IV FESTA DA SOLIDARIEDADE, CASTELO BRANCO

A Chama da Solidariedade bateu à porta das instituições

A entrada nas Docas de Castelo Branco foi triunfal aliás, era esse o momento mais aguardado do dia. Centenas de pessoas esperavam a chegada da Chama da Solidariedade que desde o dia 21 de Setembro viajava de Viseu até terras albicastrenses.
Símbolo da união do movimento solidário em Portugal, constituído pelos milhares de instituições particulares de solidariedade social, a Chama tem sido o expoente máximo das anteriores edições da Festa da Solidariedade.

De mão em mão, a Chama da Solidariedade percorreu o trajecto que a separava da cidade de Castelo Branco, anfitriã da edição deste ano da Festa da Solidariedade. Passou pela Guarda, por Seia, pela Covilhã, pelo Fundão até chegar ao destino a 25 de Setembro, onde a aguardavam algumas centenas de pessoas, muitos utentes, dirigentes e colaboradores de IPSS, mas também muitos curiosos.
A organização da viagem esteve a cargo das Uniões Distritais dos diferentes territórios que trabalharam na elaboração de um programa detalhado. O caminho foi supervisionado por elementos dos bombeiros, da PSP e GNR que garantiram a segurança e tranquilidades necessárias.

“Estivemos na aldeia mais alta, na vila mais alta, no ponto mais alto de Portugal e a Chama acabou por superar em muito as mais altas expectativas que pudéssemos ter”, afirma João Carlos Dias, coordenador da iniciativa organizada pela CNIS. O responsável considera que organizar o percurso da Chama constitui um “desafio”, que ao fim de quatro anos tem vindo a consolidar-se. “A partir daqui”, sublinha João Carlos Dias, “com os contactos estabelecidos, conseguimos fazer com que as instituições se juntem e trabalhem para receber a Chama”. Este ano o percurso foi sempre feito em viaturas, com passagens simbólicas por diversas aldeias. “Apostamos em ir mesmo à porta das instituições e fazer ali um pequeno momento de festa. Nos sítios onde era possível juntá-las, tínhamos grandes aglomerados de gente”. João Carlos Dias explica que o objectivo foi visitar as instituições, bater-lhes à porta e mostrar o símbolo da solidariedade. “A Chama entrava pela instituição e passava nas mãos de pessoas com muito pouca mobilidade, que de outra forma nunca chegariam a vê-la”.

O coordenador destaca a simplicidade e a espontaneidade dos diversos momentos de um trajecto de cerca de 300 quilómetros. “A Chama andou de mão em mão, foi tudo muito simples. Passou por muitos autarcas, governadores civis, mas esteve nas mãos de gente simples, de quem está nas instituições diariamente”, refere.
A principal diferença, em relação aos outros anos, segundo João Carlos Dias, reside na preparação que as comunidades tiveram. “As pessoas não foram só receber a Chama, prepararam-se com pequenas encenações, canções, escreveram textos, fizeram cartazes e isto aconteceu em todos os sítios, em todo o lado, foi impressionante!”.

EQUIPA COESA, CHAMA SEMPRE ACESA

“Para ter ideia, chegávamos a fazer um desvio do nosso percurso para ir a uma pequena aldeia, onde tínhamos à nossa espera um jovem padre jovem e três crianças com menos de seis anos que receberam a Chama a cantar a música “Luz Pequenina”, muito conhecida do movimento escutista. Repare, a Chama, com uma comitiva enorme, deslocou-se a um sítio onde estava um padre com três crianças, foi um momento simples, mas de grande beleza”, recorda o coordenador.

Paulo Vieira é um dos “homens” da Chama desde a sua partida de Lisboa, há quatro anos. A equipa é constituída por três homens, todos trabalhadores da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Viana do Castelo. O grupo resolveu juntar-se para transportar a Chama pelo país e sem contabilizar com precisão, Paulo Vieira aponta mais de 1200 quilómetros ao serviço da solidariedade.
A logística é simples, explica o “transportador”, duas viaturas, uma que acompanha sempre a Chama e uma equipa de três pessoas: uma que vai sempre a conduzir, outra que vai sempre ao lado da Chama para que nunca se apague e outra que está sempre a preparar todo o material para que quando um facho esteja a ficar sem gás exista outro logo pronto. “A Chama nunca se pode apagar e só na viagem de Viseu até Castelo Branco gastamos mais de 50 quilos de gás”.

Paulo Vieira garante que, de facto, a Chama nunca se extinguiu, além de que todas as condições de segurança são devidamente asseguradas, até porque são várias as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida que a transportam.
Apesar da boa adesão que a iniciativa tem tido, por parte das IPSS, dos organismos autárquicos, dos movimentos e colectividades da sociedade civil, o responsável pondera possíveis alterações. “Sobretudo ao nível das datas, já que este ano, por exemplo, a preparação do evento calhou em tempo de férias e a iniciativa em si realizou-se em plena época de regresso às aulas, o que desmobilizou um pouco a comunidade escolar” conclui o coordenador da Chama da Solidariedade.

Para o ano, o destino é Santarém e uma festa que coincide com a comemoração do aniversário dos 30 anos da CNIS. Ao contrário de todas as edições anteriores, a Chama não vai por terra, mas é “levada” pelo Tejo. “A União Distrital de Castelo Branco vai depositar a Chama no Tejo na zona das Portas de Ródão e será o rio que vai levá-la até à cidade de Santarém”. Quanto chegar ao destino, a recepção é feita pela União das instituições local, num evento que pretende juntar as IPSS, as associações e todos os movimentos da comunidade.
Quanto ao trabalho dos “homens” da Chama, será seguramente menor que noutros percursos, mas para Paulo Vieira o importante é “o sorriso, o brilho nos olhos com que toda gente quer pegar na Chama”.

Texto e fotos: Milene Câmara


 

Data de introdução: 2010-10-09



















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