PRESIDENTE DA CNIS NA FESTA DA SOLIDARIEDADE

Estado social deve evoluir para Estado solidário e evitar falência

A CNIS levou a cabo a quarta edição da Festa da Solidariedade, em Castelo Branco, no passado dia 25 de Setembro de 2010. O ambiente é de festa, convívio, partilha de experiências entre dirigentes, funcionários, utentes e familiares das IPSS de todo o país. Mais uma vez a Festa cumpriu os objectivos. E a Chama também. Percorreu a distância entre Viseu e Castelo Branco simbolizando a corrente de calor humano que caracteriza as instituições nacionais.
Ponto alto da Festa é o momento das intervenções dos convidados e dos responsáveis da UDIPSS e da CNIS. O padre Lino Maia fez um discurso muito crítico em relação ao Estado. Um discurso que merece ser lido e que, por isso, o Solidariedade entende destacar:

(…) Celebramos em Festa a Solidariedade. Não celebramos propriamente tempos de regozijo. Estávamos mergulhados numa crise que já em tanto nos afligia e que estava - e continua a estar - a pedir ao povo português, em geral, e às Instituições de Solidariedade, em particular, grandes esforços. Agora a crise parece agravar-se com ameaças de outras crises: crises que são mais de jogos de poder do que de ondas de movimentos de serviço. Alertamos que nestas crises há sempre lucros; porém, não para os mais frágeis. Reivindicamos responsabilidade.

Celebramos em Festa a Solidariedade. Não celebramos propriamente tempos de regozijo.
O “estado social” vem sendo tema recorrente. De debates e de embates. Também o próprio Estado vem sendo discutido. De tantos debates e embates, o Estado e o “estado social” ou já estão em crise ou acabam por entrar irreversivelmente em crise. Se a crise afecta o “estado social” e o próprio Estado, ou se o “estado social” pode entrar em crise e arrastar consigo o próprio Estado, impõe-se a reflexão: apesar de todos os esforços - e têm sido muitos - nem o Estado nem o “estado social” entre nós têm atenuado suficientemente as desigualdades entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco e têm dado condições de dignidade aos ainda muitos excluídos.

Nem o “estado social” nem o próprio Estado têm contribuído eficazmente para estabelecer maior harmonia entre Norte, Centro e Sul, Litoral e Interior. Não têm sido suficientes para impedirem a desertificação e a depressão do Interior português.
A somar a tudo isso, agora pairam no ar cinzentas nuvens de falência. As Instituições de Solidariedade lançam um desafio ao Estado e ao próprio “estado social”.
O Estado é tanto mais forte quanto mais ao serviço da comunidade estiver. Talvez isso obrigue a alguns consensos sobre quais devem ser as funções e quais devem ser os agentes: o Estado nem é o todo-poderoso nem é aquele que tudo sabe e que tudo faz e que só não faz o que não quer fazer e da sua magnanimidade deixa cair para os outros.
E exactamente em tempos de crise, não será o momento de afirmar que é tempo oportuno de o Estado se reencontrar melhor na sua missão de serviço e de o “estado social” dar um passo para se converter em estado solidário?

Apenas com esse passo, de estado social para estado solidário, se poderá salvar da falência e cumprirá a sua missão de pugnar e construir uma sociedade coesa, dinâmica e com futuro. Para todos.
Celebramos em Festa a Solidariedade. Não celebramos propriamente tempos de regozijo. A “crise” vem-se prolongando excessivamente. E talvez esteja a ser aproveitada por alguns agentes do Estado para alguma espécie de melhoria e solidificação do seu estado no seio do próprio Estado, desviando a sua missão de servidor para ocupar um trono em que se distanciam da comunidade. As Instituições de Solidariedade estão a sentir que, aqui e acolá, com excessivas e inexplicáveis exigências, o Estado mexe e remexe, chateia e enfraquece.

Enfraquece-se porque quando se arvora em carraça, tolhe os movimentos dos agentes, também dos agentes sociais, e contrai-se nos seus objectivos; e enfraquece os agentes sociais porque desincentiva o envolvimento e a solidariedade da comunidade.
As Instituições de Solidariedade são Instituições de excelência porque a sua vocação e a sua acção visa atrair com qualidade para a comunidade os mais carenciados, ao mesmo tempo em que combatem a tentação de uma pretensa excelência que, a pretexto de um qualquer puritanismo, seja via irreversível de progressivo e irremediável afastamento entre carenciados e favorecidos.

As actuais e sucessivas - e nem sempre explicáveis - exigências de alguns agentes do Estado, a pretexto da excelência, concretamente nesta área em que as Instituições de Solidariedade se movimentam, estão a desincentivar o voluntariado, estão a contrariar um sério combate contra a pobreza e exclusão social e estão a lançar a inquietação e a dúvida sobre o futuro das próprias Instituições de Solidariedade.
Estamos num país pobre em que muitos poderiam ser menos pobres se algumas exigências não fossem tão exorbitantes e só compreensíveis em países ricos – aliás, sensatamente, eles já abandonaram essas excessivas exigências e por isso não sentiram tanto os efeitos da crise.
Queremos crer que a morosidade na celebração de protocolos signifique o dar tempo ao tempo de procurar os melhores caminhos na cooperação e não o tempo de dar tempo ao tempo para que o zelo excessivo mine irreversivelmente o supremo valor da solidariedade.

Celebramos em Festa a Solidariedade. Não celebramos propriamente tempos de regozijo.
Neste ano a Festa é aqui bem no Interior Português, onde, mais do que em qualquer outro lugar, há equipamentos - ontem erguidos com esforço e hoje abandonados com resignação - e há campos convertidos em matagais olhados com lágrimas por gentes que carecem de pão ou de estímulo para lançar sementes de pão.
As Instituições de Solidariedade afirmam que não é com a contínua concentração no Litoral ou nas duas grandes áreas metropolitanas que as pessoas têm mais qualidade de vida e há mais futuro no futuro das populações.
Um Estado que se reencontra e um “estado solidário” que se afirma contrariam este depressivo ciclo em que parecemos mergulhados e ajudarão as Instituições de Solidariedade a darem nova vida a esses equipamentos abandonados com serviços de proximidade na área da educação, da saúde, da acção social e da economia.
Neste ano a Festa é aqui, bem no Interior Português, onde, mais do que em qualquer outro lugar, a solidariedade é uma riqueza que brota do coração. Impõe-se que também aqui se celebre a Solidariedade. O Interior clama solidariedade e clama por solidariedade.
Importa que os rostos lustrem a solidariedade dos corações. (…)”

 

Data de introdução: 2010-10-09



















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