CENTRO DE BEM ESTAR SOCIAL DE SANTO ESTEVÃO, CHAVES

Promover um envelhecimento seguro

A vila de Santo Estevão está situada a sete quilómetros de Chaves e a cinco de Espanha. A população residente, pouco mais de 600 pessoas (Censos 2001) é composta por uma grande fatia de idosos, muitos a morar sozinhos. Contudo, os dados estatísticos disponíveis sobre a população sénior não permitem caracterizar as situações de isolamento. As instituições no terreno vão constatando que muitas destas pessoas vivem sozinhas e sem retaguarda familiar.

Atendendo a este contexto, no fim da década de 90, nasce a ideia da criação de um lar para idosos na freguesia de Santo Estevão. Ademar Sena era então presidente da Junta local e nessa qualidade iniciou os contactos para a construção do equipamento.
Porém, a resposta social entendida como adequada pela Segurança Social foi a da criação de um centro de dia. A proposta foi aprovada em PIDDAC com um financiamento de 80 por cento do valor total da obra, 350 mil euros. Apesar das boas intenções iniciais, a construção sofreu avanços e recuos, com atrasos nos pagamentos das verbas e um progressivo endividamento da instituição particular de solidariedade social. “As verbas foram suspensas com a chegada do governo de Durão Barroso ao poder e apesar das diligências que fizemos junto da Segurança Social, a situação não foi desbloqueada”, relembra o presidente e fundador do Centro, Ademar Sena. A instituição ficou a dever dinheiro a fornecedores e recorreu a sucessivos empréstimos para conseguir acabar o projecto. “Pagávamos fora do prazo e a título pessoal tive que contrair empréstimos”.

Apesar dos impasses, o Centro abre em Setembro de 2002 com três valências: centro de dia, apoio domiciliário e ATL. A valência infantil fechou passado um ano por falta de crianças. “Passámos de sete alunos para dois porque entretanto os outros mudaram-se e não havia mais crianças na freguesia”, explica o presidente. Ademar Sena revela ainda que não foi feito um estudo minucioso das necessidades sociais do local, o que se reflectiu não só no ATL como também na valência de centro de dia. “Não foi feito um levantamento das necessidades reais da freguesia e as valências escolhidas não foram as mais acertadas, à excepção do apoio domiciliário”. O presidente conta que mais de 90 por cento dos utentes em centro de dia da instituição vêm da malha urbana de Chaves, pois apesar da freguesia ter muita população idosa, são poucos os que se inscrevem no Centro. “Aqui não há essa cultura, as pessoas procuram lar e apenas lar, de resto mantêm-se em casa, mesmo que não tenham grandes condições”.

Natália Costa é psicóloga e desempenha as funções de directora técnica do Centro. A técnica partilha da opinião de que um lar seria a resposta mais adequada naquele local, pois quase que diariamente chegam pedidos para essa valência. “Um lar seria mais adequado, dado que esta é uma população muito envelhecida e que precisa de acompanhamento constante”, diz. Segundo Natália, os lares da zona estão lotados e há muitos casos de demências associadas ao envelhecimento que permanecem em casa sem qualquer apoio. “Já tive situações dramáticas de chegar a casa de idosos completamente degradadas. Pessoas sozinhas sem condições de habitação nenhumas, pessoas com dificuldades mentais que não conseguem cozinhar, fazer a higiene pessoal ou tomar a medicação”. Natália Costa diz que a instituição não tem capacidade para acolher mais utentes. Com 25 funcionários e 50 utentes repartidos pelas duas valências, mais uma dezena que está fora de qualquer acordo com a Segurança Social, é difícil fazer face às despesas diárias. “São-nos pedidas respostas, mas não temos condições para mais”.

A situação financeira do Centro obrigou a que o apoio domiciliário fosse reduzido para cinco dias por semana, já que a instituição não conseguia suportar os custos de abrir a cozinha aos fins-de-semana. “Tecnicamente faz muita falta e os pedidos não param de aumentar e nós estamos a tentar requisitar pessoas através do Centro de Emprego e Formação Profissional para contornar essa situação”, explica. A principal fonte de rendimento para suportar as despesas é o transporte escolar, um serviço prestado à Câmara Municipal de Chaves. “Começamos a fazer circuitos de transporte escolar desde o início da instituição e, mensalmente, fazemos cerca de 10 mil quilómetros”, explica Ademar Sena. O presidente acrescenta que os circuitos, atribuídos por concurso, permitem cobrir as lacunas financeiras do Centro e apostar em novos serviços para os utentes, como o enfermeiro, contratado por avença, que vem dar apoio aos idosos. A instituição tem ainda a seu cargo a exploração de um café que pretende transformar numa pastelaria/padaria. “O nosso objectivo era criar uma empresa de inserção, mas a candidatura foi recusada por falta de viabilidade económica, mas resolvemos avançar”. Ademar Sena quer utilizar o circuito de transportes para distribuir o pão nos lugares e aldeias mais recônditas e que apenas têm acesso a pão fresco dois dias por semana. À pergunta de como se enquadra este tipo de actividade no âmbito de uma IPSS, o presidente tem resposta pronta: “É uma maneira de não estarmos à espera do Estado e assim criarmos valor acrescentado”. “Se ajudarmos a criar postos de trabalho, estamos a criar riqueza e a contribuir para o desenvolvimento social.

Numa freguesia destas, onde os investimentos são poucos não sei que mal há nisso?!”.
O Centro potencia ainda o relacionamento intergeracional entre as poucas crianças da escola do primeiro ciclo de Santo Estevão e os seus utentes. “A festa de Natal, por exemplo, é organizada em conjunto com os miúdos, dado que também não são muitos e os nossos idosos gostam muito de lidar com crianças”, explica Natália Costa. Para além deste evento, o Centro tenta dinamizar as actividades com os utentes, nas medidas das possibilidades físicas e mentais de cada um. A média de idades é muito elevada e a dependência das pessoas cada vez maior. “Embora sejamos um Centro de Dia, abarcamos um bocadinho de tudo, desde pessoas com pouca mobilidade, a doentes de Alzheimer, pessoas que sofrem de ataques esquizofrénicos, a idosos completamente independentes”. Esta panóplia de situações vem complicar o trabalho de animação e de envelhecimento activo que é assumido pela direcção do Centro, mas, por outro lado, permite responder a quem não tem mais nenhuma ajuda.


Texto e fotos: Milene Câmara


 

Data de introdução: 2010-03-13



















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