"Florinhas do Vouga" é uma instituição diocesana com erecção canónica de 1940 e legalização civil de 1964. Criada por D. João Evangelista de Lima Vidal, o primeiro Bispo da restaurada Diocese de Aveiro, tem o pároco da Glória-Sé, padre João Gonçalves, como o seu principal responsável e dinamizador. Hoje, envolve várias valências, todas elas para responder às mais diversas carências, numa atenção permanente a quem mais precisa.
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SOLIDARIEDADE foi ao Bairro de Santiago, em trabalho de reportagem, para ver, ao vivo, a Cozinha Social, uma valência que está vocacionada para dar de comer a quem tem fome, tanto a famílias e pessoas residentes naquele Bairro, com cinco mil residentes, mas ainda a passantes, sem--abrigo, imigrantes e outros, da cidade e arredores, que não ganham o suficiente para comer ou estão desempregados.
No fundo, a Cozinha Social exerce uma acção complementar de outros serviços prestados pelas "Florinhas do Vouga" no Bairro de Santiago, e não só, já que esta instituição alarga o seu campo de intervenção a toda a cidade e ao Bairro do Griné.
Sendo certo que o Bairro de Santiago tem características próprias, com gente oriunda das zonas limítrofes de Aveiro e de algumas das suas "ilhas", gente que veio das ex-colónias, gente realojada e cujas hortas e casas foram ocupadas por esta urbanização, gente de outras etnias e dos Palops, gente, enfim, com costumes, culturas e maneiras de viver bastante diversificados.
Assim nos caracterizou aquele Bairro a coordenadora das "Florinhas do Vouga”, dra. Fátima Mendes, enquanto na Cozinha se preparava o almoço de sexta-feira, constituído por sopa de legumes, entrecosto com massa, pão, maçã e água, para além de 12 dietas recomendadas pelo médico. Bebidas alcoólicas não há para ninguém. Os que podem pagam um euro pela refeição e quem não pode não sai sem comer qualquer coisa.
Os primeiros apoios prestados no Bairro de Santiago, levados a cabo pela paróquia da Glória, foram assegurados por voluntários, mas cedo se sentiu a necessidade de investir noutros serviços, o que foi compreendido pela Segurança Social, com quem a instituição estabeleceu acordos de cooperação. Outras ajudas vieram, entretanto, da Câmara Municipal de Aveiro, a grande parceira da instituição em muitos sectores, e de outras entidades.
Presentemente, nesta zona da cidade, e para só falarmos desta zona, as "Florinhas do Vouga" oferecem serviços de Jardim-de-Infância e ATL, bem como de um Centro Comunitário, no qual se integra a Cozinha Social, mas que é muito mais abrangente. Este Centro tem um Apoio Domiciliário que trabalha todos os dias da semana, incluindo feriados, chegando a muita gente carenciada, um Ateliê juvenil, uma ATL (Meninarte), dirigida a crianças da rua, e uma Equipa de Integração Comunitária para animação socioeconómica, frisou ao SOLIDARIEDADE Fátima Mendes.
Para além dessas valências, a instituição possui uma Equipa de Intervenção Directa, no âmbito da toxicodependência, que procura trabalhar no sentido de motivar os indivíduos para o tratamento adequado, exercendo também uma acção personalizada junto dos arrumadores de carros, na tentativa de os integrar.
Há ainda um Gabinete de Atendimento e Acompanhamento Social, que está atento a todas as famílias do Rendimento Social de Inserção residentes no Bairro. Distribui géneros alimentares no âmbito do PCAAC (Programa Comunitário Alimentar e de Ajuda a Carenciados) e mantém bastante activo um Centro de Dia para Idosos.
Na prática, a acção social das "Florinhas do Vouga" estende-se, ainda, a cerca de 200 famílias, que beneficiam de diversas ajudas (medicamentos, despesas fixas e apoios técnicos, entre outros), sublinhou a coordenadora da instituição, onde está, como técnica, há nove anos.
É certo que o trabalho desta instituição não poderia ser tão eficaz e dinâmico como é, se não pudesse contar com acordos de cooperação estabelecidos com a Segurança Social e com ajudas de diversas entidades, nomeadamente da câmara, como nos garantiu aquela responsável.
Entretanto, o repórter do SOLIDARIEDADE assistiu à confecção do almoço, com as cozinheiras, Isabel e Madalena, numa azáfama constante para ao meio-dia tudo estar pronto. Com toda a atenção posta na comida que desde a manhã estava a ser preparada, lá iam olhando para quem chega à procura de alguma ajuda ou esclarecimento. Testemunhámos, então, o carinho e a delicadeza com que atenderam uma senhora de etnia cigana, com que atendiam o telefone, com que preparavam a louça e lavavam a fruta.
Teresa de Fátima, encarregada-geral das cozinhas da instituição, informou o nosso jornal que na Cozinha Social são servidos, diariamente, 40 a 60 almoços e 30 a 40 jantares. Para além destas refeições, fornecem mais 20 a 25 almoços e 10 jantares ao Centro de Acolhimento da Cáritas Diocesana, destinados aos sem-abrigo. A Segurança Social apenas comparticipa 100 refeições, o que torna bastante difícil a manutenção deste serviço, vocacionado, essencialmente, para os que têm fome ou muitas necessidades económicas.
Os habituais frequentadores da Cozinha Social são pessoas carentes: Desempregados, famílias de fracos recursos, gente de ordenados baixíssimos, toxicodependentes, alcoólicos e outros doentes, passantes, imigrantes de Leste ilegais, sete dos quais vivem numa situação dramática e para quem as "Florinhas do Vouga" estão a ser mão amiga, ao nível da saúde, da higiene e da alimentação.
O que vale, sublinhou a encarregada-geral, é que têm contado com apoios do Banco Alimentar Contra a Fome, de um Hipermercado e de algumas empresas ligadas ao ramo alimentar. Dois agricultores, um de Vilar e outro da Gafanha da Boa Hora, garantem o fornecimento, gratuito, de alguns legumes (couves, nabos, alho francês, alface, entre outros), sendo apenas necessário que a instituição os vá colher e transportar.
Teresa de Fátima sublinhou a necessidade de as "Florinhas do Vouga" terem mais voluntários ao seu serviço, nomeadamente no armazém, onde todos os produtos oferecidos têm de passar por uma triagem rigorosa, para se determinar a qualidade e a validade dos mesmos, procedendo-se depois à sua arrumação. E logo lembrou que "há tanta gente que podia ajudar, mas não o faz porque não está sensibilizada para este tipo de trabalhos".
Sobre o espaço exíguo da Cozinha Social, Fátima Mendes e Teresa de Fátima estão de acordo quanto à urgência do seu alargamento, fundamentalmente para separar a cozinha do refeitório e para os produtos a utilizar poderem ser acondicionados mais à vontade. E porque vêem difícil, para já, a construção de umas instalações de raiz, o que seria ideal, logo se lembraram de um espaço comercial, mesmo ao lado da Cozinha, que está à espera de ser arrendado. Mas como pagar a renda? "Só com ajudas certas e regulares", garantiram-nos, já que as "Florinhas do Vouga" não têm disponibilidades financeiras para isso. Se a Câmara Municipal de Aveiro e as Juntas de Freguesia da cidade, de mãos dadas com outras entidades e pessoas generosas, quisessem contribuir para a resolução deste problema, seria óptimo, disseram ao SOLIDARIEDADE.
Data de introdução: 2005-02-22