JUNHO DE 2014

Novos caminhos, Valores de sempre

1. As IPSS não são imunes às correntes ideológicas, que determinam ou influenciam a opinião pública. Correntes umas mais da moda, outras mais profundas e duradoiras.
E, também por isso mesmo, estão sujeitas a riscos como o de perder a matriz diferenciadora e identitária em dimensões:
- O espírito de serviço e de militância inerente à fundação e dinâmicas do sector;
- A atração dos valores de mercado (eficácia a todo o custo, rentabilidade, competitividade, redução das pessoas a clientes e ou a capital humano);
- A excessiva dependência do Estado Central e Autárquico, entrando em dinâmicas de clientelismo;
- A concorrência e competitividade individualistas, sem normas e sem orientação, por oposição à relação e cooperação;
- O esquecimento ou a secundarização dos mais carenciados face a necessidades e, ou interesses financeiros.
Como manter o espírito de utopia de vencer a exclusão em nome da justiça social?
Como resistir a uma certa cultura de massas, presente no sistema mediático, no cinema, nas novelas, que põe em causa valores de base como a preocupação com os outros?
Como garantir independência e autonomia face às pressões permanentes dos mercados e dos estados?

2. Pelo oitavo ano consecutivo, depois de fazer percorrer a Chama da Solidariedade pelo interior e Norte de Portugal, a CNIS realiza a sua festa da Solidariedade.
E há razões bem fortes para fazer festa.
No exercício da cidadania, por caridade ou solidariedade, desde a ilha mais ocidental até à aldeia mais pequena e mais longínqua, há muita gente em Portugal a percorrer caminho e a estender a sua mão ao seu companheiro de jornada. Com a consciência de que não é possível nem admissível que cada um continue no seu trilho sem olhar para o que se passa ao lado. Como amigos, colaboradores, dirigentes, fundadores e suportes de Instituições de Solidariedade Social. Todos e envolvendo muitas e muitos.
Ergueram e mantêm creches, infantários, centros de atividades ocupacionais de tempos livres, de convívio, de dia ou de noite, lares e tantas outras respostas sociais e de apoio na ação social, na educação, na saúde e no desenvolvimento local! São milhares de Instituições, muitos milhares de amigos, colaboradores e dirigentes. multiplicados por múltiplos suportes e por muitos mais milhares de pessoas em quem a semente da solidariedade germina na esperança de um devir melhor. Onde e sempre que é preciso fazer despontar sorrisos em rostos carecidos de carícias e de afetos.
E, hoje, entre nós, quantas e quantos são cidadãos mais iguais entre si e com mais esperança e melhores oportunidades nos desafios da vida porque a solidariedade foi e continua a ser usada como dom de vida para uma vida melhor!

3. Enquanto a Chama da Solidariedade anda de mão em mão, a CNIS realiza o seu quinto Congresso. Sob o lema "Solidariedade: novos caminhos, valores de sempre".
Os valores têm uma carga afetiva associada a sentimentos fortes. É certo que uns apelam a uma adesão mais apaixonada que outros, mas todos têm um conteúdo emocional significativo. Também têm uma função prática. Pertencem ao domínio do intangível, dos ideais a que se aspira, mas eles guiam, inspiram, orientam, estimulam juízos, escolhas, opiniões, princípios e ações individuais e coletivas. Levam, muitas vezes, o ser humano a superar-se.
Em tempos de dificuldades acrescidas, a reflexão sobre o intangível, de que fazem parte os valores, pode ser considerado de pouca relevância. Contudo, é nos momentos de crise, em que os bens materiais escasseiam que as razões mais profundas e fortes podem ser resposta para as dificuldades. É preciso ter presente o que dá sentido à vida. O que fundamenta a própria existência humana.
Importa assumir que o modo de ser, de pensar e de atuar das IPSS depende essencialmente dos valores dos que as animam e dirigem. Nelas a inovação não é um fim mas um instrumento. Porque, para elas, o seu caminho é a pessoa humana e os seus valores são a pessoa toda e todas as pessoas.
Exatamente: em plena cultura judaico-cristã, procurando sempre saber onde está o respetivo irmão, de quem se sentem guardadoras (Génesis 4, 9). E, crentes ou não, sabendo que tudo aquilo que fazem a um dos mais pequeninos é ao próprio Cristo que o fazem (Mateus 25, 40). Daí a preocupação por todos e muito especialmente pelos mais carenciados e vulneráveis.
Porque a pessoa está no centro do funcionamento da sociedade e da promoção do bem comum, que é promovido na comunhão e comunicação colaborativa.
Porque toda a pessoa tem expectativas de futuro e sente-se mais pessoa na construção do seu futuro e do futuro dos outros.
Porque cada pessoa, na infinita riqueza da diversidade, é radicalmente una e igual na dignidade, na liberdade e na responsabilidade.

Lino Maia
Junho 2014

 

Data de introdução: 2014-06-03



















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