Morreu o Papa João Paulo II, aos 84 anos de idade.
O Santo Padre faleceu às 21h37 de sábado, 2 de Abril de 2005 (hora local, 20h37 em Lisboa), ao fim de quase 27 anos de pontificado.
O Santo Padre morreu esta noite às 21h37 [hora local] no seu apartamento privado" no Vaticano, afirmou o porta-voz do Papa, Joaquín Navarro Valls.
Karol Wojtyla foi eleito Papa a 16 de Outubro de 1978, iniciando seis dias depois o terceiro mais longo pontificado da história da Igreja Católica. Os 26 anos em que chefiou o Vaticano ficam marcados pelas inúmeras viagens, pelo ecumenismo e pela abertura a um mundo em convulsão.
Wojtyla nasceu a 18 de Maio de 1920 em Wadowice, nos arredores de Cracóvia, tendo perdido a mãe quando tinha apenas oito anos. Com a invasão da Polónia pelas tropas nazis, em 1939, a Universidade de Cracóvia, onde estudava filosofia, é encerrada e três anos depois inicia, em segredo, os estudos se para tornar padre.
Ordenado em 1946, Wojtyla viaja para Roma para completar os seus estudos, tornando-se, doze anos depois, o mais jovem bispo polaco. Em 1964 é promovido a arcebispo de Cracóvia e, três anos depois, é feito cardeal pelo então Papa Paulo VI.
Apesar da rápida ascensão na hierarquia da Igreja polaca, a sua nomeação para o cargo mais alto da Igreja Católica (1978) constitui uma surpresa: Wojtyla era o primeiro polaco a ascender ao cargo, o primeiro Papa não italiano em 455 anos e o mais jovem a ascender ao cargo em mais de um século.
Percebendo a surpresa que a sua nomeação causou – a Europa vivia então sob os auspícios da Guerra Fria e a Polónia ficava do lado de lá da Cortina de Ferro –, Wojtyla surge à varanda do Vaticano com um sorriso e palavras de optimismo.
Adopta o nome de João Paulo II, em homenagem ao seu antecessor, o italiano Albino Luciani, que ocupou o cargo durante apenas 33 dias.
Desde o início, o 264 º sucessor de São Pedro constrói a imagem de homem enérgico (o que lhe valeu a alcunha de “atleta de Deus”), carismático e afável, procurando sempre o contacto com os fiéis, em especial as crianças e os jovens.
Sinal dessa abertura ao mundo, são as viagens que João Paulo II inicia logo no seu primeiro ano de pontificado. O primeiro destino: a Polónia. A primeira visita à sua terra-natal é vista como um sinal de encorajamento ao Solidariedade, o sindicato de inspiração cristã que então dá os primeiros passos na luta contra o domínio soviético – que terminaria dez anos depois, colocando Wojtyla do lado vencedor.
Seguem-se-lhe outras 103 deslocações aos mais diferentes pontos do globo, perfazendo uma distância total que seria suficiente para fazer 30 viagens de circum-navegação.
De todas, a viagem mais emblemática terá sido a que efectuou em 2000 à Terra Santa. Num gesto inesperado e simbólico, João Paulo II desloca-se ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, deixando entre as fendas do local mais sagrado do Judaísmo uma nota em que pede perdão pelos séculos de perseguição ao povo de Abraão – um marco no diálogo ecuménico que sempre promoveu.
Poliglota e carismático, os discursos que faz cativam as multidões que reúne nos locais por onde passa. Interventivo, as palavras de João Paulo II não esquecem o mundo em convulsão, apelando incansavelmente à paz e ao combate à pobreza. Ao todo, escreveu 14 encíclicas (documentos doutrinais) e mais de dez mil discursos, abordando temas que vão do ambiente, à economia, passando pela segurança.
Se revolucionou na forma de evangelizar e na abertura ao mundo, João Paulo II é frequentemente apontado como demasiado conservador nas questões da família, da moral e da organização interna da Igreja, não tendo hesitado em afastar os teólogos mais contestatários.
Igualmente polémica é a sua relação com os movimentos ultra-conservadores, como a Opus Dei, cujo fundador, José María Escrivá, foi canonizado em tempo recorde (2002). O pontificado de João Paulo Paulo II fica, também, marcado pelo número recorde de canonizações (482 santos) e beatificações (1338) realizadas ao longo de últimos 26 anos, ou seja mais do dobro do que todos os seus antecessores juntos.
A agilidade que marcou os primeiros anos do seu pontificado sofreu o primeiro golpe a 13 de Maio de 1981, quando o jovem turco Mehmet Ali Agca atingiu a tiro o Sumo Pontífice, em plena Praça de São Pedro. A coincidência da data levaria João Paulo II a dizer que a sua vida fora poupada por intervenção de Nossa Senhora de Fátima, realizando no ano seguinte a primeira das três deslocações ao santuário português.
Mas a debilidade física só começou a ser notada em Abril de 1994, quando fracturou o fémur, confirmando-se depois que sofria de Parkinson, uma doença neurodegenerativa. Nos anos seguintes, o mundo assistiu à lenta degradação da sua saúde física, acompanhada de crescentes rumores sobre uma possível resignação. Contudo, o Sumo Pontífice garantiu sempre que não pretendia abdicar, afirmando que a continuação da sua vida pública servia como exemplo do contributo que os doentes e os idosos podem dar à sociedade.
Data de introdução: 2005-04-08