PARQUE BIOLÓGICO DA SERRA DA LOUSÃ

Prémios são reconhecimento pelo trabalho feito

Em parte dos seus 12 hectares, o Parque Biológico da Serra da Lousã, em Miranda do Corvo, concentra a mais vasta colecção de animais selvagens autóctones de Portugal, tem o único labirinto de árvores de fruto do Mundo e integra ainda um Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais (olaria, tapeçaria, cestaria e vime)… Mas a grande mais-valia deste espaço, que nasceu de uma parceria entre a Fundação ADFP (Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional) e a autarquia de Miranda do Corvo, está na criação de emprego e de actividades ocupacionais para pessoas vítimas de exclusão laboral, como desempregados de longa duração, deficientes ou doentes crónicos, integrando, promovendo a igualdade e a dignidade humana e incentivando a biofilia e a paixão pela protecção da Natureza.
Isso mesmo tem sido reconhecido por variadíssimas entidades e, nos três anos de existência o Parque Biológico da Serra da Lousão tem sido agraciado com diversos prémios.
Este ano mais três distinções voltaram a relevar a importância do trabalho desenvolvido na outrora chamada Quinta da Paiva. O mais recente foi o Prémio Damião de Góis de Empreendedorismo Social, uma iniciativa do Instituto Português de Corporate Governance, em parceria com a Embaixada do Reino dos Países Baixos em Lisboa, e que atribuiu ao Parque uma verba de 10 mil euros.
“O Prémio Damião de Góis é muito importante, para nós, fundamentalmente pelo reconhecimento, porque foi a primeira vez que foi atribuído em Portugal, o que nos deixa muito satisfeitos”, começa por afirmar Jaime Ramos, presidente da Fundação ADFP, destacando: “E acabámos por competir com outros belíssimos projectos, na sua maioria de Lisboa, com algumas dessas candidaturas a serem patrocinadas por grandes empresas nacionais”.
Antes, a EDP Solidária já havia premiado o novo projecto de Queijaria e Fumeiro, com 75 mil euros, e o INR – Instituto Nacional de Reabilitação o do Museu do Doce, ao qual atribuiu cinco mil euros, duas estruturas que irão ocupar áreas desactivadas da quinta, criando ainda mais alguns postos de trabalho para pessoas com deficiência ou em situação de exclusão.
Neste último, os trabalhadores produzirão, colherão e confeccionarão produtos (das compotas às geleias) a partir de frutos cultivados no Parque e que, depois, serão vendidos na loja do Parque, onde já é vendido tudo o que é produzido no Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais.
“Em primeiro lugar, a grande importância é o facto de haver um reconhecimento nacional pelo trabalho que uma instituição local desenvolve na Região Centro e esse reconhecimento é importante… Em segundo lugar, o aspecto económico também é… O prémio da EDP Solidário tem algum significado, que nos vai permitir criar no Parque este centro interpretativo ligado à produção do queijo e do fumeiro tradicional, que é importante para os visitantes, que ficam a conhecer como é que estas duas actividades tradicionais aconteciam e acontecem, nas quintas e nas casas das aldeias, e, claro, porque também nos permite desenvolver mais algumas actividades ocupacionais que são realizadas por pessoas com deficiência mental”, sustenta Jaime Ramos, para quem a grande mais-valia daquele espaço é a oportunidade laboral dada a quem está em risco ou mesmo em exclusão: “O aspecto mais saliente do Parque é destinar-se a criar postos de trabalho e actividades ocupacionais para pessoas vítimas de exclusão laboral, sejam desempregados de longa duração, sejam deficientes ou doentes mentais, mas também não podemos esquecer o outro aspecto muito relevante, que está ligado à biofilia e à protecção da Natureza e de hoje já ser, talvez, a melhor colecção de vida selvagem que há em Portugal. Qualquer pessoa, nacional ou estrangeira, que queira conhecer a vida selvagem do território português deve vir a Miranda do Corvo visitar o Parque Biológico”.
Como explica Sofia Santos, terapeuta ocupacional e responsável operacional do Projeto da Queijaria e Fumeiro, “há duas palavras-chave associadas ao Parque Biológico da Serra da Lousã, que são a biofilia, que passa pelo incentivo da paixão pela Natureza, tanto aos visitantes como às pessoas que aqui trabalham, e a ecobiótica, que é tentar retirar da Natureza o maior partido terapêutico”.
O lançamento do projecto do Parque Biológico, que abriu portas em 2009, “surgiu pela necessidade evidente de integrar estas pessoas”, afirma Sofia Santos que revela com orgulho que “80% das pessoas que trabalham no Parque, cerca de 60 pessoas, têm problemáticas a nível de doença mental, incapacidades ou vítimas de exclusão laboral”.
A Fundação ADFP está à beira de celebrar um quarto de século de vida de trabalho em prol da reabilitação e integração de pessoas com deficiência, tendo vindo a realizar, igualmente, um trabalho extraordinário junto dos doentes mentais graves.
Jaime Ramos não quer olhar para estes três prémios como prendas pelos 25 anos de existência da instituição, mas sente-se muito realizado: “Para uma instituição, que, ainda por cima, está fora de um grande centro, é muito importante para ela e para os seus colaboradores sentirem que o seu trabalho é reconhecido em termos nacionais. De facto, já tivemos outros prémios nacionais ligados ao Parque, mas gosto sempre de recordar que a primeira vez que Portugal esteve representado nos Jogos Paralímpicos em Equitação Adaptada foi com um cavaleiro do Centro Hípico do Parque Biológico da Serra da Lousã, de seu nome Carlos Baptista, e foi na Grécia”.



Em períodos de férias escolares, o Parque promove diversas actividades para crianças dos 7 aos 13 anos, que começam sempre por uma visita-guiada ao espaço, uma breve explicação sobre os animais e depois segue-se um variado conjunto de actividades, “como fazer compotas a partir dos frutos das árvores do labirinto, pintar t-shirts, alimentar os animais, construção de ninhos artificiais, sempre actividades relacionadas com o Parque”, explica Rita Travasso, bióloga a estagiar na instituição, e para quem, ou não fosse a sua formação na área, “a protecção das espécies é a grande mais-valia do Parque, pois, caso contrário, algumas já estariam extintas”.



Lobos, ursos pardos, raposas, veados, lontras, cágados-mediterrânicos, esquilos, furões, javalis, milhafres, peneireiros, açores, águias ou corujas podem ser obsercvados de bem perto no Parque Selvagem, mas também diversos tipos de vacas, porcos, galináceos, cabras, ovelhas, cavalos e burros, na área dedicada aos animais domésticos de raças tradicionais portuguesas!



Uma autêntica viagem ao mundo rural, com a possibilidade de fazer uma incursão ao mundo dos animais selvagens que povoam o território português e que tantas vezes habitam na órbitra das nossas aldeias e quintas.
Isso mesmo releva o presidente da instituição, que, no entanto, salienta o aspecto inclusivo que sempre esteve na génese do projecto: “Esta é uma forma de alertar as pessoas para as questões ambientais e da protecção da Natureza e ainda da necessidade que temos de investir nas pessoas e criar condições para que pessoas com deficiência mental também possam ser úteis à sociedade”.
Para além de todas estas mais-valias sociais, os novos projectos a lançar, e que serão patrocinados pelos prémios ganhos, contribuirão ainda para a sustentabilidade do próprio Parque.



“No projecto da Queijaria e do Fumeiro vamos aproveitar infra-estruturas já existentes e ainda a carne e o leite produzidos aqui no Parque… Os produtos serão para venda na nossa loja, mas como temos que tornar o projecto o mais sustentável possível, por certo iremos vender a nível nacional e, certamente no futuro, talvez para o estrangeiro”, defende Sofia Santos, que acrescenta: “O Parque ainda não é auto-sustentável, mas está no caminho certo. O objectivo é não depender de fundos”.



O espaço acolhe o que é designado por Museu de Miranda, que integra o Museu da Tanoaria, instalado num edifício que foi a primeira casa da, então, Quinta da Paiva, onde habitava o caseiro Paiva, daí o nome da quinta! A este espaço junta-se todo o ecomuseu ao ar livre, onde é possível ver diversos mecanismos de rega e transformação de produtos agrícolas musealizados, como o açude no rio, a levada com muros em xisto, a nora, o moinho de farinha movido a água, o moinho em madeira movido pelo vento, engenhos de água movidos com animais, uma picota e uma bomba de extracção de água com energia humana…



O Parque Biológico da Serra da Lousã, para além do trabalho inclusivo com uma comunidade em exclusão laboral, é um espaço que dinamiza o turismo em Portugal, do que realmente é português, integrando ainda o Restaurante Museu da Chanfana, que é uma homenagem à gastronomia tradicional da região, e que assenta na carne de cabra velha, de porco e ainda na caça e pesca.
Uma visita ao espaço, não apenas enriquece o visitante como ajuda quem precisa…

Pedro Vasco Oliveira (fotos e texto)

 

Data de introdução: 2012-08-08



















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