Desde há largos anos, mais de uma década certamente, que o processo de informatização das IPSS é algo de incontornável. A gestão das instituições foi-se tornando cada vez mais profissional e, sem nunca perder a sua matriz base, existem hoje em Portugal algumas centenas de IPSS com uma gestão absolutamente empresarial.
Não se entenda esta situação como algo de pernicioso e/ou desvirtuador do espírito de solidariedade social que deve presidir ao "modus operandi" de uma IPSS. O que se tem passado é que a globalização galopante (e por vezes absolutamente cega) obriga as IPSS a implementar novos processos de gestão que dificilmente se compadecem com gestão em part-time ao final do dia ou ao fim de semana.
Com este espírito tem havido ao longo da última década uma aposta massiva das IPSS em processos de informatização, no sentido tradicional de utilização de software específico de gestão. Mas, cada vez mais, os paradigmas começam a ser outros e desde há alguns anos, novas exigências se colocam à economia social. É neste enquadramento que a Internet há muito devia ser uma realidade no seio das IPSS, situação que, infelizmente, está muito longe de acontecer. É por isso que o signatário aplaude de forma veemente a acção levada a cabo pela CNIS na materialização do site (ou portal) www.solidariedade.pt que se irá traduzir numa aposta ganhadora.
Mas a aposta da CNIS tem que ter um efeito multiplicador e continua a não se vislumbrar uma "vaga de fundo" que promova esta 2.ª fase de digitalização nas IPSS. Devemos atentar no seguinte :
- a percentagem de IPSS que têm acesso à Internet é muito baixo em relação ao mundo empresarial;
- a percentagem de IPSS que usam correntemente correio electrónico é muito escasso;
- dentro das IPSS que usam correio electrónico a aposta quase massiva é na utilização de acesso gratuito num único posto (computador/pessoa) como contraponto ao uso corrente em todos os computadores da instituição;
- o número de IPSS que têm site é absolutamente residual.
A este nível o panorama não é brilhante e muito há a fazer. Desde há vários anos que sou defensor acérrimo da aposta das IPSS na criação de (pelo menos) sites institucionais, aduzindo para isso um
vasto conjunto de argumentos :
- trata-se claramente de apostar na melhoria da imagem da instituição perante a comunidade : dar uma imagem de modernidade, aposta no futuro, etc;
- um site é um veículo de comunicação de realidades, ideias e projectos;
- comunicação com os familiares dos Utentes, comunicação com a comunidade local onde a instituição se insere, comunicação com as entidades públicas, comunicação com o mundo empresarial, comunicação com a tutela, comunicação com as comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo, etc. (é uma forma de um português, no "outro lado do mundo", poder saber algo sobre uma instituição da sua zona);
- na componente de Utentes, um site terá que ser visto como uma forma de comunicação e interacção bidireccional com os familiares do utente, tanto a nível de informação de carácter administrativo-financeiro, como em termos das componentes psico-sociais, médicas, estudantis, etc., dependendo sempre das valências existentes. Numa sociedade globalizada em que os responsáveis dos utentes têm (infelizmente) cada vez menos tempo para interagir presencialmente com a instituição, esta terá que encontrar formas alternativas de interagir activamente com esses mesmo responsáveis;
- a existência de um site com ligação ao software de gestão da instituição ou, no futuro, a existência de uma única plataforma integrada (Site e software interno de gestão da instituição) permitirá criar condições para que os responsáveis dos utentes procedam ao pagamento das mensalidades via Web, façam pré-inscrição de utentes, procedam à renovação de matrículas, actualizem os dados da ficha do utente, etc, etc. O objectivo é e será cada vez mais potenciar a relação entre o familiar do utente (jovem / idoso) com a IPSS, facilitando a interacção entre as duas partes
A tecnologia está aí! Disponível e cada vez com custos mais reduzidos. Estou certo que as IPSS, instituições absolutamente incontornáveis no país que somos, saberão utilizar essa tecnologia e dar-lhe um rosto humano. É no entanto imperioso entender que não podemos fazer "ouvidos moucos" ao galopante avanço da tecnologia em todos os sectores de actividade. Os paradigmas de serviço social são hoje completamente diferentes do que eram há 20 anos atrás e serão completamente diferente daqui a 20 anos. A mesma coisa sucede na área de organização e gestão.
*Eng.º de Sistemas e Informática
Gerente da F3M
http://www.f3m.pt/
Data de introdução: 2004-12-21