HOSPITAL DO BARREIRO

Homem com alta médica há dois meses continua numa maca

Um homem carenciado e alcoólico recebeu alta médica do Hospital do Barreiro há dois meses, mas continua deitado numa maca na Urgência da unidade alegadamente por falta de casa, apoio familiar e uma instituição social que o acolha.

João M., de 51 anos, teve alta do Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, a 14 de Dezembro, depois de ter dado entrada na Urgência, onde recebeu tratamento, quando foi encontrado caído numa rua da cidade.

O hospital advoga que tem feito todos os esforços junto de instituições de solidariedade social, Santa Casa da Misericórdia do Barreiro e Segurança Social para que o homem, que costumava passar o dia na rua e pernoitar numa casa abandonada, possa ser internado num lar, uma vez que necessita de acompanhamento de técnicos.

Em declarações à Agência Lusa, uma assistente social e um médico do hospital afirmaram que a Segurança Social, que paga um rendimento de inserção a João M., e a Misericórdia, que gere esse dinheiro e onde o homem procurava esporadicamente cuidados de higiene e alimentação, invocam impossibilidade de interná-lo num lar.

Por outro lado, referem as mesmas fontes, outras instituições de solidariedade social contactadas pelo hospital têm alegado falta de vagas. Ainda de acordo com as fontes, João M. permanece, grande parte do dia, deitado numa maca colocada num corredor da Urgência, dada a falta de camas nas enfermarias suscitada pelo aumento dos internamentos de doentes agudos com sintomas de gripe.

Argumentando que o homem sofre de perturbações mentais, a Misericórdia do Barreiro considera que João M. necessita de um apoio específico que escapa à actuação da instituição.

A Lusa procurou, ao longo do dia de hoje, esclarecimentos adicionais sobre este assunto junto dos directores dos Serviços Locais do Barreiro da Segurança Social e do Centro Distrital de Setúbal da Segurança Social, mas sem sucesso até ao momento. "A Segurança Social disse que o senhor João M., porque tem 51 anos, sai dos critérios para ir para um lar e sugeriu a hipótese do aluguer de um quarto. Mas ninguém no Barreiro aluga um quarto ao senhor M. As pessoas têm medo. E quem é que o limpa? E quem é que lhe vai tratar da roupa?", interrogou Irene Neves, assistente social no Hospital Nossa Senhora do Rosário.

A técnica explicou que o homem é conhecido no Barreiro há mais de 15 anos por se embriagar e provocar as pessoas nas ruas por onde deambulava durante o dia. À noite, de acordo com a responsável, costumava pernoitar numa casa abandonada.

"É uma pessoa desinserida socialmente, sem apoio familiar", frisou, por seu turno, Joaquim Rodrigues, adjunto da direcção clínica do hospital para o serviço de urgência. "Ele está estável, deixou de ser agressivo, não recusa alimentação nem cuidados de higiene, sente-se bem no hospital", acrescentou, ressalvando que João M. precisa de acompanhamento social permanente sob pena de regressar à vida que levava na rua e ao vício do álcool.

O médico e a assistente social sustentaram que o hospital contactou diversas instituições de solidariedade social com valência de internamento para que pudessem prestar apoio ao homem, mas que aquelas têm invocado falta de vagas para acolhê-lo. "O hospital não vai pô-lo na rua. O que queríamos é que a Misericórdia, que é gestora do dinheiro dele, nos desse uma ajuda e que a Segurança Social considerasse o caso uma situação excepcional", concluiu Joaquim Rodrigues.

Graça Oliveira, que coordena o sector dos carenciados e sem-abrigo na Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, defendeu que João M. "necessita de um acompanhamento diferente", uma vez que sofre de "perturbações mentais", e acrescentou que os lares da instituição se destinam a acolher idosos.

Aludindo a uma lista de espera de 2.600 utentes nos dois lares da instituição, o provedor da Misericórdia do Barreiro, Júlio Freire, respondeu laconicamente: "Não tenho condições para receber todos os casos do Hospital do Barreiro. O hospital que resolva. A Santa Casa não é uma extensão do hospital".

 

Data de introdução: 2005-03-01



















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