Foi com sala cheia que a Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia comemorou o seu 81º aniversário. Dezenas de Irmãos encheram o pavilhão Joaquim Oliveira Lopes, no passado dia 26 de Junho, para assistirem à sessão solene que marcou a data.
Joaquim Vaz, provedor, disse aos jornalistas que estas comemorações são também uma forma de “revitalizar” a instituição. “A admissão de novos Irmãos significa sangue novo que vem para a instituição, significa ideias novas, porque os Irmãos mais velhos vão deixando de participar nas nossas actividades e é importante que se renove”, afirmou o provedor. Para Joaquim Vaz as instituições sociais que não estão abertas à renovação estão condenadas à morte, pelo que é nas efemérides que as reflexões devem ser feitas. “Celebrar é sempre evocar o passado, olhar o presente e preparar o futuro e nós queremos preparar a nossa Misericórdia para grandes voos, com sustentabilidade, mas com grandes desafios”.
Com um orçamento anual de oito milhões de euros, a instituição dá resposta a mais de 750 utentes em diversas valências, com destaque para os equipamentos destinados à terceira idade. “Não podemos ser todos a fazer as mesmas coisas, é importante que as instituições se diversifiquem e se especializem em determinadas valências”, defende Joaquim Vaz e explica que a instituição vocacionou-se para a terceira idade como resposta às solicitações da comunidade. “Temos três lares sociais e um residencial e acho que aí já estamos a responder bem, porque somos das misericórdias do distrito do Porto com maior número de camas”.
A crise sócio-económica veio trazer novos desafios à Santa Casa que só este ano disponibilizou uma verba de 45 mil euros para o departamento de intervenção comunitária. “As dificuldades são realmente muitas e cada vez nos chegam mais pessoas a pedir ajuda”, diz o provedor. O responsável adianta que apesar do orçamento, os lares são uma constante fonte de prejuízo, uma vez que os utentes têm reformas muito baixas que não dão para cobrir as despesas de internamento ou frequência. “Acolhemos pessoas com valores de pensões muito baixos, independentemente dos apoios dos contratos dos acordos de cooperação assinados com a Segurança Social. É preciso perceber que o custo médio de um utente fica muito caro e é necessário ter pessoas bem preparadas e em número suficiente para prestar um bom serviço”.
O bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, orador convidado na sessão comemorativa, foi mais longe. Em declarações ao Solidariedade disse que os governos não apoiam como deveriam as instituições de solidariedade social. “Tenho muita pena que os governos, em geral, desconheçam o princípio da subsidiariedade, não fomentem e não ajudem como deveriam estas instituições da sociedade civil”. D. Manuel Martins acrescentou que este tipo de instituições deve emergir, manter-se na sociedade civil, pois cada vez mais assumem um papel importante. “Em qualquer altura [estas instituições] assumem um papel importante, mas ainda mais nesta altura de crise em que são cada vez mais necessárias para valer a tantas necessidades, muitas delas fruto da má governação que temos vindo a ter”.
Durante a cerimónia foi feita a entronização de novos Irmãos, que receberam o Diploma, subscreveram o Compromisso da Irmandade e foram homenageados todos os colaboradores que completam, este ano, 25 anos de serviço na Santa Casa. O evento foi animado pela Orquestra da Sociedade Filarmónica de Crestuma e terminou com um arraial, realizado na creche e jardim-de-infância D. Emília de Jesus Costa.
O provedor adiantou ainda que em 2012 a Misericórdia de Gaia vai ser a anfitriã do X Congresso Internacional das Misericórdias, que deverá decorrer em Setembro ou Outubro desse ano.
A Misericórdia de Gaia foi fundada a 26 de Junho de 1929 por um grupo de “homens bons e arrojados”, liderados pela figura do notário gaiense, Dr. Miguel Leal da Silva Júnior, conforme se pode ler nos estatutos da instituição. No entanto, a Irmandade recebeu a designação de Santa Casa de Misericórdia de Vila Nova de Gaia a 20 de Março de 2001.
Actualmente com 750 utentes e 320 funcionários é uma das maiores instituições de solidariedade social do concelho de Vila Nova de Gaia, que através da aplicação das catorze obras de Misericórdia veiculadas pela Igreja Católica vai dando resposta a um concelho com mais de 300 mil habitantes.
Texto e fotos: Milene Câmara
Data de introdução: 2010-07-08