São 285 mil as pessoas que recebem ajuda do Banco Alimentar contra a Fome, em Portugal. Destas, 33% são crianças. Com o aumento do desemprego e do número de famílias desestruturadas, há mais filhos a depender deste apoio para se alimentarem.
Este ano, cerca de 94 mil crianças são, em média, assistidas por dia pelos bancos alimentares, número que seria ainda maior se incluísse a Madeira, que não é abrangida pela rede. Porém, não há, em Portugal, dados concretos sobre a população infantil afectada pela fome. Nem a Direcção-Geral da Saúde, nem a Comissão de Acompanhamento da Acção para Crianças e Jovens em Risco, cujos responsáveis foram contactados pelo JN, avançam qualquer diagnóstico.
A verdade é que o total de pessoas que recebe este tipo de ajuda das cerca de 1700 instituições apoiadas pelo Banco Alimentar tem crescido de ano para ano. O apoio é dado por cabaz ou alimentação confeccionada, seja ao domicílio, em cantinas ou creches.
A única excepção é o ano de 2006, em que se registou uma ligeira descida. Em 2008, o número de pessoas assistidas chegava perto dos 25 mil e, no ano passado, ultrapassou as 26 mil.
Este ano, garante Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, a média diária ronda as 285 mil pessoas. Destas, "33% são crianças" e "mais de 40%" idosos.
Porém, recusa falar em fome, separando a realidade portuguesa da que existe nos países onde a subnutrição é a principal causa de morte. Em Portugal, Isabel Jonet prefere aludir a "carências alimentares, porque, apesar de tudo, as crianças são apoiadas pelas instituições". Mas os casos não deixam de ser graves, já que "muitas crianças só comem" o que recebem dessas instituições, fazendo apenas uma refeição por dia.
"Há situações de carência de todo o tipo", explicou, ao JN. "O aumento do desemprego, este ano, faz com que haja mais pedidos", adiantou. E há "mais crianças" a receber ajuda alimentar. A propósito, Isabel Jonet destacou o crescimento do número de famílias desestruturadas, que deixaram de ter dinheiro suficiente para gerir a casa e alimentar os filhos, recorrendo, por isso, aos bancos alimentares. O divórcio é um dos factores que causa pobreza, porque "o orçamento de uma casa tem de dar para duas".
Os "novos pobres"
Há muito que a responsável do Banco Alimentar alertou para os "novos pobres". Aqueles que têm emprego e até um salário fixo, "mas cujo rendimento não chega para cobrir as despesas". Nesta categoria, incluiu trabalhadores a recebido verde, outros afectados pela precariedade e aqueles que não conseguem pagar os créditos.
Ao JN, Isabel Jonet referiu, ainda, que parte significativa das crianças assistidas é proveniente de famílias de imigrantes e, até, ilegais.
Quanto à marcha mundial contra a fome, que ontem decorreu, o Banco Alimentar demarcou-se, por questionar a eficácia da iniciativa no apoio às crianças subnutridas dos países mais pobres.
Fonte: Jornal de Notícias
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