“Ruídos” na Solidariedade...

Nos últimos tempos, a comunicação social tem sido fértil em veicular informações e interpelações que não podem deixar indiferente quem trabalha, de forma institucional, fazendo da solidariedade uma "profissão", através da gestão de equipamentos! 

Começo a ficar com a sensação de que as IPSS têm de ser mais criativas e corajosas na busca de uma "nova geração" de respostas sociais para novos problemas que escapam à normalidade do funcionamento de muitos dos equipamentos sociais. 

Com efeito, urge centrar cada vez mais a nossa preocupação na busca conjunta com novos destinatários do nosso fazer social, a nível de cada família, grupo social e até ao nível da própria vizinhança, de formas adequadas e consistentes de "inclusão social". 

Sei que, por instinto de autodefesa, muitas vezes reagimos mal a críticas e interpelações que nos vão chegando de todos os lados, questionando alguns modelos de intervenção sócio-educativa praticados em muitas das Instituições. 

Porém, julgo que, honestamente, não nos ficaria nada mal reconhecer que muitas vezes nos tem faltado audácia e perspicácia social para reconhecer e inventar formas inovadoras de exercício da solidariedade que "novas exclusões e pobrezas" de nós reclamam. 

Tenho acompanhado com atenção e preocupação o desenvolvimento de uma coisa que pomposamente se tem chamado de "PNAI: Plano Nacional de Acção para a Inclusão". Tenho-me interrogado muitas vezes por que razão as IPSS não têm sido chamadas a dar a sua colaboração neste Plano, ficando-me a sensação de que só "instituições de primeira" são chamadas a participar e a beneficiar dos apoios por ele previstos! 

Deve ser um "mau pensamento", mas confesso que assim tenho pensado sempre que, pela comunicação social tomo conhecimento de uma coisa que considero esquisita, a saber: há cada vez mais apoios para a produção de diagnósticos, ao mesmo tempo que se anunciam tempos de vacas magras para quem suja as botas na lama dos bairros e faz das tripas coração para, com os seus parcos recursos humanos e financeiros, ir dando de comer a quem tem fome, fazendo companhia a quem morre de solidão, percorrendo as ruas de aldeias e cidades com a necessária atenção a quem vamos encontrando "à margem", mesmo que essas realidades não se enquadrem nas "valências" para as quais temos acordos de cooperação com o Estado! 

Se centrarmos nas pessoas a nossa solidariedade, daremos muito mais consistência e encontraremos muito mais força para reclamar do Estado que cumpra as suas obrigações constitucionais de garantir a todos os portugueses "igualdade de oportunidades" no acesso aos seus direitos sociais e promover junto desses mesmos destinatários uma adequada pedagogia dos seus "deveres de cidadania". 

Saibamos continuar a merecer o respeito e a confiança da sociedade portuguesa que se habituou a ver nas IPSS uma âncora de apoio em momentos de necessidade na hora de buscar creches e jardins-de-infância para os filhos, actividades de tempos livres para as suas crianças, cantinas para quem não pode comer em casa, centros de dia, de noite e lares para as pessoas idosas, entre outros muitos serviços. 

Fujamos à tentação de, por falta de dinheiro, sacrificarmos a qualidade e a exigência dos serviços que prestamos.
Quem conseguir fazer de cada família um "aliado" da Instituição, ganhará todas as apostas de futuro, poderá enfrentar todos os obstáculos, venham eles de onde e de quem vierem.

Não terá chegado a hora de cada Instituição rever muitas das suas estratégias na forma de lidar com as famílias, ouvindo-as muito mais e mobilizando-as para participar no dia-a-dia da gestão dos seus equipamentos? 

maia@paroquia-areosa.pt

 

Data de introdução: 2005-03-06



















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