarina. Que considerou também «ser pouco digno ver uma marcha contra a liberdade precisamente naquele local, a avenida da liberdade».
Rapidamente a contra-manifestação desmobilizou-se e a marcha prosseguiu rumo aos Restauradores. Nem o frio, nem os ares de chuva, fizeram desmobilizar os cinco mil portugueses, que vieram até à capital celebrar a família e o casamento, instituições milenares, que os tempos querem mudar.
Fonte: TVI 24 online
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