CENTRO SOCIAL INTERPAROQUIAL DE SANTARÉM

25 Anos com espírito de serviço e dedicação

Reza a lenda que corria o ano de 1247 ou 1266, depende dos cronistas, naquela que é agora a cidade de Santarém, na altura vila. Uma mulher, enganada pelo marido que tinha uma amante, foi pedir ajuda a uma bruxa judia para tê-lo de volta. A bruxa disse que lhe mudava a sorte se esta lhe trouxesse uma hóstia consagrada. Assim foi. A mulher foi à igreja de S. Estevão e trouxe a hóstia escondida no véu e, quando se dirigia para a casa da feiticeira, do véu começou a escorrer sangue. A mulher corre para casa e esconde a hóstia numa arca. Durante a noite o casal acorda com uma luz resplandecente a sair da arca e ajoelha-se a rezar. Na manhã seguinte o padre da aldeia leva a hóstia para a igreja de onde tinha vindo e conserva-a numa espécie de custódia de cera, mas passado algum tempo ao abrir-se o sacrário, a cera estava desfeita em pedaços e a hóstia encerrada miraculosamente numa âmbula de cristal… A igreja é agora o Santuário dos Milagres.

O padre Manuel Borges, presidente da instituição de solidariedade social, recorda esta história para lembrar que o Centro Social Interparoquial de Santarém (CSIS) nasceu com uma forte conotação cristã e um espírito de serviço grande, “abençoado” pelo Santuário dos Milagres. A origem remonta a 1945 e tem na génese uma instituição denominada Centro Social de Nossa Senhora de Marvilha destinada a acolher meninas que saíam da escola primária e não tinham com quem ficar o resto do dia.

O CSIS celebrou, a 9 de Fevereiro, 25 anos de uma vida vocacionada para a solidariedade social. Dar continuidade aos projectos de âmbito social dedicados a crianças e idosos e prosseguir a missão de pré-evangelização junto desses utentes, os seus familiares e funcionários da instituição são objectivos essenciais a cumprir. Criado por iniciativa das fábricas paroquiais da cidade – Marvila, São Salvador, S. Nicolau e Ribeira de Santarém – em 9 de Fevereiro de 1985, o CSIS, pela voz do presidente, defende que no momento de crise global que afecta a sociedade portuguesa a solidariedade deve ser reforçada. “Todos os dias nos chegam pessoas, pais de crianças ou filhos de idosos que pedem para se baixar a mensalidade por não poderem mais suportar os pagamentos, devido a situações de divórcio ou desemprego”, exemplifica.

Chegado a Santarém em 1975, este homem da igreja meteu mãos à obra e reuniu esforços e apoios para transformar uma pequena instituição numa verdadeira resposta às necessidades locais da comunidade.
O Centro propriamente dito nasce já na década de 80, através da junção de diversas instituições locais, tornando-se na maior instituição do concelho. Atestam essa condição os 650 utentes que frequentam diariamente as cinco unidades da instituição, entre crianças das creches e dos jardins-de-infância, passando pelos idosos dos centros de dia, do lar e do apoio domiciliário. Ao todo o CSIS conta com 180 funcionários e o orçamento anual tem rondado os três milhões de euros. A instituição está dispersa por cinco unidades orgânicas: Unidade Padre Manuel Francisco Borges, Unidade João Arruda, na freguesia da Ribeira de Santarém, Unidade S. Domingos, Unidade D. António Francisco e Unidade do Gualdim. A instituição serve mais de mil refeições diárias e contacta com cerca de 900 famílias. Processa ainda o rendimento social de inserção em colaboração com a Segurança Social.

Segundo Nuno Marques, responsável pelas finanças do Centro, os acordos de cooperação com a Segurança Social representam 50 por cento das receitas do CSIS. “Os outros quarenta por cento resultam do pagamento de mensalidades, enquanto dez por cento são assegurados através de donativos, especialmente de particulares”, refere. O Centro organiza no mês de Maio as “Jornadas da Solidariedade”, uma acção destinada a angariar fundos para fazer face às despesas que não estão cobertas pelo orçamento anual. “Fazemos um jantar, uma noite de fados, vendas de alguns objectos que as fabricas e lojas nos dão”, explica o responsável.
Mas a crise provocou alguns problemas com o pagamento das mensalidades dos utentes. “Temos pessoas que não nos pagam há vários meses e claro que isto tem que ser compensado por quem pode pagar mais”, explica o presidente do CSIS.

Cumprido um quarto de século de vida do CSIS, Manuel Borges não deixa de fazer um balanço positivo da acção desenvolvida e aponta como caminho a missão que tem sido seguida. “Esta é uma instituição solidária de cariz pré-evangelizador, que perfilha os valores da igreja, da celebração de Jesus e do amor e respeito”, salienta, lembrando que é tempo de se começar a pensar num pároco que o venha a substituir na missão de presidir à organização. A faceta católica está bem presente nas acções da instituição que no terceiro domingo de cada mês celebra uma missa que junta utentes e funcionários. “Não é fácil sensibilizar os trabalhadores para participarem numa missão de solidariedade que é o que nós fazemos. Estamos numa instituição da igreja que comunga de uma doutrina de serviço ao próximo e é isso que os nossos trabalhadores devem entender”, salienta Manuel Borges.

Os projectos de alargamento continuam com a adaptação do antigo espaço de actividades de tempos livres (ATL) na unidade D. António Francisco, no centro histórico da cidade, para a valência de lar. “O espaço ficou disponível quando o Governo decidiu acabar com os ATL e as crianças em idade escolar passaram a frequentar as actividades de enriquecimento curricular nas escolas e nós reconvertemos para uma nova valência para a qual temos muitos pedidos”, explica. O espaço tem data prevista para abertura já no próximo mês de Junho e tem capacidade para 23 utentes.

Também em projecto está a construção de uma nova unidade de apoio a acamados dependentes na Unidade do Gualdim, na freguesia de Azóia de Baixo. O projecto pensado para 30 utentes foi candidatado ao Programa Operacional de Potencial Humano na procura de uma comparticipação de 60 por cento do milhão de euros necessário e aguarda aprovação. Os idosos tornaram-se numa grande preocupação para nós, pois a lista de espera que temos é imensa e existem situações muito graves de solidão e de doença às quais é preciso responder”, refere o Pe. Manuel Borges.
Outra das áreas que a instituição quer apostar é na comunicação e numa maior abertura à população local. “Na nossa comunidade há muito desconhecimento quanto ao nosso trabalho e queremos alterar isso para que a instituição possa crescer com todos”, diz o responsável.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2010-05-07



















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