Alertar a população portuguesa para consignar 0,5% do IRS às IPSS foi o principal objectivo de Paulo Alves que, no passado dia 11 de Março, se fez a pé, sozinho e sem dinheiro, nem alimentação, de Braga até Lisboa, onde chegou 16 dias depois.
«Caminhada Solidária» foi o nome dado à iniciativa da Ajuda Solidária, projecto criado no início de 2013 com o intuito de angariar fundos para as IPSS.
Porto, Ovar, Aveiro, Figueira da Foz, Pombal, Leiria, Nazaré, Torres Vedras e Mafra foram as principais localidades por onde Paulo Alves, 41 anos, passou rumo a Lisboa, contando apenas com a solidariedade dos cidadãos e das instituições no respeitante a alojamento e alimentação.
Apesar destas condicionantes, Paulo Alves sempre vai dizendo que “os portugueses são solidários, mas não todos…”.
A principal dificuldade que enfrentou foram “as dores musculares”, essencialmente, a partir do terceiro.
“Não me preparei fisicamente para esta jornada e nos dois primeiros dias não tive problemas, mas a partir do terceiro foi muito complicado”, recorda Paulo Alves, que lamenta a falta de solidariedade dos farmacêuticos: “Entrei em várias farmácias para pedir algo para as dores musculares, mas só me deram amostras para tudo menos para as dores musculares. Depois, lá houve uma farmácia onde me deram uma amostra de um gel, verdadeiramente milagroso. E foi em Soure que com a ajuda de uns populares consegui comprar uma bisnaga desse gel, que foi o que me ajudou a chegar ao fim”.
TRÊS OBJECTIVOS CUMPRIDOS
E o chegar a Lisboa tinha, à partida, três objectivos bem definidos e que Paulo Alves considera terem sido “cumpridos com êxito”.
“Eu tinha três objectivos para esta Caminhada Solidária, um era sensibilizar as pessoas para a possibilidade de doarem os impostos, outro o de chamar a atenção da Comunicação Social e, por fim, visitar instituições ao longo do percurso e todos eles foram cumpridos com sucesso, porque desde que saí de Braga a Comunicação Social agarrou nisto e, ao longo dos 16 dias, falaram do assunto”, defende o mentor da Ajuda Solidária, lamentando apenas o grande desconhecimento dos Portugueses sobre a forma de ajudarem as IPSS sem grandes custos: “Em relação à sensibilização das pessoas, dentro do possível fui falando com elas e o que percebi é que a maior parte dos Portugueses desconhecia esta possibilidade de consignarem 0,5% do seu IRS, algo que acaba por não sair do bolso das pessoas, pois é o Estado que entrega parte do imposto já cobrado à instituição que cada um escolher”.
Conforme refere Paulo Alves, “é inconcebível que de quatro milhões de declarações de IRS apenas cerca de 230 mil consignem parte às IPSS”, portanto, a «Caminhada Solidária» fez, no seu entender, todo o sentido, até porque a realizou no início do período de entrega das declarações.
“Agora temos uma janela de dois meses para relembrar às pessoas desta possibilidade”, argumenta o caminhante solidário e solitário, que, para já, não tem previstas mais iniciativas do género, a não ser potenciar a divulgação da Ajuda Solidária, cujo registo no site faz reverter um euro para as IPSS apoiadas pelo projecto.
Angariar 10 marcas solidárias (empresas que ajudam a doar 1€ às IPSS), 10 mil registos (amigos que se juntam à iniciativa Ajuda Solidária) e 10 milhões de euros (valor que pretende ajudar a atingir de IRS consignado) são os grandes objectivos do projecto, que pode ser encontrado no endereço electrónico
www.ajudasolidaria.org.
Fazer a caminhada sem dinheiro nem planeamento sobre os locais onde pernoitar e para se alimentar “foi a forma encontrada para chamar a atenção da Comunicação social”, mas pelo caminho, entre instituições e pessoas singulares, Paulo Alves teve sempre onde dormir e onde comer ao longo dos 16 dias de aventura solitária.
Neste particular, o caminhante recorda um episódio caricato, em que entrou num restaurante para descansar.
“Entrei e estive lá sentado durante algum tempo a descansar, mas entretanto aproximou-se a hora de almoço e, então, o proprietário veio ter comigo e perguntou-se se eu queria uma espinha para a viagem…”, conta, dando conta da sua perplexidade: “Fiquei a saber que a espinha era a refeição para o caminho”.
À chegada a Lisboa, e com mais uma reportagem televisiva agendada, Paulo Alves pretendia cortar o cabelo e foi na Amadora, num Centro Comercial dominado por imigrantes que, facilmente, segundo conta, conseguiu um corte de cabelo… solidário.
Chegado a Lisboa e com a missão cumprida, mais um desafio se lhe deparou: o regresso!
“Um amigo pagou-me o bilhete de comboio até Braga, senão teria que me desenrascar como fiz de Braga até Lisboa”.
Pedro Vasco Oliveira (texto)
Data de introdução: 2013-04-27