A promoção do desenvolvimento harmonioso das crianças e jovens, através da implementação de estruturas educativas e de ocupação de tempos livres; o apoio a adultos e idosos dependentes, com vista ao seu bem-estar físico e psicossocial, por intermédio da prestação de serviços e implementação de estruturas nesse sentido; o apoio e capacitação de famílias em risco, através do desenvolvimento de programas de intervenção especialmente concebidos para o efeito; a prestação de serviços à comunidade, rentabilizando estruturas e serviços já existentes; o envolvimento da comunidade e a promoção do voluntariado; a co-responsabilização e satisfação dos utentes/clientes; a satisfação e evolução dos colaboradores; e a sustentabilidade e progresso da própria instituição são os grandes objectivos estratégicos do Centro Comunitário Paroquial de Famões, sito no concelho de Odivelas.
Para uma melhor prossecução destes propósitos, o Centro inaugurou este ano um novo edifício, o único de que é proprietário, uma vez que desde a fundação em 1998 as diversas valências têm funcionado sempre em espaços emprestados, alugados ou cedidos.
Aquando da entrada em actividade do edifício-sede da instituição, esta estava espalhada por uma dezena de locais, sendo que agora são apenas sete.
No novo equipamento, que ainda só tem concluída a primeira fase do projecto, foram instaladas as valências de Creche e Centro de Dia. A primeira funcionou durante sete anos numa vivenda adaptada para o efeito, enquanto a segunda valência é criada apenas agora, altura em que a instituição tem condições para a albergar. Com a criação desta valência, o Centro Comunitário deixa de ter Centro de Convívio, até há pouco a funcionar no salão anexo à igreja paroquial, onde já havia funcionado o ATL, mas onde as condições não eram as exigidas e ideais para o melhor funcionamento destas duas valências.
“Em primeiro, precisávamos de um rosto para o trabalho que fazemos, pois estávamos espalhados por 10 edifícios, agora por sete, mas todos eles alugados ou cedidos pela igreja, pela escola ou pela autarquia…”, começa por referir Júlio Francisco, director técnico do Centro Comunitário Paroquial de Famões, especificando: “Precisávamos de ter um pouso que fosse o nosso ex-libris… Agora, com as regras todas de licenciamento, de segurança e da própria ASAE, estávamos em condições mínimas, o que resultava também em menor rentabilização económica. Em termos económicos este edifício também vem ajudar à sustentabilidade da instituição, mas agora temos que o pagar, pois tivemos que recorrer à banca”.
A construção do novo edifício era um anseio antigo, mas este está ainda no início, como explica o director técnico: “A aspiração é concentrar todas as valências no novo edifício. Este edifício está pensado para ser construído em três fases: a primeira, era para ser creche e pré-escolar, mas, para já, é creche e centro de dia, porque o pré-escolar ficou fora da candidatura; a fase dois, a sede do apoio domiciliário, a cozinha, a lavandaria e ainda os serviços administrativos, mas ainda falta o lar, pois só há lares privados e o da Segurança Social está sempre cheio; a terceira fase está pensada para criarmos uma unidade de cuidados continuados”.
RESPOSTA À COMUNIDADE
O Centro Comunitário Paroquial de Famões surgiu no final da década de 90 do século passado, quando o pároco local, o padre Daniel Henriques se apercebeu que um grande número de crianças após o período escolar ficam como que ao abandono na rua, por não haver um local onde ocupassem os tempos livres.
Esta situação era especialmente evidente no bairro social, chamado de Quinta das Pretas, onde haviam sido alojadas as vítimas das cheias de Odivelas, nos idos anos 1960, num total de cerca de 80 famílias.
Em resposta a esta necessidade, sob o patrocínio da Igreja, nascia em 1998 o Centro Comunitário Paroquial de Famões que avançou, no ano lectivo de 1999/2000, com a valência de ATL com um total de 20 crianças.
No âmbito do Projecto Integrar e Desenvolver Famões, aprovado pelo Comissariado Regional do Sul da Luta Contra a Pobreza, a instituição alargou a sua acção às áreas social, profissional, saúde, instrução e psicológica.
É neste sentido que a instituição progressivamente alarga as suas respostas também aos idosos, sendo que actualmente desenvolve as valências de Creche, Pré-escolar, ATL, CAAF (Centro de Actividades e Apoio à Família, Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Dia.
“O Centro de Convívio, com a abertura do Centro de Dia, acabou. O Centro de Convívio funcionava aqui na igreja, depois que o ATL foi para a escola, e tinha cerca de 50 idosos, muito autónomos e auto-suficientes. No entanto, não podemos continuar com essa resposta, porque não temos espaço para ela”, sustenta Júlio Francisco, que ainda tem esperança em encontrar uma alternativa: “Estamos a procurar com a Segurança Social a melhor solução, porque construímos o Centro de Dia dado que era o que estava na candidatura. É uma valência para 60 utentes, mas pensava eu que podíamos encontrar aqui uma forma 20/40 ou 30/30 para Centro de Dia e Centro de Convívio, mas neste momento não me parece que seja solução…”.
O fim da resposta Centro de Convívio está mesmo a levantar um “problema grave” à instituição, “que é motivar os idosos e entusiasmá-los para que venham para o Centro de Dia, no que é possível na luta contra a solidão e o isolamento”, refere o director técnico, que acrescenta: “Temos que encontrar uma solução, que ainda não temos… Depois, no Centro de Dia é preciso pagar mais um pouco e muitos idosos acham que não precisam, porque ainda são bastante autónomos”.
CRESCIMENTO EXPONENCIAL
No momento do encerramento, o Centro de Convívio era frequentado por 50 utentes, sendo que a nova valência de Centro de Dia tem capacidade para 60 utentes. Nas demais valências, a instituição presta apoio a mais de 300 utentes, contando com um corpo de funcionários de 74 elementos: em Creche (no novo edifício) são 84 crianças, divididas por seis salas; em Pré-escolar são 45 crianças (Casal da Silveira), divididas por duas salas; em ATL são 45 (Escola da Quinta das Pretas), 70 (Escola da Quinta das Queimadas) e nove na Escola da Quinta das Dálias; em Serviço de Apoio Domiciliário são 30 idosos (cinco dias por semana) e 12 (sete dias por semana); no CAAF, na Quinta das Queimadas, a instituição presta apoio a 40 famílias.
Para além destas valências, o Centro de Famões serve diariamente mais de 300 refeições, presta apoio a 350 beneficiários do RSI e ainda distribui alimentos provenientes do Banco Alimentar a 100 famílias.
A valência que esteve na génese da instituição foi o ATL, que em Famões acabou por não ser afectada pela resposta estatal pela circunstância de o Centro não ter um espaço próprio e com condições para albergar esta resposta.
“Aqui não sofremos com a resposta do Estado, mas como dirigente da UDIPSS de Lisboa tenho sentido esse problema e tenho visto que esta solução encontrada pelo Governo anterior deixou muitas instituições à beira de um ataque de nervos. Fruto das circunstâncias acolhemos uma oportunidade que nos manteve a salvo… Como não temos um espaço de ATL, nem nunca tivemos, funcionava no salão da igreja que não tinha grandes condições, mudámos o ATL para as instalações da escola. Pareceu-nos uma solução ideal esta parceria com a escola, porque no fundo só temos custos com os recursos humanos. Fruto dessa nossa circunstância, não tivemos diminuição de crianças, até tivemos um aumento, porque abriu uma escola nova cujas crianças também precisavam de apoio. Assim, abrimos também lá um ATL que até veio complementar o outro. Para ter uma ideia, tínhamos 40 crianças quando se deu esta mudança e, neste momento, já vamos em 135”, explica Júlio Francisco, que deixa uma crítica às alterações introduzidas pelo Governo anterior: “Foi um momento difícil, porque, com a passagem de tempo inteiro só para pontas, o ATL perdeu qualidade e perdeu oportunidade, porque não dá para fazer actividades numa hora ou em meia-hora, trata-se simplesmente de fazer guarda de crianças… Portanto, aquilo que eram os objectivos específicos desta valência perderam-se completamente”.
SUSTENTABILIDADE SOB MIRA
O crescimento da valência de ATL a que a instituição assistiu, em sentido inverso à maioria das IPSS do País, acabou por ser muito importante para a sustentabilidade do Centro Comunitário de Famões.
“A escola da Quinta das Pretas, oficialmente rebaptizada de Escola Sophia de Mello Breyner Andersen, sempre recebeu em grande escala crianças oriundas de famílias desestruturadas, mas atender essa população é também a nossa missão principal, mas em termos financeiros desequilibrava muito as contas. O ATL foi a primeira valência, mas sempre deu prejuízo e dá em todas as instituições que conheço, porque não é uma valência que se auto-sustente. Mas o ATL nesta nova escola veio equilibrar um pouco as contas. No ATL da Quinta das Pretas são cerca de 60% das crianças a pagar cerca de 9 euros enquanto no da Quinta das Queimadas são 60% a pagar 85 euros”, revela o director técnico.
Júlio Francisco revela ainda mais uma intervenção na comunidade que o Centro protagoniza, que tem que ver com a componente de apoio à família: “O serviço público de pré-escolar é gratuito, mas apenas das 9h00 às 15h00. Antes das 9h00 e depois das 15h00, os pais ficam com a batata quente nas mãos e cria-se um problema que as Câmaras estão a tentar resolver por esta via de apoio à família, que nós, mais uma vez, aproveitámos a oportunidade e fomos para essa reposta. Há crianças que saem do nosso pré-escolar para ir para o público, mas depois cá voltam não para o pré-escolar, mas pelo CAAF. Por estarmos sozinhos temos respondido a mais coisas do que, às vezes, poderíamos, mas procurando não pôr em risco a sustentabilidade, mas sempre ousando ir para além disso… O primeiro critério que nos preocupa não é a sustentabilidade, mas o que as pessoas precisam. Isto já vem um pouco da nossa acção no programa de Luta Contra a Pobreza”.
Para Júlio Francisco o grande crescimento da instituição deve-se à constante resposta às necessidades da comunidade, numa freguesia onde não há mais instituições: “Foi esta espiral que fez com que a instituição se fosse desenvolvendo, nunca com ideias pré-feitas, mas sempre em função do que as pessoas necessitavam. É por isso que a instituição tem esta dimensão, um bocadinho maior do que se pensava inicialmente, porque as pessoas também têm percebido que caminhamos com elas”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2011-11-04