EDITORIAL

Ano Europeu do Voluntariado

1. Declarado oficialmente pelo Conselho de Ministros da União Europeia, 2011 é “Ano Europeu das Actividades Voluntárias que Promovam uma Cidadania Activa”. Com a iniciativa, há a pretensão de identificar e intensificar o apoio e o incentivo dos esforços desenvolvidos pela Comunidade, pelos Estados-Membros e pelas autoridades locais e regionais tendo em vista criar condições na sociedade civil propícias ao voluntariado e aumentar a visibilidade das suas actividades.

Com esse objectivo geral, pretende-se que seja criado e fomentado um ambiente propício ao voluntariado, dando meios às organizações que promovem o voluntariado para melhorar a qualidade das suas actividades, reconhecendo o trabalho voluntário e sensibilizando as pessoas para o valor e a importância do Voluntariado.
No ano em que se celebra o 10º aniversário do Ano Internacional dos Voluntários (2001), reconhecer 2011 como Ano Europeu do Voluntariado será um marco importante para evidenciar o empenhamento de cidadãos activos que, em todos os dias e, geralmente, em silêncio, põem em prática os valores da solidariedade e da coesão social.

2. No que à acção social concerne, entre associações de solidariedade social (3.010), centros sociais paroquiais (1.095), fundações de solidariedade social (190), misericórdias (346) e outras instituições e organizações religiosas (255), em Portugal, segundo os últimos números revelados pela Carta Social, há 4.896 Instituições Particulares de Solidariedade Social. Um número superior ao conjunto das 4.261 freguesias, o que, em média, significa mais que uma instituição solidária por cada freguesia. São muitas disponibilizações espontâneas e variadas as formas de associações, grupos e movimentos criados para cumprir os mais diversos tipos de objectivos. Com voluntários na sua origem e no seu espírito.

Implementadas, dirigidas, suportadas e desenvolvidas por voluntários. Responsáveis por muita acção social, por muito apoio educativo, por muita promoção de desenvolvimento e por grande suporte na saúde. Com alento eminentemente voluntário, asseguram mais empregos do que, por exemplo, o sector dos transportes. Pilar consistente na actividade económica. Capilaridade, caridade, cidadania, envolvimentos comunitários, gratuidade, inovação, proximidade e solidariedade como em nenhuma outra realidade.

Muito embora nem tudo esteja dependente do exercício do voluntariado – nem poderia ou deveria estar - um facto é que, por todo este país, desde o nordeste mais recuado ao insular mais ocidental, são voluntárias muitas das actividades de defesa da vida e do ambiente, da protecção civil e humanista, da promoção artística, cultural, desportiva, religiosa e social.
Poderá afirmar-se que é o voluntariado quem melhor tem interpretado e assumido o ideal de Juvenal “Mens sana in corpore sano” (promoção de espírito equilibrado em corpo equilibrado). Como também se poderá dizer que aí, na prática voluntária, está uma expressão sublime do exercício de cidadania. E, em conclusão, o voluntariado está nos genes e no coração do povo e é um saudável pulmão de actividade.
Por toda a parte, mas com particular incidência entre nós.

3. A história da cultura portuguesa demonstra que, em determinados momentos da sua vida, confrontadas com certos desafios, apareceram sempre voluntários nas nossas comunidades a responder com generosidade e com alguma originalidade, o que as colocou entre as mais inovadoras. Têm contribuído decisivamente para a consolidação de um novo tipo de sociedade, constituída a partir da base ou, se quisermos, a partir de comunidades concretas. Para além deste aspecto, nalguns casos, têm despertado ou consolidado as vontades singulares para o sentido da partilha dos bens e para a efectivação da vivência comunitária da causa comum.

Ao mesmo tempo, têm promovido o sentido do coração e da gratuidade na vida dessas comunidades. Demonstrando ainda que, quando as estruturas, os mecanismos sociais e os próprios sistemas o permitem, ou não o impedem, as comunidades, ou ao menos as vontades associadas como expressão destas, têm capacidade de tomar iniciativas, de se organizarem e de se mobilizarem na construção da sua própria vida e cultura. Aliás, isto tem a ver com a consciência do sentido de responsabilidade que essa mesma experiência despertou, ao promover a participação de todos na condução dos destinos da sociedade.

Quando parecemos mergulhados numa crise que se eterniza, talvez seja oportuno lembrar que há valores perenes e que nem todos os valores têm na simples remuneração um suporte estável. A actividade voluntária é um desses valores que é perfeitamente compatível com a promoção de serviços de proximidade, com o exercício da cidadania, com o préstimo ético das lideranças, com o serviço do belo, do bem e do bom e com os envolvimentos colectivos. Aí se desenharão vias de luz para um futuro mais luminoso.
Com voluntariado. Reconhecido e apoiado, formado e promovido. Desde os primeiros anos de vida e ao longo de toda a vida. Em todas essas vias para serem vias de luz e de cidadania activa.

 

Data de introdução: 2011-02-09



















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