O bispo da Diocese de Leiria-Fátima considera que a visita do Papa a Portugal vai trazer um "fôlego de esperança" à Igreja e à sociedade, num momento em que reina uma "atmosfera de pessimismo e resignação". "Eu penso que a visita do Papa trará um fôlego de esperança quer para a Igreja em Portugal quer para a sociedade", disse D. António Marto, reconhecendo que também a própria Igreja "é contaminada por esta atmosfera cultural que se vive de certo desencanto e cansaço". "Por vezes, as comunidades cristãs dão ares de cansaço e precisam de um balão de oxigénio para retomar o seu caminho", afirmou o prelado, acreditando que os valores orientadores da vida pessoal, familiar e social "irão certamente ser abordados pelo Papa".
O bispo de Leiria-Fátima gostaria também que Bento XVI apresentasse uma "provocação em ordem a reflectir sobre o futuro do país". "O que nos falta hoje é gente que nos ofereça um projecto global", referiu a este propósito, sustentando que a cultura política actual "sofre de uma carência de pensamento". "Gostaria que deixasse esta provocação à sociedade para uma reflexão quanto ao futuro do país, de uma maneira global, relativamente aos valores a partir das raízes humanistas e cristãs que caracterizam a nossa história", acrescentou D. António Marto, confiante de que a visita de Bento XVI vai deixar a sua marca numa sociedade diferente daquela que recebeu, há dez anos, João Paulo II. "São momentos diferentes", anotou D. António Marto, sublinhando que também os Papas são diferentes. "Bento XVI é um Papa de origem alemã que não tem aquele carácter expansivo e emotivo que tem um Papa latino ou que tem um Papa eslavo, mas que tem uma humanidade, uma afabilidade e uma simplicidade dignas de registar", considerou, salientando que "a palavra do magistério do papa é um ponto de referência mundial para levar a pensar".
O prelado disse, por outro lado, que a mensagem de Fátima, com quase um século, mantém a actualidade. "Foi dirigida como um apelo do céu à humanidade do século XX, que corria o risco de cair no abismo infernal da auto destruição", numa alusão à primeira grande guerra, referiu D. António Marto, frisando que este "foi um chamamento à humanidade para pensar e arrepiar caminho". "Naturalmente, os caminhos de Deus não são da ordem estratégico política, mas da transformação dos corações das pessoas e das relações entre as pessoas e os povos", observou, frisando que esta é uma questão central numa sociedade onde há "uma espécie de eclipse cultural de Deus".
Por outro lado, o prelado aponta o aspecto da paz na mensagem de Fátima, que "é sempre um tema actual, sempre a retomar e a relançar". Segundo D. António Marto, à reconciliação acresce a reparação, que passa por "chamar à responsabilidade para assumir o mal que se faz e, por conseguinte, reparar". "Isso é uma resistência à banalidade e à normalidade do mal", concluiu.
Data de introdução: 2010-05-05