IV FESTA DA SOLIDARIEDADE, CASTELO BRANCO

Grande festa das instituições mostra trabalho solidário ao país

“Este ano a Festa é aqui bem no Centro Interior de Portugal: não é por acaso! Para o longe se fazer perto. Para o perto luzir como fonte de luz e guia incentivadora. Também para os de longe sentirem o Portugal profundo e sentirem que ainda lhes sobram desafios para a solidariedade…” Foi desta forma que Lino Maia, presidente da CNIS, falou a todos aqueles que estiveram presentes na IV Festa da Solidariedade, que se realizou a 25 de Setembro em Castelo Branco. Cerca de cinco mil pessoas estiveram, ao longo do dia, na zona das Docas, vindas de todos o país. Depois de Lisboa, Barcelos e Viseu, cumpriu-se a tradição em Castelo Branco, num encontro solidário com representações de IPSS de todo o território nacional.

Uns vieram só assistir, outros trouxeram danças, canções, música e teatro para apresentar em palco, numa mostra que também se reflectiu em algumas barraquinhas com trabalho realizados por utentes e que decorreu durante todo o dia. Sem distinções de idade, a festa reflectiu quer na plateia quer no palco a natureza espontânea do trabalho solidário. Mas em tempos de crise, os discursos oficiais não fugiriam à realidade do país, com palavras de incentivo ao trabalho solidário, mas também de alertas de que o Estado social pode estar em perigo. O presidente da CNIS avisou para a insustentabilidade do Estado e para o papel que as instituições particulares de solidariedade social representam. “O Estado no seu conjunto tem de ser mais solidário e dar oportunidade àquele que têm condições de colaborar em soluções dos problemas dos mais carenciados”, afirmou o dirigente.

Sem a presença da ministra do Trabalho e Solidariedade Social, Helena André, mas com a participação de Pedro Marques, Secretário de Estado da Segurança Social, o dirigente da Confederação fez questão de salientar a importância da parceria entre o Estado e as instituições, principalmente no contexto actual do país.
A chama da solidariedade voltou a representar o momento alto da festa, com uma entrada solene no recinto, passando de mão em mão até chegar aos representantes das entidades oficiais. “Penso que o grande desafio é continuar a abrir as portas aos mais carenciados, manter as respostas que existem e criar outras que respondam aos novos problemas”, afirmou Lino Maia em declarações ao Solidariedade. O presidente da CNIS referiu também a necessidade das instituições terem mais autonomia para atenderem às novas situações.

Numa altura em que ainda não existe acordo de cooperação entre o Estado e as IPSS, Lino Maia disse aos jornalistas, que há instituições que estão a ficar cansadas, pois as exigências são cada vez maiores. “Eu sou a favor da qualidade e do rigor, mas às vezes há exigências que se sucedem, nem sempre sustentadas, exigências que se repetem anulando as anteriores, sem dar tempo para implementar”. Quando às negociações do acordo de cooperação, o líder das IPSS diz que não deverá haver actualização este ano.
Pedro Marques, em representação do Governo, justifica sublinhando que este “é um momento complexo de alocação de recursos” e que “o rigor tem que ser cada vez mais uma exigência nossa e das instituições”, salientando, no entanto, a disponibilidade das IPSS para negociar a cooperação com as limitações actuais. O secretário de estado considerou “prematuro” adiantar datas para a finalização do acordo, mas diz que os “avanços produzidos são enormes”, sem, no entanto, os precisar.

Pedro Marques felicitou a CNIS pelo trabalho de unificação e solidificação do movimento solidário no país. Referindo-se à necessidade de “apertar o cinto” nas contas públicas, o representante do Governo justificou o corte nos apoios sociais com a necessidade de equilíbrio financeiro. “Tivemos que travar o crescimento dessas verbas [apoios sociais] e que tomar opções de mais rigor na atribuição dos apoios sociais nesta fase e também de prioridade à inserção dos beneficiários das prestações sociais e daqueles que estão em risco de pobreza”. Pedro Marques apelou ainda à cooperação das instituições de solidariedade com o governo neste momento. Contudo, o secretário de estado fez questão de evidenciar todo o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos cinco anos, nos quais houve, segundo ele, um “crescimento sem paralelo” da rede de equipamentos sociais. “Hoje estão em construção no país ou já concluídas 400 creches, muitas delas de instituições (…) Apostamos em respostas sociais para mais de 25 mil idosos nos diversos programas em que a parceria público-social se efectivou”.

Para além da evolução positiva dos padrões de qualidade, segundo Pedro Marques, foram “rasgados novos horizontes”. “Progredimos para novas áreas como os cuidados continuados ou o apoio às famílias em risco de pobreza e exclusão social”. Pedro Marques salientou ainda o papel das instituições de solidariedade social no combate ao desemprego, como parceiras em programas ocupacionais e de estágios. “Estes 800 equipamentos sociais que estamos a construir vão criar cerca de 14 mil postos de trabalho permanentes e criaram já mais de 11 mil na fase de construção”.

Lurdes Pombo, presidente da União Distrital das IPSS de Castelo Branco, salientou o apoio das entidades na organização da Festa, mas não deixou de referir que em tempos de crise são as instituições de menor dimensão aquelas que mais sofrem com os cortes orçamentais.”A maioria dos utentes das nossas IPSS vêem do meio rural e têm pensões muito baixas e nem sempre as famílias estão à altura de os poder ajudar, por isso, no interior do distrito começa a haver uma certa dificuldade em manter o trabalho”, diz.
Quanto à organização da Festa da Solidariedade, Lurdes Pombo refere que viu muito entusiasmo, principalmente na passagem da chama. “As pessoas estão muito carentes e talvez tenham olhado para este evento como algo que vem aquecer a sua alma e lhes dar novo alento”.

Também o presidente da autarquia albicastrense marcou presença e salientou o papel das instituições de solidariedade, aquelas, que, segundo ele, “estão na primeira linha para acudir quem mais precisa”. Joaquim Mourão aproveitou o momento para lembrar que os concelhos do interior também “lutam” diariamente para que a solidariedade nacional seja partilhada com eles, nos mais diversos aspectos.

Em ambiente de festa, Lino Maia anunciou ainda que para o ano o evento vai se realizar em Santarém. “Vamos fazer coincidir a festa com a comemoração dos 30 anos da CNIS que acontece em Junho, por isso, será um momento marcante”. O presidente da CNIS deixou ficar ainda um desafio ao Estado: a conversão do Estado social em Estado solidário. “O Estado é tanto mais forte quanto mais ao serviço da comunidade estiver. Talvez isso obrigue a alguns consensos sobre quais devem ser as funções e quais devem ser os agentes”. Segundo o responsável só com esta conversão é que se poderá salvar o Estado da falência e permitir que “cumpra a sua missão de pugnar e construir uma sociedade coesa, dinâmica e com futuro”.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2010-10-07



















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