COOPERATIVA DO POVO PORTUENSE

Futuro passa por retomar princípios do passado

Como Cooperativa de Solidariedade Social do Povo Portuense já entrou no 113.º ano de vida, mas a sua génese é anterior e radica no Instituto Antero de Quental, fundado em 1893.
“A Cooperativa com esta designação social nasceu em 1900, pelo que temos 112 anos, mas se falarmos em termos do que é a raiz da Cooperativa, ou seja, o Instituto Antero de Quental, este ano de 2013 vamos celebrar 120 anos de existência”, explica Paulo Jorge Teixeira, novel presidente da instituição, eleito no final do ano passado e empossado no dia 2 de Janeiro. O novo líder da Cooperativa pretende impulsionar a acção da cooperativa através de uma espécie de regresso às origens.
“A Cooperativa nasce fruto de uma vontade sentida sobretudo por operários em poder responder a algumas carências sociais, mas também pelas necessidades sentidas por esses jovens em incrementar a alfabetização, em ter novas visões e em formar pessoas”, recorda o presidente.
“A questão da mutualidade, que ainda hoje existe, como é o caso do nosso subsídio de funeral, algo que no final do século XIX preocupava bastante as pessoas” é um dos serviços que atravessa toda a história da instituição.
Porém, a vida da Cooperativa do Povo Portuense, como é mais conhecida, nem sempre seguiu aqueles princípios fundadores.
“Esse caminho, pelo menos, nos últimos anos não tem sido muito seguido, mas é o caminho que fez nascer a Cooperativa. Era essa ambivalência de uma intervenção social e de uma intervenção pessoal, no sentido de melhorar a qualidade de vida dos associados, como dizem os estatutos”, sustenta, acrescentando: “A cooperativa durante o século XX teve uns períodos melhores e outros piores, também fruto do País e da situação do cooperativismo”.
Recorde-se que por altura do 25 de Abril de 1974, a Cooperativa tinha entre outros negócios, uma funerária, uma gráfica e lojas de vestuário, que nos anos quentes do pós-Revolução foram tomados pelos trabalhadores, acabando a maior parte por falir e fechar pouco anos depois ou por ser comprada por valores irrisórios.
Estes reflexos dos tempos conturbados que se viveram acabaram por determinar muito do que foi, entretanto, a vida da Cooperativa.
“Nos últimos anos, mercê do que tem sido a nossa sociedade, sentimos que tem havido alguma dissociação com a cidade e até entre alguns sócios e a própria cooperativa”, afirma Paulo Jorge Teixeira, que, nos próximos quatro anos, pretende alterar este estado de coisas.
“Por isso respondi ao desafio de liderar uma equipa directiva bastante renovada... Vamos tentar buscar algumas raízes da Cooperativa, como a intervenção cívica, a velhinha cooperação e a intervenção que queremos junto dos nossos associados para melhorar a nossa comunicação com eles, para que a cooperativa não se esgote naquilo que hoje lhes dá, que é um subsídio de funeral e consultas médicas a preços muito mais baratos… A essência da cooperativa não se esgota aqui. Queremos e teremos objectivamente que fazer mais”, assevera.
Actualmente, a acção da Cooperativa do Povo Portuense resume-se a assegurar um subsídio de funeral e facultar consultas nas suas quatro clínicas médicas a preços mais baratos do que a actual Taxa Moderadora do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Não podemos ser um mero prestador de serviços, porque aí vamos estar a competir com outras áreas e serviços que estão muito melhor organizados, como seja o SNS, outras Mutualidades ou as companhias de seguros, mas gostamos e queremos intervir com mais coisas”, defende, explicando: “Queremos retomar coisas que foram perdidas… A intervenção social das pessoas nas instituições de que fazem parte é importante e a cooperativa demitiu-se disso nos últimos 20, 30, 40 anos. Tal como dizem os estatutos, temos que melhorar as condições de vida dos nossos associados e isso não passa só pelas questões materiais”.

COOPERANTES ENVELHECIDOS
Actualmente a Cooperativa tem cerca de 18.000 associados e a primeira acção da nova Direcção é a angariação de novos sócios.
“Um dos problemas que hoje enfrentamos é uma média de idades muito elevada dos associados e que ronda os 60 anos. Por isso, vamos lançar uma campanha já em Janeiro que se chama «4 Meses, 400 Sócios», com a qual pretendemos nestes quatro anos de mandato conseguir mil sócios por ano, tentando ainda que eles sejam mais novos”, revela o presidente, acrescentando: “Queremos que os nossos sócios se sintam motivados a trazer de novo as famílias, porque essa visão familiar da cooperativa perdeu-se um bocado”.
O clima de crise que hoje se vive, mais do que potenciador da angariação de associados, é visto por Paulo Jorge Teixeira como “potenciador de novas formas de relacionamento social entre as pessoas”.
E quanto ao aumento do número de sócios, o novo presidente é muito pragmático: “Novos sócios só virão se a Cooperativa fizer coisas e lhes for útil. Hoje tem-se uma visão muito utilitarista e as pessoas que fundaram esta casa viviam em tempos em que a cooperação entre as pessoas e o sentido de comunidade eram muito grandes e sentido por todos os estratos sociais, algo que nada tem que ver com o que se vive hoje, em que as pessoas não se identificam, nem têm vectores comuns. E a Cooperativa tem que ser um vector comum que lhes diga algo na sua vida”.

CENTRO DE DIA EM DOIS ANOS

Sem deixar de referir que “esta é provavelmente a única instituição da cidade que nunca foi apoiada em 112 anos de história”, Paulo Jorge Teixeira deixa ainda alguns dos projectos que a Cooperativa do Povo Portuense pretende implementar.
“Também fruto da média etária, vamos pensar em diferentes serviços e cuidados a prestar aos nossos associados”, sustenta, referindo que parte dessa acção deverá passar pela interacção com outras organizações, como o “plano pensado com uma associação de jovens no sentido de criar uma linha de solidão”. Outros projectos ligados à Terceira Idade e à Infância estão também em mente, porque “o Estado não pode e não deve fazer tudo e não irá, de certeza, fazer tudo, pelo que temos projectos, como o de um Centro de Dia dentro de dois anos”.
Outro aspecto importante é a formação das pessoas mais velhas, para que “possam aprender novas valências, conhecer a sua cidade, etc…”.
Sita no cruzamento entre as ruas de Camões e do Paraíso, a sede é um edifício emblemático, que há muitos anos alberga a companhia de teatro Seiva Trupe, à qual está ainda arrendado a pequena sala de espectáculos, que hoje não é utilizada. Mas muitas outras entidades por ali estão ou passaram, constituindo-se a sede, ao longo de décadas, como casa comum de muitas associações e colectividades.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-02-01



















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