Estão os países ricos a deixar as crianças pobres ficar para trás?, pergunta o Centro de Estudos Innocenti da Unicef. Num ranking de 24 países da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Portugal destaca-se pela positiva em matéria de igualdade de acesso a saúde e bem-estar, mas peca na educação e no bem-estar material.
Está tudo no relatório "As crianças que ficam para trás", hoje (3 de Dezembro) lançado em Helsínquia. O documento - o nono de uma série feita para acompanhar o desempenho dos países desenvolvidos - analisa a desigualdade em três dimensões: saúde e bem-estar, educação, bem-estar material.
Os autores não olharam para os mínimos e os máximos, como é costume quando se trata de desigualdade. Optaram por medir "o fosso entre a criança média (aquela que um país pode considerar "normal" - a mediana) e a criança que se encontra perto da base da pirâmide.
A maior parte dos dados foram recolhidos antes de a crise financeira e económica se instalar. O relatório tira um "retrato" dos tempos de prosperidade, lembra que as consequências mais pesadas das crises tendem a recair sobre as famílias mais vulneráveis e as suas crianças e conclui que os países ricos estão a deixar as crianças mais pobres ficar para trás.
Os primeiros classificados na tabela da igualdade: Dinamarca, Finlândia, Holanda, Suíça. No segundo grupo: Islândia, Irlanda, Noruega e Suécia. Portugal figura no terceiro grupo, a par da Áustria, do Canadá, da França, da Alemanha, da Polónia. À frente da Bélgica, da República Checa, da Hungria, do Luxemburgo, da Eslováquia, de Espanha e do Reino Unido. No fim, a Grécia, a Itália, os Estados Unidos. Só a Holanda e a Noruega ficam à frente de Portugal na igualdade de acesso à saúde e ao bem-estar. Tendo em conta o auto-relato de queixas de saúde, a alimentação saudável, a frequência de actividade física vigorosa.
A pior classificação de Portugal ocorre no bem-estar material, onde ocupa a 16.ª posição. E a pobreza infantil é mais do que pobreza de rendimento. Tem também a ver com oportunidades e expectativas, recursos de educação e cultura, habitação, cuidado e tempo parental.
No que concerne à educação, o país ocupa o 14.º lugar. Ora, este tipo de desigualdade "reflecte mais do que a lotaria do nascimento e das circunstâncias". Pode "resultar do esforço para reduzir as desvantagens socioeconómicas. Ou do esforço para enfraquecer a relação entre pobreza e resultados escolares".
"A ideia de que a desigualdade é um reflexo das diferenças de mérito não pode razoavelmente ser aplicada a crianças", sublinham os autores. "Poucos negarão que as circunstâncias iniciais de uma criança estão além do seu controlo. Ou que essas circunstâncias têm um profundo efeito na sua vida presente ou futura. Ou que crescer na pobreza acarreta um risco acrescido de piores níveis de saúde, de desenvolvimento cognitivo, de resultados escolares ou de mais baixos conhecimentos e aspirações e, eventualmente, de menores rendimentos na vida adulta, o que ajuda a perpetuar as desvantagens de uma geração para a seguinte."
Fonte: Público
Não há inqueritos válidos.