A União Distrital das IPSS de Leiria tem cerca de 125 associadas, que trabalham e apoiam uma vasta população espalhada por um território que actualmente vive dois grandes problemas, à semelhança do resto do País.
“O distrito sofre, por um lado, do alto desemprego e, por outro, da grande emigração”, explica, em entrevista ao SOLIDARIEDADE, o padre Virgílio Francisco, presidente da UDIPSS Leiria, que relembra que estas situações “colocam problemas às instituições e, ultimamente, isso tem-se sentido”.
O líder distrital aponta “a questão do desemprego e as dificuldades económicas das famílias”, como o principal obstáculo à plena acção das IPSS. “Algumas pessoas mesmo tendo emprego viram muito reduzidos os rendimentos e o que se verifica é que as pessoas têm pedido redução das mensalidades”, explica o padre Virgílio, acrescentando: “E há também a desagregação familiar, que na nossa zona se reflecte bastante na vida da comunidade e das instituições”.
SOLIDARIEDADE - Têm chegado à União Distrital (UD) informações de IPSS que estejam na iminência de fechar portas? PADRE VÍRGILO FRANCISCO - “Há algumas instituições que nos têm feito chegar a preocupação de que precisam de ajuda para não fechar portas, sobretudo, neste sentido: “Este ano conseguimos, mas no ano que vem não sabemos como vai ser!”. Face à diminuição de receitas e o aumento dos custos, há instituições que estão a despedir colaboradores e com preocupação em relação ao futuro. E há ainda algumas instituições que têm encargos financeiros e outras cujas mensalidades estão a ficar em atraso. Há instituições muito apreensivas quanto ao futuro imediato.
Nesse sentido, a UD já tomou ou pretende tomar algumas medidas para ajudar essas IPSS? Temos pouco espaço de manobra, mas podemos sempre dar algum apoio moral… Ajudamos as pessoas a reflectir sobre si mesmas, sobre outras áreas que necessitam de apoio e mesmo a nível da própria gestão. Temos também um projecto de aproveitamento dos auditores, quer através da CNIS, quer da Diocese, para conseguirmos formar um corpo que ajude as instituições a reflectirem sobre si mesmas e ver qual a melhor forma de gerirem os seus recursos. Temos também incentivado as parceiras entre as instituições e até à partilha de serviços.
Uma das críticas que se faz às IPSS é viverem muito de costas voltadas. Pensa que este clima de crise poderá levá-las a aproximarem-se mais? Penso que há mais um clima de algum individualismo… Com a crise, penso que poderá agravar essa situação um pouco, que haja uma certa concorrência em relação a ter clientes/utentes. Apesar das instituições estarem dimensionadas para determinadas áreas, há sempre as proximidades que podem levar a uma certas tentações, por exemplo, de competição no valor das mensalidades e na angariação de utentes menos necessitados. Em termos de concorrência parece-me que não é um ambiente geral, mas há alguns sinais a que é preciso estar atentos.
No momento actual, qual a sua grande preocupação?
Considero que devemos estar mais nas comunidades e ajudar, porque a solidariedade nasce muito mais
nas famílias. Se estou em situação de crise, que a minha família me possa apoiar, se esta não puder, então, que se alargue à comunidade e até à instituição. Esta questão de que as famílias possam funcionar como apoio, neste ambiente de crise, é fundamental e necessário. Depois, há o perigo de, nesta situação de dificuldade, as IPSS irem sentindo, cada vez mais, a tentação de terem uma estratégia empresarial. Ou seja, se um utente tem menos rendimentos, vamos procurar um com mais rendimentos, porque precisamos dele. Se não procurar agora três ou quatro que possam pagar mensalidades razoáveis, não posso continuar a prestar serviços aos outros. Preocupa-me, neste ambiente de crise, que possamos perder um pouco da nossa identidade solidária para nos tornarmos mais empresas.
E como vê o relacionamento da CNIS e das Uniões Distritais e o papel que cabe a cada estrutura? “Não está definido, minimamente. Como é que uma União Distrital pode funcionar sem rendimentos nenhuns. Temos as quotas dos nossos associados, que cada vez são mais reduzidas, quando a CNIS funciona com milhares de filiados. Aqui trabalhamos com voluntários, sei que Lisboa e Porto têm funcionários, mas pouco mais… É necessário definir, de facto, as responsabilidades, as competências, mas também o modo de se poder concretizar esse trabalho. Há coisas que precisam de ser reflectidas e as UD precisam de ter meios para funcionarem.
Em que medida a nova sede vem potenciar a acção da UD?
Por um lado, é uma questão de identidade. A União não ter um espaço, ou estar nas instalações da
Segurança Social é como não ter identidade… Sentimos necessidade de ter um espaço nosso e, depois, temos a questão da Formação. Temos já um plano de pequenas acções, algumas conferências sobre temas importantes, alguns que as instituições também vão sugerindo. Isto para as instituições se encontrarem, seja a nível de dirigentes ou de técnicos, conhecerem-se e partilharem experiências e conhecimentos, com a mais-valia de haver um tema abordado por alguém competente na matéria.
Que mensagem quer deixar às instituições leirienses? Em primeiro, dizer que as instituições são importantíssimas, necessárias e actuais neste contexto. Há a necessidade de estar atentos à sociedade, aos contextos em que se vive, às novas necessidades que aparecem e exigências que se põem. E, sobretudo, deixar uma palavra de esperança, porque o mundo vai continuar e sempre houve capacidade de inventar e de descobrir coisas novas e esta situação de crise é uma exigência muito grande para descobrimos a novidade que está a nascer, essa nova sociedade que está a nascer e já dá alguns sinais.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2012-11-17