APPACDM DE CASTELO BRANCO

Quatro décadas de crescimento contínuo

Quando em Novembro de 1973 abriu a delegação da APPACDM de Castelo Branco, a instituição começou a trabalhar com sete crianças. Quatro décadas volvidas são 442 os utentes a que presta serviço, disponibilizando diversas valências a muitos que no distrito são portadores de deficiência intelectual.
Para Maria de Lurdes Pombo, presidente da instituição, o grande êxito de 40 anos de história, feitos de dificuldades mas de muitas vitórias e grande crescimento, é o descanso que a APPACDM proporciona aos pais, que sabem que, quando partirem definitivamente da vida, os seus filhos estão bem entregues e terão quem cuide deles até à morte.
“Foram 40 anos difíceis, tivemos momentos de dificuldade, mas conseguimos sempre ultrapassá-los”, conta a presidente e co-fundadora da instituição albicastrense, sublinhando: “O maior sucesso desta instituição é o apoio aos pais. Enquanto cá estão fazem connosco este percurso e depois sabem que podem morrer em paz porque a instituição continua a cuidar dos seus filhos até à morte destes. Esse é o maior sucesso da instituição”.
Onze anos depois do aparecimento da primeira Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM), que aconteceu em 1962, pela mão de Alice Tavares Melo, a delegação de Castelo Branco foi a primeira a surgir no Interior de Portugal e a quarta no País, a seguir a Lisboa (sede), Porto e Coimbra.
“Em 1972 só havia delegações no Litoral, o Interior não tinha nenhuma. Então, a doutora Alice Tavares Melo fez-me um desafio quando soube que eu vinha para Castelo Branco e que passava por conseguir juntar uma equipa para constituir uma delegação aqui”, recorda Maria de Lurdes Pombo, que juntamente com o pediatra e a Cruz Vermelha, e “já com o apoio da Câmara Municipal e muitas boas-vontades da zona industrial e comercial”, em finais de Novembro abria a delegação de Castelo Branco.
“Começámos numa casa que era da Câmara, onde não tínhamos que pagar nada, e num tempo em que a Polícia Judiciária transportava os meninos para a escola que ainda era um bocadinho longe”, relembra a fundadora, ao mesmo tempo que relata um pouco do que foi o caminho percorrido pela instituição: “Claro que passámos algumas situações difíceis a seguir, porque as APPACDM ficaram ali a ser um bocadinho olhadas de lado, mas felizmente com a nossa insistência ultrapassámos isso e conseguimos, então, mudar para uma casa maior. Talvez tenha sido a primeira grande sede no País, num terreno oferecido pela Câmara Municipal e cuja construção teve o apoio do PIDDAC”.
A dirigente refere ainda os importantes apoios da Fundação Calouste Gulbenkian e de diversos privados na edificação da sede, em lugar central na cidade, mesmo em frente ao Hospital distrital.
Quando referiu que o grande sucesso da APPACDM é a segurança futura dos filhos que consegue proporcionar aos pais, Maria de Lurdes Pombo recorda: “Havia um problema complicado na comunidade, porque os pais estavam muito contentes por os seus filhos estarem aqui, terem escola e actividades, mas a grande preocupação deles era o que aconteceria quando eles morressem”.
Ou seja, a grande questão era a criação de um Lar Residencial, “o que na altura não era fácil”.

QUINTA DA CARAPALHA

Porém, as coisas compuseram-se de forma favorável, devido à transferência do Centro de Saúde Mental, que ocupava as antigas instalações do Albergue Distrital de Mendicidade, sito na Quinta da Carapalha.
“Isso veio facilitar-nos a possibilidade de termos um Lar Residencial mais cedo”, realça a presidente da instituição, contando os contornos do acordo com a Segurança Social para que a instituição explorasse a Quinta da Carapalha em regime de comodato: “Quando se dá a saída do Centro de Saúde Mental para um edifício construído de raiz, a quinta ficou desaproveitada, mas havia lá alguns casos sociais de utentes que a Saúde não quis levar porque não eram bem do foro psiquiátrico. Eram indigentes que vinham do tempo do albergue. Então, estabelecemos um protocolo com a Segurança Social, em que ficávamos com a quinta por comodato, mas também com aqueles casos sociais que não eram casos psiquiátricos”.
Desde 1991, altura em que a instituição ocupou e recuperou a propriedade e o edifício, “que estava muito degradado”, que a instituição tem desenvolvido vários projectos na Quinta da Carapalha.
“Temos feito muitos projectos na área da agricultura, junto do Centro de Emprego e Formação Profissional, da Segurança Social e de algumas fundações… E chegámos onde estamos hoje, em que atendemos 442 portadores de deficiência, porque fazemos cobertura a oito dos 11 concelhos do distrito”, explica, acrescentando: “E ainda vamos além do distrito numa valência ou noutra, porque nos lares residenciais a Norte ainda não há resposta suficiente”.
Para além do edifício-sede e da Quinta da Carapalha, em Castelo Branco, a APPACDM tem uma delegação no concelho vizinho da Sertã, onde funciona um CAO – Centro de Actividades Ocupacionais e um Lar Residencial, contando a instituição nos equipamentos da cidade com dois CAO, mais três lares residenciais, uma escola de ensino especial e um Centro de Recursos para a Inclusão (CRI), em parceria com o Ministério da Educação.
As respostas da instituição à comunidade dos portadores de deficiência intelectual estendem-se a todo o território do distrito no que toca à intervenção precoce, uma parceria com a Saúde e a Educação.
Com o apoio da autarquia de Castelo Branco, que cedeu mais uma parcela de terreno junto ao edifício-sede da APPACDM, a instituição abriu um Centro de Recursos para a Reabilitação, com o qual consegue dar mais apoio ao CRI e às crianças que frequentam a instituição. Esta é uma valência que está aberta ao exterior, condição requerida por algumas das entidades que cederam os equipamentos.

CRIAR SUSTENTABILIDADE

Financeiramente a instituição é estável, fruto de uma gestão criteriosa e de uma aposta na diversificação das receitas. Para além dos apoios camarários, a instituição tem apostado em “arranjar maneiras de criar sustentabilidade”, argumenta a dirigente, explicando o que tem sido feito: “Temos o nosso projecto do Bicho-da-seda, o da agricultura biológica e temo-nos candidatado a vários projectos na área agrícola. De um desses conseguimos criar uma zona dos cheiros, que vendemos em saquinhas, seja de alfazema, alecrim ou outras plantas, nas Aldeias de Xisto; criámos um percurso pedagógico, com um tractor-comboio, que puxa umas carruagens e que faz visitas à quinta; e tratamos e cultivamos pequenas propriedades que nos vão sendo deixadas”.
Os terrenos agrícolas, e o da Quinta da Carapalha em especial, com os seus 22 hectares, são uma mais-valia para as contas da instituição. “Como este ano a azeitona foi boa, quase conseguimos ficar com azeite suficiente para a instituição. Temos a preocupação de rentabilizar a quinta”, afirma com ar satisfeito, revelando ainda: “E esperamos em 2014 conseguir já uma outra fonte de receita que é o Museu da Seda. A Câmara Municipal está a construir o Museu da Seda, para integrar num conjunto de museus da cidade, especialmente voltado para o bordado de Castelo Branco. Nós fazemos a seda e teremos o museu, que está a ser construído na Quinta da Carapalha, para completar o que se passa em torno do bordado de Castelo Branco, que é muito afamado e singular”.
A este projecto, a ver nascer em 2014, a instituição junta igualmente uma outra aposta em termos de resposta social.
“Estabelecemos recentemente o protocolo para a implementação de um Serviço de Apoio Domiciliário especializado. É especializado e para todas as idades, porque até aqui, era apenas para pessoas idosas, mas há aqui uma faixa da população que está muito desprotegida… As crianças, jovens e adultos que por qualquer razão a determinado momento, prolongado ou não, fiquem com alguma dependência e necessitem de ficar em casa, precisam de apoio e este serviço estará lá. Mas aqui trata-se essencialmente de apoios especializados”, revela Maria de Lurdes Pombo, explicando o tipo de sinergias criadas: “Como temos o equipamento e técnicos do nosso Centro de Recursos de Reabilitação, vamos abrir o serviço a pessoas nessas condições que necessitem ser apoiadas. Estabelecemos o Acordo de Cooperação com a Segurança Social e vai ser implementado em 2014”.
Também aqui terá que haver uma capitação dos custos, porque o serviço implica despesas, no entanto, para a dirigente da APPACDM o conceito é apenas um: “Não é um serviço a prestar só a quem pode, mas essencialmente a quem precisa. E, para já, apenas na cidade, mas depois se verá”.

DAR VOZ AOS PAIS

Para além de todos os serviços e apoios que a APPACDM de Castelo Branco presta no distrito, um dos principais vectores de actuação e grande preocupação ao longo dos tempos passa por dar voz aos pais.
“Nós lutamos muito para que os pais sejam ouvidos. Trouxemos até aqui o ministro Nuno Crato para lhe dizer que os pais têm que ser ouvidos… Há um tempo houve uma situação que, penso, ser até contra a Constituição Portuguesa, porque não ouviram os pais e estes também têm uma palavra a dizer sobre o que querem para a educação dos seus filhos. Para a nossa escola só vêm crianças que os pais querem que venham, obviamente depois a equipa multi-disciplinar vai avaliar se este é o lugar para a criança”, defende a líder da instituição, a propósito da escola inclusiva e do fim de algumas escolas de ensino especial.
E a preocupação com os pais estende-se para além da manutenção de um canal de comunicação: “Sempre ouvimos os pais, sempre quisemos fazer o trabalho ao lado dos pais e ajudá-los, porque a ajuda aos pais não se cinge às valências que temos… Também temos que estar ao lado deles e compreender que lhes é pedido muito pela vida fora. Todos os dias ter que lidar com um filho com problemas, alguns deles com problemas profundos, é muito complicado”.
É esta realidade que leva a instituição a criar programas dedicados aos pais: “Também temos que nos preocupar e ajudar esses pais, que até podem ter os filhos em casa ou na escola, mas que depois precisam de alguns dias para descansar… Gostamos de dar férias aos pais e temo-lo feito, para que também possam descansar um pouco”.
Ainda a propósito da escola inclusiva, Maria de Lurdes Pombo é muito clara sobre a posição da instituição: “Nós também somos a favor da inclusão, de tal maneira que também temos ligação com os Agrupamentos para termos os CRI. Agora, sempre tivemos a preocupação de que as crianças devem estar onde estão melhor e devem ser estudadas por uma equipa multi-disciplinar para avaliar onde é que devem estar. Porque se há crianças que estão muito bem nas escolas do ensino regular, sem precisarem de mais nada, e outras com o ensino regular e com o CRI também estão muito bem, há crianças que só devem estar em escola de ensino especial, porque são casos tão profundos, tão difíceis que as escolas de ensino regular não têm condições, nem lhes deve ser exigido fazer esse trabalho”.
Proporcionar a todos aqueles a que a escola regular não consegue dotar das competências necessárias uma possibilidade de construção de um futuro é o grande propósito da área de Formação Profissional da instituição.
“Dantes a colocação no mercado de trabalho era muito boa, chegámos a colocar 93% dos formandos e tínhamos até pedidos de fábricas, mas, agora, com a crise de emprego tem sido muito difícil colocá-los”, lamenta.
Carpintaria, têxteis e confecção, ajudantes de cozinha e jardinagem são os cursos actualmente ministrados e quando terminados dão equivalência ao 9º Ano.
Continuar a apoiar os portadores de deficiência intelectual e os seus pais e familiares é o grande propósito e a grande aposta da instituição, que olha o futuro com optimismo e vontade de investir mais… nas pessoas!

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-01-13



















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