Os hospitais portugueses temem que a proibição das contratações de médicos possa pôr em risco o funcionamento dos serviços e até condicionar a abertura de alguns serviços de urgência. Uma preocupação que é também partilhada pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes: "Sem recursos só temos uma de duas soluções: ou os serviços fecham ou os critérios de qualidade vão ter de baixar", alerta.
A medida de contenção orçamental preocupa os administradores hospitalares, que aguardam ansiosamente a recepção de directivas mais precisas. Uma delas, e que ainda não foi clarificada, é se os hospitais-empresa vão ficar de fora destas restrições, o que ainda não foi referido até ao momento.
As únicas excepções, segundo o jornal i, serão os médicos reformados ou que pediram reforma antecipada, que vão poder continuar no activo. Há ainda orientação para cortar em horas extras e no recurso a médicos de empresas (tarefeiros).
Estas três situações são graves sobretudo para a urgência, embora obviamente se prevejam atrasos nas consultas ou cirurgias: a contratação de reformados pode continuar a ser possível, mas os médicos não são obrigados a fazer urgências a partir dos 55 anos e são dispensados das nocturnas a partir dos 50. Por outro lado, sabe-se que as urgências estão em geral dependentes de horas extras e tarefeiros - estes garantem 30% das urgências do SNS.
"Ando há 30 anos a tentar descobrir como fazer omeletes sem ovos, mas ainda não consegui", ironiza Pedro Nunes. Não havendo recursos, a qualidade é afectada e há preocupação de fechos. "Se a Ordem levasse em conta os critérios de qualidade nas urgências, que já não são cumpridos, não sei onde iríamos parar", sublinha.
É preciso substituir quem sai
Pedro Abecassis, do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental ainda se recorda do encerramento de urgências como a de obstetrícia em 2008, devido à falta de médicos. "Se não for permitida a entrada de médicos vai ser complicado, porque não estamos folgados na maior parte das áreas, como a medicina interna ou obstetrícia. Aí vai ser difícil cumprir as escalas. A situação passada [fecho temporário] pode repetir-se".
O centro perdeu 10 a 20 médicos no espaço de um/dois anos, a que se juntam 20 de 30 pedidos de reforma - dez médicos terão voltado atrás com o anúncio de medidas por parte da tutela. "Era importante substituir quem saiu no último ano a ano e meio", frisa.
Outro caso é o Hospital de Guimarães. Carlos Santos, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), diz que, tal como na maioria das unidades, só os cirurgiões fazem 24 horas de banco. Uma medida destas "ia levar os serviços a ressentirem-se imediatamente e pôr em causa o funcionamento do hospital. E aí, se houver problemas, o Governo será responsabilizado criminalmente".
Há administradores que não querem acreditar no pior. "Não acredito que se permita a contratação de aposentados e não outros médicos, até porque temos de substituir as saídas de outros profissionais", diz Rosa Marques, administradora do Centro Hospitalar de Coimbra. Na urgência "seria muito preocupante", apesar de admitir mudanças na escala para colocar médicos nas horas de pico.
A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo prevê o "condicionamento da abertura de alguns serviços, como o do Serviço de Urgência Básica de Moura. Já o Centro Hospitalar do Porto refere problemas na imagiologia. No caso das urgências, "se houver problemas, temos de começar a remeter mais doentes para os centros de saúde", diz fonte oficial. Faro teme atrasos em áreas como a ginecologia, obstetrícia ou ortopedia. Já a Guarda receia pelos cuidados dos idosos em áreas como cardiologia, neurologia ou ortopedia.
Fonte: Diário de Notícias
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