ELSA FERNANDES, CÂMARA MUNICIPAL DA GUARDA

A autarquia promove a partilha entre as instituições

É um dos maiores concelhos de Portugal, com um total de 55 freguesias. Para além disto, a Guarda é a cidade mais alta de Portugal, tendo uma vasta oferta turística em torno da Natureza. Aliás, ainda recentemente foi novamente brindada com o estatuto de cidade com o melhor ar, o que poderá ser também uma saída em termos económicos para uma região que está a despovoar-se, fruto do pouco emprego. No entanto há sinais positivos, como sublinha nesta entrevista ao SOLIDARIEDADE, a vereadora da Acção Social da Câmara Municipal da Guarda, Elsa Fernandes, que começa por caracterizar socialmente a região.
“O concelho da Guarda está perfeitamente identificado nas suas virtudes e desvirtudes sociais”, começa por dizer Elsa Fernandes, especificando: “É um território com um índice elevado de população idosa e redução de pessoas mais jovens, pelo que temos notado que estamos num concelho com um nível de envelhecimento elevado”.
Mesmo assim, a autarca considera que não é dos mais elevados, “mas começa a dar algumas preocupações” nesse sentido.
“Não é nada que seja atípico, até porque a média de vida tem tendência a ficar mais elevada. Costumo dizer que o envelhecimento dos territórios tem um lado bom que é o facto de a investigação na área da saúde ter evoluído o suficiente para nos dar médias de vida maiores, daí que temos um envelhecimento activo também maior”.

SOLIDARIEDADE - O envelhecimento da população é o único problema social no concelho?
ELSA FERNANDES - Temos outras preocupações, como o desemprego, já com um número grande, mas não é o número que nos preocupa, mas sim esse número associado à faixa etária em questão. Estamos a falar de um desemprego com idade acima dos 45 anos, com propensão para ser mais difícil encontrar novo emprego. Obviamente, isto cria-nos outras dificuldades sociais para gerir, como sejam carências de toda a ordem, de cumprimento dos compromissos financeiros pelas famílias, dificuldades de continuação dos estudos por parte dos jovens. Ao desemprego e ao envelhecimento juntam-se outras carência sociais que advêm naturalmente daí. E a questão não é tão grave na Guarda como os territórios do litoral, mas é preocupante em qualquer lado e aqui também o é.

Mas é uma situação com tendência para se agravar, ou tem sido atenuada de alguma forma?
O que é que temos na Guarda que nos permite, de alguma forma, fazer uma transição mais suave nestes processos é o facto de como estamos a falar de territórios com elevado número de proximidade não temos um envelhecimento tão isolado como provavelmente têm outras zonas no País. Por exemplo, não temos uma carência alimentar tão acentuada como noutros locais, pois as pessoas vão tendo as suas hortas e terrenos. E nota-se algum regresso a esse tipo de subsistência. Isso permite-nos dizer que não tenhamos sem-abrigo na Guarda. Temos uma carência minimamente controlada, as famílias mais carenciadas, aquelas que estão no limiar da pobreza, estão identificadas e são acompanhadas, pelo que vamos dando respostas, sejam elas governamentais ou a nível local. Nós avançámos com um programa de excedentes alimentares muito antes de o Governo avançar com as suas medidas no apoio à alimentação e isso foi-nos dando capacidade para resolver amiúde problemas de algumas famílias.

Esse é um retrato que pode estender-se ao distrito?
Guarda é um concelho grande, com 40 mil habitantes, capital de distrito, pelo que não sofre tanto com a despovoação como o resto dos concelhos do distrito. Tem havido um grande regresso às origens, com muita gente a migrar entre os territórios do distrito e o concelho da Guarda ganha população fruto da despovoação dos concelhos vizinhos.

D. Manuel Clemente disse ao Solidariedade que desde cedo a sociedade civil da região recomeçou a agir, garantindo o bem-estar dos seus familiares e, então, muitos emigraram. É uma marca distintiva destas gentes?
Sem dúvida. Guarda e o distrito é feito de pessoas muito solidárias. As regras da boa vizinhança praticam-se muito naturalmente e a população reage, de facto, a situações de carência e antecipa-se. Olhando à situação económica, este nunca foi um território de mega-indústrias, é tipicamente uma cidade de serviços e de comércio, eventualmente por ter sido sempre assim nunca sentiu de forma tão drástica aquilo que é ficar com um problema grave com o encerramento de fábricas. Isto quer dizer que a população sempre foi tendo margem de tempo para se adaptar… As nossas aldeias acabam por se organizar em pequenos núcleos de entre-ajuda, o que chamamos de boa vizinhança.

E a Rede Social funciona?
É uma rede social muito activa, que funciona muito bem, com algumas nuances porque é uma rede grande, com muitas IPSS, muitas freguesias e muitas associações a funcionarem no mesmo território. É uma rede de entre-ajuda, uma rede que ao longo dos anos tem promovido uma partilha muito grande entre as instituições e a própria rede social promove acções. Neste momento é uma rede que responde de pronto e cabalmente na área da Terceira Idade, seja em resposta lar ou apoio domiciliário, mas também temos uma resposta de qualidade à deficiência e à juventude.

Com a sociedade civil a funcionar, qual tem sido o papel da Câmara na área da Acção Social?
Neste mandato em especial, achámos que a Câmara, mais do que a entidade parceira, devia ser o provocador da ligação e das inter-ligações entre as instituições. Começámos em 2009 com uma iniciativa a que chamamos Encontro Sol que culmina num grande encontro entre todos os utentes das instituições, mas o grande objectivo foi desde sempre fazer a inter-ligação. Ao longo de quase dois meses cria-se uma agenda de partilha de experiências, de problemas, de conhecimentos, mas também o intercâmbio de utilizadores. A Câmara quis puxar esse papel para si, porque nem sempre as instituições partilham entre si, e muitas vezes em proximidade, aquilo que estão a fazer, nem sempre partilham as dificuldades que têm e nem partilham sequer aquilo que fazem melhor. Nós vamos avançar em Junho com uma plataforma de boas práticas das nossas instituições da Rede Social. Criar esta plataforma é promover a partilha.

Que significado tem a Festa da Solidariedade ser na Guarda?
Olhamos sempre para estes eventos que nos são propostos, e a Festa da Solidariedade foi-nos de facto proposta, por dois caminhos: o de satisfação e de orgulho e o da responsabilização para sermos anfitriões de um evento que tem uma transversalidade de território como este. Sabemos que ficamos responsáveis por corresponder àquilo que simbolicamente nos estão a dar. É o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido e por um conjunto de capacidades que conseguimos granjear ao longo dos anos, mas também achamos que nos estão a responsabilizar.

Que mais-valia em termos de Terceiro Sector pode o evento trazer para esta região?
A primeira é logo a de encontrarmos um pretexto e as festas acabam por sê-lo, mesmo as familiares, de encontro entre instituições e entre cidadãos. Penso que a maior mais-valia é darmos um espaço para que as instituições se possam encontrar de forma tranquila e serena. Já quando recebemos a Chama da Solidariedade, há dois anos, foi um momento de emoções e quando se vê uma grande moldura humana associada a gestos simbólicos, esse é um lado positivo que tem que ser destacado.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-06-07



















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