FORÇAS DE SEGURANÇA

Nas ruas da amargura

Esquadras "desertas", pistolas com mais de 20 anos, fardas que "servem" para o Verão e para o Inverno, agentes sem rádios, assim é a vida daqueles que garantem a segurança nas ruas e nos bairros de Lisboa. "Neste momento a polícia debate-se com graves problemas", garante o presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia - PSP, António Ramos. A reportagem é da Agência Lusa.

A convite daquela organização sindical, vários órgãos de comunicação social visitaram, durante a noite de quarta-feira e madrugada de quinta-feira, alguns dos locais considerados mais perigosos de Lisboa, e as respectivas esquadras, responsáveis por garantir a segurança das zonas "proibidas".

O itinerário incluía passagens pelo Intendente, Zona J, Bairro da Picheleira, estação da Damaia ou o Bairro da Cova da Moura, tudo "pesadelos" onde "a fama" afasta qualquer tipo de visita, excepto para aqueles que por vontade própria, ou não, têm ai a sua vida.

A "excursão" entrou às 21:45 na zona do Intendente, onde o flagelo da toxicodependência não se esconde, muito pelo contrário, é visível em cada rua, em cada esquina, em cada beco ou em qualquer lanço de escadas.

Aí, a segurança é garantida constantemente por seis agentes da polícia municipal, em regime de voluntariado e com turnos de quatro horas, pagos como horas extraordinárias. Um dos dirigentes do sindicato, António Girão, aponta uma das fragilidades: o local deveria ser patrulhado constantemente por 10 agentes, mas "não há meios humanos".

Num passeio a pé pelas ruas do Intendente, o aparato dos fotógrafos e das câmaras de filmar afasta os "utentes" da zona, onde o roubo de telemóveis é um dos principais problemas. De seguida, a visita segue para a esquadra do Arco do Cego: "Encerrada temporariamente para manutenção", lê-se à porta, num documento datado de 30 de Junho de 2004.

"Sinto-me muito mais inseguro desde que a esquadra encerrou", disse um morador que passava pelo local, onde, curiosamente, acorreu prontamente a patrulha da esquadra de Olaias, após um telefonema que dava conta de "uma concentração estranha" à porta da esquadra.

Com o encerramento "temporário" da esquadra do Arco do Cego, às portas do edifício do Caixa Geral de Depósitos, é a esquadra das Olaias a responsável pela zona, responsável por perto de 100 mil habitantes, incluindo os "problemáticos" bairros da Picheleira e Portugal Novo.

"Esta é uma forma de chamar a atenção dos responsáveis políticos para a questão da segurança. Entendemos que durante a pré- campanha e a campanha eleitoral o tema da segurança deve ser discutido, e queremos saber o que os partidos pensam sobre esta matéria", justificava António Ramos.

O dirigente sindical referiu depois que "neste momento" faltam cerca de 4.000 agentes para o quadro orgânico da Polícia de Segurança Pública estar completo. A viagem seguiu depois para a esquadra da Zona J, em Chelas. De serviço, um agente e uma agente, numa esquadra que "cobre" cerca de 50 mil pessoas.

"O ideal seria termos aqui cerca de 10 agentes. Se acontecer alguma coisa os agentes não podem sair daqui. Têm de pedir reforços, o que vai atrasar as operações", explicou António Girão. O "turno" segue então para o bairro da Cova da Moura, nomeadamente para a estação de comboios da Damaia, onde assaltos por esticão, com revolveres ou facas são constantes.

Os bens mais "procurados" são os telemóveis, os fios de ouro e as carteiras, mas não só. Um dos agentes da esquadra da Damaia explicou alguns dos truques utilizados para roubar carros, mesmo em frente à estação: "Um dos indivíduos deita-se no meio da estrada e faz-se de sinistrado. O automobilista pára. Um dos cúmplices aproxima-se, abre a porta, e concretiza-se o assalto".

Outro dos truques, segundo o agente Luís Maria, é colocar um caixote do lixo a arder na via. O automobilista é obrigado a parar, e a história repete-se. De regresso à estação, o agente confidencia que muitas noites está ali a patrulhar o local sozinho, sem rádio, tendo de utilizar o seu telemóvel pessoal sempre que há problemas. As câmaras de vigilância já foram arrancadas e os quatro elevadores encerrados. Segundo o agente, os elevadores serviam de "sala de chuto".

Depois de breves e "escuras" passagens pelos bairros Seis de Maio e Estrela de África, a "ronda" aproximava-se do fim, e o destino era agora a esquadra da Damaia. De serviço, dois agentes, um graduado e um oficial de dia, que andava a patrulhar a zona, nunca visitando aqueles bairros mais difíceis.

Na Damaia, o número de efectivos deveria ser de 90 agentes, mas de acordo com um dos responsáveis, as dificuldades não permitem ter sequer 40. A falta de meios humanos não é o único problema que afecta a Polícia de Segurança Pública, mas também é certo que tão cedo não estará resolvido.

"Vamos estar dois anos sem novas entradas. Apenas entrarão novos polícias em Junho de 2006. As grandes cidades crescem e o quadro orgânico da PSP está desactualizado. Terá de haver por parte do próximo Governo uma grande sensibilidade para a questão da segurança", avisa António Ramos.

A falta de meios humanos é um problema que não acontece só em Lisboa...é uma questão que percorre um pouco por todo o país: "A cidade do Cacém já merecia ter duas ou três esquadras e tem só uma, tal como nas Caldas da Rainha, zonas que cresceram imenso, mas onde os quadros se mantiveram os mesmos."

De acordo com António Ramos, existe um "descontentamento generalizado" entre os profissionais da polícia, relacionado também com a questão dos horários, das promoções, ou até mesmo com o subsídio das fardas.

Por isso mesmo, o Sindicato dos Profissionais de Polícia quer "conhecer as propostas dos políticos sobre a segurança" e que o tema faça parte do debate da campanha eleitoral. "É necessária uma reforma profunda das forças de segurança. Fundir a PSP com a GNR é uma das possibilidades. De certeza que ficaríamos bem servidos ao nível dos meios e de homens, e estes seriam melhor aproveitados", sugeriu.

 

Data de introdução: 2005-02-11



















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