OBER DE BAIÃO

Há meio século a proporcionar bem-estar

Tentar resolver as necessidades sociais de uma população rural de um concelho pobre foi a motivação de um grupo de cidadãos de Baião, impulsionados pelo, então, presidente da Câmara D. Manuel de Castro, para a fundação da OBER – Obra de Bem-Estar Rural.
Na fundação da instituição em 1961, as principais motivações da OBER eram promover o estudo dos problemas sociais do concelho e a sua solução segundo a doutrina social da Igreja, sendo que a sua acção para tentar resolver os problemas da comunidade devida pautar-se pela colaboração com os particulares interessados, fossem pessoas individuais ou entidades colectivas. Mais concretamente, a OBER devia promover a organização de centros de extensão familiar agrícola nas diferentes freguesias do concelho e impulsionar e coordenar actividades de obras locais que pretendessem colaborar na promoção do bem-estar rural de Baião.
Foram estas linhas orientadoras que guiaram os primeiros obreiros da instituição de um concelho que tem 20 freguesias, o que acaba, muitas vezes, por ser uma dificuldade acrescida à actividade da OBER.

Duas décadas volvidas, em 1982, no sentido de adequar os estatutos à realidade da altura, os responsáveis pela instituição promoveram uma alteração dos estatutos, reorientando objectivos. Contribuir para a promoção da população do concelho de Baião nos campos social, cultural, recreativo e educacional, também com uma vertente sócio-profissional; construção de creches e jardins-de-infância; construção de centros de apoio à família e à comunidade; e cooperação com entidades públicas e privadas para uma melhor prossecução dos propósitos da mesma passaram a ser os fins a atingir.

MEIO SÉCULO DE ACTIVIDADE

Quando há meio século iniciou actividade, a OBER foi, acima de tudo, uma luz que surgiu para muitas jovens de Baião, pois acabou por ser a instituição a tirá-las de casa e a promover o seu desenvolvimento sócio-educacional.
“A OBER nasceu após a realização de reuniões em todas as freguesias do concelho, onde se arranjaram equipas que foram avaliando as necessidades mais prementes das comunidades”, começa por explicar o presidente da Direcção, Orlando Baptista, recordando: “Então, começaram a recrutar raparigas, e tirá-las de casa dos pais era mais difícil nos meios rurais, com o intuito de as preparar para a vida e para o trabalho de apoio. Na altura, foram ainda criadas duas escolas aqui no concelho onde preparavam essas raparigas, que tinham o título de trabalhadoras rurais, com a finalidade principal de dar injecções, fazer medicamentos, apoiar as pessoas e fazer limpezas, entre outras coisas”.

Uma vez que as tradicionais culturas do milho e do feijão “davam muito trabalho e pouco rendimento”, as raparigas foram igualmente preparadas para ensinarem novas culturas agrícolas, tendo, nessa altura, sido lançadas várias experiências nos vales de Ovil e de Santa Marinha do Zêzere.
“Estas senhoras que estavam espalhadas pelas freguesias começaram, mais tarde, a apoiar a renovação das casas de habitação dos mais carenciados”, refere ainda o presidente da OBER, que vê na vertente educacional da instituição o seu mais valioso contributo para o desenvolvimento do concelho.

“Posteriormente, a OBER lançou-se no ensino primário de adultos, para que as pessoas conseguissem pelo menos escrever o nome. Foi na época do padre António Caetano da Silva, da freguesia de Gôve, que entrou em funcionamento o Ciclo Preparatório TV (CPTV), uma das obras mais importantes lançadas nessa altura. Foram, então, lançados CPTV em Campelo, Santa Marinha do Zêzere e em Frende, a freguesia mais afastada da sede de concelho. Tentou-se igualmente em Gôve e em Santa Leucádia, mas entretanto o Estado criou o 5º e o 6º anos nas escolas primárias e já não havia razão de ser para o investimento”, conta Orlando Baptista, recordando que foi por essa altura que “os responsáveis da OBER começaram a pensar na edificação de um colégio, tendo já um terreno comprado para o efeito”.

Mas uma vez mais, a resposta do Estado, com a construção da escola secundária em Baião, inviabilizou a intenção da instituição. No entanto, isto não é algo que retire motivação à instituição.
“A OBER sempre gostou de lançar ideias, mas logo que as respostas surgiam afastava-se. Conforme as necessidades iam surgindo, a OBER avançava com obras, mas logo que apareciam pessoas que quisessem continuar esse trabalho a OBER afastava-se. Ainda hoje funciona assim”, ressalva o actual presidente da Direcção, lembrando que “a instituição teve influência em todas as freguesias do concelho, logo pelas comissões de freguesia que davam sugestões, pareceres e pediam ajuda”.

APOIO À INFÂNCIA E À VELHICE

Numa fase posterior, e uma vez mais procurando dar resposta às necessidades da comunidade baionense, a instituição investiu no apoio à infância, lançando diversos jardins-de-infância.
“Foi da OBER o primeiro jardim-de-infância do concelho de Baião, em Campelo”, sublinha Orlando Baptista, acrescentando: “Depois, a OBER foi espalhando jardins-de-infância pelas freguesias e, neste momento, temos equipamentos a funcionar em Campelo, Gôve, Ancede, Santa Marinha do Zêzere e Loivos da Ribeira. E ainda temos duas creches, que são o Traquinas I, aqui em Campelo, e o Traquinas II, em Gôve, uma obra inaugurada em Janeiro”.

As valências, em que a OBER apoia mais de 350 utentes, em várias das 20 freguesias de Baião, com um quadro de pessoal de 56 funcionários, são: cinco jardins-de-infância em Campelo (71 utentes), Gôve (48), Ancede (24), Santa Marinha do Zêzere (24) e Loivos da Ribeira (19); duas creches, ambas com 28 crianças, em Campelo (Traquinas I) e em Gôve (Traquinas II); dois centros de ATL, em Campelo (10 crianças) e em Ancede (20); um Centro de Dia, em Campelo (20 utentes); um Centro Ocupacional de Convívio (20 utentes); Serviço de Apoio Domiciliário (41 utentes), nas freguesias de Ancede, Gôve, Campelo, S. João de Ovil, Loivos do Montes, Gestaçô, Teixeira e Teixeiró; e 10 casas de habitação social em Frende, Ancede e Valadares.

A OBER desenvolve ainda o programa Família e Comunidade que, como explica o presidente da instituição: “É o nosso apoio à família e à comunidade, ou seja, se uma família tem necessidade de alimentos, como somos depositários de bens do Banco Alimentar, distribuímos consoante o estudo feito pela nossa equipa, que é composta, entre outros, por uma assistente social e uma psicóloga, que são as encarregadas do Serviço de Apoio Domiciliário e da valência Família e Comunidade. Neste momento, apoiamos mais de 50 famílias carenciadas de diversas formas em todo o concelho”.

BALANÇO POSITIVO

Apesar da diversidade de respostas, a instituição de Baião debate-se com um problema cuja resolução não é fácil. A maioria das valências funcionam em edifícios alugados, o que não só as onera, como não é um equipamento construído a pensar nos fins a que se propõe atingir.
“Temos muitas valências, mas estão quase todas instaladas em casas alugadas. Nós temos comprado terrenos, como, por exemplo, em Ancede e em Santa Marinha do Zêzere, para construirmos equipamentos de raiz próprios”, revela Orlando Baptista.

De facto, muitas das instalações das valências da instituição, apesar de servirem com brio os utentes, mereciam a dignidade de umas instalações próprias e pensadas para o efeito. Outra questão, mas que não tem resolução, é o facto de os equipamentos estarem espalhados pelo concelho, o que dificulta a gestão da instituição. Mesmo assim, a OBER continua a sua missão no concelho de Baião e, por isso, celebrou este ano 50 anos de história a ajudar os baionenses.

“O balanço é extremamente positivo, especialmente para as pessoas que temos apoiado. Estou absolutamente convencido disso, porque, para além de ser positivo, tem sido necessária a acção da OBER”, afirma o presidente da Direcção e adianta: “Houve a necessidade durante determinada época, que fez nascer a OBER, e agora sente-se a necessidade de dar continuidade ao apoio à comunidade. Embora com dificuldades, e apesar da melhoria das condições de vida das pessoas, relativamente à época em que a OBER foi criada, a verdade é que ainda hoje continua a sentir-se necessidade da instituição. Veja que alguns dos nossos jardins-de-infância têm próximos equipamentos oficiais, mas as pessoas continuam a preferir os nossos. Esta é uma instituição necessária no concelho”.

Por isso mesmo, Orlando Baptista, professor reformado, sustenta que, sem a OBER, “Baião, se calhar, era mais pobre e menos solidária, com menos apoio a quem mais precisa”.
“A maneira como a OBER está espalhada pelo concelho é uma grande mais-valia para Baião. Pois quando nasceu, a OBER ensinou agricultura, lançou o ensino da leitura e da escrita em muitos locais, lançou o ciclo preparatório, criou o apoio médico”, argumenta o presidente da instituição, que destaca uma situação: “Tirou as raparigas de casa, o que para mim é algo muito importante, porque foi à custa da OBER que a mulher baionense começou a ter autonomia… Ainda me recordo que em Gôve várias moças saíram de casa dos pais para irem à escola, numa época em que se dizia tudo e mais alguma coisa dos padres e das pessoas que andavam fora de casa, e isso foi como que o início da independência da mulher que vivia nos meios rurais”.

E o reconhecimento da população da importância do papel da instituição nas suas vidas é efectivo, visível, segundo o responsável directivo, na procura das suas valências: “A população o que quer é ser servida e a prova de que a população nos aceita muito bem é que todas as valências da OBER são solicitadas e estão completas. Isso é o reconhecimento público de que a OBER está a fazer um trabalho útil que vai de encontro às necessidades das pessoas”.

DOIS LAMENTOS

Esforçando-se por estar atenta e dar resposta às necessidades da população, era desejo da OBER construir mais um jardim-de-infância e um Centro de Convívio.
“Gostaríamos muito de construir um jardim-de-infância e um centro de convívio em Santa Marinha do Zêzere. Já temos um terreno, que comprámos a pensar nesse equipamento. Apresentámos uma candidatura ao PARES, mas não foi aprovada. Outra valência de que temos necessidade é um lar de terceira idade em Ancede”, revela o dirigente, que lamenta ainda a falta de dinheiro para cumprir o desejo de uma benemérita que doou uma casa solarenga e zona envolvente à OBER: “A senhora pediu apenas que ali se fizesse um centro de apoio para crianças e jovens desfavorecidos. Só que as obras necessárias envolvem um investimento tão elevado que temos tido muita dificuldade em conseguir dinheiro para avançarmos com o projecto”.

Um outro lamento que o presidente da OBER deixa na conversa com o Solidariedade é o da falta de coordenação entre as diversas instituições do concelho, o que acaba por levar a um aumento das despesas fruto de uma duplicação de esforços.
“Penso que está a haver duplicação no Serviço de Apoio Domiciliário... As IPSS têm que arranjar pessoas a quem vão apoiar, mas o que acontece é que, muitas vezes, no mesmo lugar da mesma freguesia vão duas IPSS diferentes. Se o concelho fosse dividido em áreas de influência ou de apoio, se calhar, as pessoas seriam melhor servidas e não se gastaria tanto dinheiro”, alerta Orlando Baptista, que questionado sobre o funcionamento da Rede Social, responde da seguinte forma: “Dizem que é coarctar a liberdade das pessoas!”.

No caso da OBER, o Apoio Domiciliário aos 41 utentes, sendo que apenas 30 são abrangidos pelo Acordo de Cooperação, cobre a zona norte do concelho de Baião, em concreto nas freguesias de Ancede, Gôve, Campelo, S. João de Ovil, Loivos do Montes, Gestaçô, Teixeira e Teixeiró.
”A estas mesmas freguesias vão outras instituições prestar apoio. Isto não nos deixa aumentar a qualidade, porque muitas vezes vamos a lugares apoiar uma única pessoa, que distam 20 ou 30 quilómetros…”, lamenta Orlando Baptista.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2011-09-20



















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