NUNO RODRIGUES, PRESIDENTE DA UDIPSS DE VILA REAL

Precisamos de novas respostas sociais

O Prof. Nuno Rodrigues preside à UDIPSS de Vila Real. Tem 61 anos, é professor do ensino primário reformado. Casado, dois filhos, é Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Chaves vai para 25 anos, tendo sido um dos provedores mais jovens do país – assumiu funções com apenas 36 anos.

SOLIDARIEDADE – Preside a uma UDIPSS do interior do país. Sente que há IPSS de primeira e de segunda?
Nuno Rodrigues –
Sendo de segunda as do interior? De maneira nenhuma, bem pelo contrário. Manifestamos alguma preocupação, alguma atenção especial às IPSS mais pequenas. Em Trás-os-Montes as instituições são, via de regra, mais pequenas, tendo apenas uma ou duas valências. 

SOLIDARIEDADE – Preocupação que se traduz em...
Nuno Rodrigues –
Pela sua dimensão, não têm meios para contratarem uma assistente social, um psicólogo, um Técnico Oficial de Contas, etc. Estamos a tentar criar uma rede social para suprir essas necessidades, para conseguirmos dar-lhes resposta adequada. 

SOLIDARIEDADE – A formação também se inclui na lista das vossas prioridades?
Nuno Rodrigues –
Sem dúvida. Tivemos uma acção de formação sobre cuidados de higiene e segurança no trabalho, iniciativa que registou uma grande afluência, grande interesse e entusiasmo. Ficámos surpreendidos com o número de presenças e com o interesse com que seguiram todos os trabalhos. Durante dois dias ninguém arredou pé. 

SOLIDARIEDADE – Há mais acções de formação previstas?
Nuno Rodrigues –
Vamos ter, muito brevemente, uma acção de formação sobre legislação laboral. Para Setembro, e aqui mais vocacionada para as instituições que lidam com deficientes, organizaremos uma acção de formação sobre a terapia da fala. 

SOLIDARIEDADE – Esta entrevista decorre na cidade da Régua, e não em Vila Real...
Nuno Rodrigues –
Sinal de que é nosso propósito descentralizar. O distrito tem 14 concelhos, nós reunimos nalguns deles, Chaves, Régua, Sabrosa, Ribeira de Pena. Vamos reunindo nos concelhos em que residem os elementos que compõem a direcção da UDIPSS. 

SOLIDARIEDADE – A vossa União registou boa adesão por parte das instituições do distrito?
Nuno Rodrigues –
Uma boa percentagem das IPSS estão inscritas na UDIPSS. Em percentagem, atingiremos os 80%. As que não se encontram filiadas são fundamentalmente as Misericórdias. Isto apesar de se tratar do distrito onde existem mais Misericórdias filiadas. 

SOLIDARIEDADE – Estamos a entrevistar o Provedor de uma dessas Misericórdias...
Nuno Rodrigues –
É verdade. Presido à Santa Casa da Misericórdia de Chaves que pertence, como é natural, à União das Misericórdias, mas também à CNIS. A Misericórdia de Chaves foi fundadora da União das IPSS, através do Padre Virgílio Lopes. O nosso número, na ex-União, era o 79. Na minha opinião pessoal, percebo, compreendo que as instituições devam estar arrumadas por sector de actividade. É verdade que a UIPSS tinha uma rede de informação impressionante. Hoje, posso dizer que a União das Misericórdias é, nesse capítulo específico, tão actuante como a CNIS. É uma das mais valias de integrarmos as Uniões ou Confederações, o podermos receber a informação necessária, a informação suficiente e em tempo, sem delongas. Para nós a informação é fundamental. Vivemos no interior, trabalhamos no interior, praticamos solidariedade longe dos centros de decisão, longe dos centros de poder. Daí a importância que a informação tem para todos nós. 

SOLIDARIEDADE – A limitação dos mandatos dos políticos está na ordem do dia. Nas IPSS também se faz sentir essa necessidade de renovação?
Nuno Rodrigues –
Há muita necessidade de renovação. E note que nós já temos uma lei que nos limita os mandatos, muito mais draconiana que a que o actual governo colocou em cima da mesa para os políticos. O limite, para nós, são dois mandatos de três anos. Só que a lei abre as portas à continuação, através de uma excepção. E o que notamos é que a dita excepção se tem tornado regra, em muitos dos casos. O erro está aí. 

SOLIDARIEDADE – Diz-se que Vila Real é um distrito envelhecido. Presume-se, assim, imune a algumas das pragas que atormentam outras zonas do país, como a toxicodependência...
Nuno Rodrigues –
É verdade que se trata de um distrito envelhecido. E como seria bom que estivessemos imunes a esse flagelo da droga. Infelizmente não estamos, muito longe disso. O interior não está blindado a esse problema, como durante anos se chegou a pensar. Para surpresa de muitos, o distrito de Vila Real apareceu em estatísticas recentes como o segundo ou terceiro distrito do país com maior consumo de drogas. O problema é grabe a nível nacional, e é grave no nosso distrito. Em nossa opinião, deveria apostar-se mais na profilaxia, agarrar o touro pelos cornos e tentar resolver o problema. 

SOLIDARIEDADE – Um distrito envelhecido traz à liça outras preocupações...
Nuno Rodrigues –
Temos muitas aldeias onde só existem idosos. Atente-se neste paradoxo, ouvir pessoas de idade vangloriando-se por não terem mandado os filhos estudar, felizmente não mandei estudar os meus filhos. E porquê? Porque, dessa forma, podem continuar a ser apoiados pelos filhos na velhice, continuam a ter a sua companhia. O mesmo não acontece com aqueles pais que mandaram os filhos estudar! Olhe que são muitos os velhinhos que, por essa razão tão pragmática, se ufanam por não terem mandado estudar os filhos.
O significativo aumento da esperança de vida obriga-nos a ter que pensar seriamente na criação de estruturas para acolher os mais idosos. Quando falo em estruturas não me refiro apenas à construção de lares, mas sim a todas as formas de apoio aos mais idosos, com um papel muito importante do apoio domiciliário. Necessitamos de novas respostas sociais, de avançar com uma nova filosofia no apoio domiciliário, tudo fazer para que as necessidades básicas do indivíduo sejam satisfeitas. 

SOLIDARIEDADE – Expectativas em relação a este novo governo, no que concerne ao sector da solidariedade...
Nuno Rodrigues
– Podemos antever um bom entendimento com o novo ministro, na medida em que, enquanto Secretário de Estado teve a capacidade de ouvir as IPSS, de dialogar com elas. Com este ou com outro governo, o futuro terá que se pautar sempre pelo diálogo, por um forte empenhamento na solidariedade.


 

Data de introdução: 2005-05-26



















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