No próximo dia 6 de Outubro, a cidade de Faro recebe a Festa da Solidariedade 2012, naquela que é a primeira realização do evento da CNIS a Sul. Alexandra Gonçalves, vereadora da Acção Social da Câmara Municipal de Faro, traçou um retrato do concelho farense, deu conta do que a autarquia tem feito para minimizar os efeitos da crise sobre a população e mostrou-se esperançada que Faro e os farenses voltem a mostrar a sua faceta solidária, aderindo em força à Festa da Solidariedade.
SOLIDARIEDADE – Como retrata económico-social o concelho de Faro?
ALEXANDRA GONÇALVES - Faro é uma cidade, sobretudo, de serviços, e é a capital de distrito e do Algarve onde estão concentrados uma série de serviços da Administração Pública, central e local, por isso, não tem sofrido tanto com esta flutuação do sector hoteleiro e turístico, conforme tem acontecido noutros concelhos. Os números do desemprego também estão a aumentar, mas não de forma tão acentuada como naqueles concelhos que dependem mais do turismo, onde se sentiu algum decréscimo da procura, especialmente no resto do ano, porque em Agosto está tudo ocupado e há muita gente. Em Faro tem-se assistido ao crescimento do turismo excursionista, ou seja, daquele visitante de um dia, vamos tendo novas unidades hoteleiras e até tivemos algum volume de novo investimento privado que trouxe mais turistas à cidade. Por isso, creio que, apesar de haver uma descida do emprego e algum aumento de desemprego, não temos uma situação tão preocupante como a de outros pontos da região e do País. Em Julho, Faro tinha um pouco mais de três mil desempregados registados no Instituto de Emprego e Formação Profissional, mas estamos atentos, vamos acompanhando os indicadores e estamos a trabalhar em rede com as instituições de solidariedade. Conforme vão surgindo os casos mais preocupantes, com as novas cantinas sociais e através do apoio das instituições, vamos dando algum apoio às pessoas para não ficarem totalmente desprotegidas.
Referiu o trabalho em rede com as IPSS, como tem funcionado essa articulação?
AG - É verdade que vivemos hoje um novo paradigma, porque até há dois, três anos havia alguma
capacidade de os municípios e outras entidades apoiarem monetariamente quer famílias, quer as próprias IPSS, dando algum conforto nos apoios que, por sua vez, estas prestam à comunidade. Neste momento, sabemos que não há condições para dar apoios monetários. Então, dentro dos recursos que estão ao nosso dispor, em parceria com as instituições, estudamos formas de apoiar que possam reduzir os custos e as despesas das pessoas no dia-a-dia. É muito por aí que se está a trabalhar e fazemo-lo em rede… Criámos dois núcleos de apoio, um aos sem-abrigo e outro na área do vestuário e alimentação, em que trabalhamos mais próximo com as instituições que têm respostas nestas áreas. Assim, temos vindo de uma forma muito empenhada e com grande trabalho conseguido pôr as instituições mais próximas do município, mas também dos cidadãos que realmente precisam. Para além disto, criámos recentemente um grupo de apoio ao idoso. Estamos também a tentar criar na área da terceira idade um grupo específico de trabalho para caracterizar os idosos mais carenciados, porque o nosso concelho tem uma área rural e outra urbana, que são diferentes. E constatamos que também no espaço urbano há muita gente a viver sozinha e com grandes carências, que acabam por passar despercebidas. Estamos a trabalhar, igualmente, com as entidades de segurança, PSP e GNR, no sentido de melhor conhecer esta população e encontrar, juntamente com as instituições, as melhores formas de resposta.
Quais as necessidades mais prementes que têm identificado?
AG - Realmente, o que sentimos é que as pessoas estavam todas a viver acima das suas possibilidades, com muitos créditos sobre os seus vencimentos, e que agora não têm capacidade de pagar, porque aumentou o nível de vida, o custo da alimentação e de tudo o resto. Como têm muitos créditos não conseguem cumprir e para cumprir com esses compromissos e saldarem os empréstimos deixam de cumprir com outras coisas, como a renda da casa, a água ou a luz… E, de facto, há muita dificuldade de resposta, porque o que conseguimos fazer é tentar reduzir os custos com a alimentação e vestuário que as pessoas têm, dando apoio em géneros, porque apoio monetário não temos condições para o fazer.
Essas são situações que potenciam a existência de pobreza envergonhada?
AG - Sim, mas algumas começam a sair dessa pobreza envergonhada e são pessoas muito revoltadas, porque acabam por sentir que foram um bocado empurradas para esta situação pela facilidade com que se dava crédito ao consumo e acabavam por se sentir menos responsabilizadas por aquilo que agora lhes está
a cair em cima. Mas, de facto, penso que também há falta de informação às pessoas sobre o que representavam estas facilidades dos créditos e o sistema financeiro empurrou muito as pessoas para estas situações… Dentro das nossas possibilidades vamos ajudando, mas também há outras entidades a ajudar as pessoas nesta questão da renegociação dos créditos, como a DECO, com a qual também temos uma parceria. Dentro do possível, vamos sensibilizando e ajudando as pessoas…
Como vê o papel das IPSS até aqui e, especialmente, neste período de grandes dificuldades para as pessoas e para as famílias?
AG - Acho que as IPSS são uma grande força da sociedade actual e que também têm vindo a aperceber-se da necessidade de adaptação a esta nova realidade. É claro que esta situação também tem influência sobre os seus orçamentos, porque se os municípios e outras entidades antes podiam dar-lhes apoios directos para elas depois poderem disponibilizar às pessoas e às famílias, neste momento isso não acontece, pelo que as instituições de solidariedade viram o apoio institucional reduzido, estando a encontrar novas formas de apoiar as pessoas e não têm falhado. Em Faro temos 90 instituições no Conselho Local de Acção Social (CLAS), umas mais dinâmicas do que outras, como em tudo na vida, mas temos conseguido mobilizá-las, interagir e resolver situações difíceis de algumas famílias. Por isso, só temos que agradecer às que são verdadeiros parceiros…
Os farenses têm espírito solidário?
AG - Acho que sim… O facto de termos 90 instituições criadas nesta área demonstra isso mesmo, porque elas saem do tecido social local, apesar de algumas terem representação nacional. É claro que temos de tudo, há pessoas que gostam mais de ajudar e fazem-no de forma mais aberta e outras que o fazem de forma mais desconhecida mas, se calhar, com maior expressividade. Temos tido constantemente campanhas de angariação de fundos, festas com intuito solidário e a Câmara coloca muitos equipamentos ao dispor da comunidade para fazerem este tipo de campanhas e, a verdade, é que os resultados têm sido sempre positivos. Agora, verifica-se que há muita campanha e, por vezes, a adesão já não é tão forte, nem aquela que se esperava, mas as pessoas viram os seus rendimentos reduzidos e a sua capacidade de ajudar é menor. Talvez não dêem tanto como já deram, mas isso é natural face ao momento que vivemos.
Como é que a autarquia de Faro vê este evento nacional que a CNIS vai realizar aqui na cidade, a Festa da Solidariedade?
AG - Desde o primeiro momento, estamos de braços abertos, sempre com a ressalva de que estamos ao
dispor desde que não traga custos para o município e é nessa lógica que estamos a trabalhar. É uma festa que comemora a solidariedade e só podíamos ficar satisfeitos por Faro ter sido escolhida para receber este evento. Esperamos que esteja bom tempo para atrair o maior número de pessoas e instituições.
E o que pode dizer sobre o local escolhido, o Jardim Manuel Bivar?
AG - É o centro, um local emblemático da cidade onde decorrem todos os eventos de Verão… É um dos jardins nobres da cidade, portanto, esperamos que tenha grande adesão da população e que seja mais um dia de grande alegria para as instituições de solidariedade do concelho e que tenha a notoriedade que merece!
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2012-09-30