É a oitava Festa anual, com a respectiva Chama da Solidariedade, correspondendo ao tempo que o padre Lino Maia leva de liderança na Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade. No Porto, onde a CNIS tem a sua sede, prevê-se uma grande enchente, desde a Praça da Liberdade até ao Palácio de Cristal, para celebrar o facto dos portugueses estarem sempre disponíveis para ajudar.
A Festa da Solidariedade chega ao Porto. Um regresso simbólico às origens?
É importante que vá acontecendo em vários locais do país. É evidente que o Porto é associado sempre à CNIS porque tem aqui a sua sede.
A CNIS vai ter a nova sede...
Tem uma nova sede, ainda não é oficial, mas tem mantido a sede aqui no Porto. O país vais resvalando para Lisboa, mas espero que não seja o nosso caso. De âmbito nacional, só uma Liga de Futebol e a do Voleibol é que têm sede no Porto, para além da CNIS. Já houve grandes organizações aqui sediadas, mas Lisboa vem açambarcando tudo, o que não é bom para Portugal.
O que é a CNIS hoje?
É uma organização que congrega mais de 2800 IPSS filiadas, directa ou indirectamente, com uma actividade extremamente importante, que representa cerca de 4% do PIB nacional, que congrega perto de 200 mil trabalhadores, que está presente desde a aldeia mais recôndita de Bragança até a mais ocidental ilha das Flores. Está por toda a parte. A CNIS não gere todas estas instituições, apenas as representa, as apoia, nos pareceres de todo o tipo, no pensamento, na liderança, no dinamismo. E o mundo social solidário não é só a CNIS.
Quanto é que representa em termos de emprego?
A conta satélite do INE diz-nos que a economia social em Portugal tem 50 e tal mil organizações, empregando perto de 300 mil trabalhadores. O sector solidário tem só quatro mil, no total, com as Misericórdias e as Mutualidades. Parece um pequeno mundo no meio do universo da economia social. Mas, dos 300 mil trabalhadores, no total, 250 mil estão no sector solidário. É muita gente e, representados pela CNIS, são perto de 200 mil trabalhadores. É quase o dobro das pessoas que trabalham na banca em Portugal; é mais do que o pessoal que trabalha nos transportes.
Quantos utentes vão no total, às IPSS?
Os utentes directos das IPSS são perto de 600 mil. Temos que falar dos indirectos. Em Portugal eu diria que toda a família tem alguém que é utente duma instituição, seja numa creche, num ATL, num infantário, num centro de dia, num apoio domiciliário, num lar, numa instituição de apoio a deficiência.
Contabiliza os utentes do programa de emergência alimentar?
Estes não são contabilizados porque são utentes que convém não identificar. Diria que são eventuais, não são utentes frequentes das instituições. Infelizmente, muitos tornam-se habituais porque a deficiência alimentar e a falta de alimento é uma realidade para muitos. São cerca de 100 mil.
O primeiro-ministro diz que a despesa nunca foi tão elevada com a acção social em Portugal. Confirma?
É evidente que se eu fosse primeiro-ministro era capaz de apresentar também esse chavão. É um facto. Aquilo que se faz de apoio às pessoas em Portugal é, em grande medida, feito por estas instituições. Segundo um estudo que não foi feito pela CNIS, se fosse o Estado a promover aquilo que as instituições fazem, ficaria por dois terços acima daquilo que custa. As instituições fazem, envolvem também utentes, a comunidade e, portanto, fica mais barato. Agora eu tenho medo. Nós estamos a passar uma fase complicada neste país e vou dizendo que o Estado pode cair na tentação de confiar exageradamente neste sector. É importante que confie, e muito, mas nunca pensar que este sector vai fazer tudo. Há competências de que o Estado não pode abrir mão: a de ter políticas sociais, sustentadas, e a da universalização dos direitos. As instituições fazem muito, fazem muito bem, fazem mais barato, mas têm de obrigar o Estado a assumir as suas responsabilidade para que o sector não fique insustentável.
A solidariedade está na moda? Cada vez se fala mais de empreendedorismo social e auto-sustentabilidade...
A fama do termo nasceu na Polónia com o Solidariedade de Lech Walesa. Era um movimento de uma sociedade para se libertar de um jugo. Todo o mundo que aspirava pela liberdade associou os conceitos de solidariedade e libertação. Em Portugal, quem apelou para a importância da solidariedade foi quem disse que da solidariedade nem a pintinha do i podíamos retirar. Foi o padre José Maia, presidente da UIPSS durante 14 anos. Todos nós, com mais ou menos engenho e arte, vamos apelando para a importância da solidariedade que, no fundo, é o que há de mais genuíno na cultura judaico-cristã.
É esse mundo que acabou de descrever que vai sair à rua?
É a Chama da Solidariedade que já percorreu, em anos anteriores, praticamente o país inteiro. Este ano, saiu da Guarda, vem a caminho do Porto, passando por Bragança, Vila Real, Braga e Porto. Não é preciso chamar muito as pessoas para engrossar as caravanas da Chama da Solidariedade. As pessoas aderem espontaneamente. Vamos ter uma das caravanas maiores que o Porto já conheceu. Toda a gente é sensível. Nós podemos duvidar se Cristo ressuscitou ou não, se Deus tem alguma preocupação por nós ou não, agora ninguém duvida que está no coração de todos os Portugueses esta ideia de que não me posso alienar da sorte do outro. Isto entusiasma, ajuda as pessoas a darem-se, a envolverem-se, a cantar a importância da comunhão.
Um dos pontos altos é o Congresso...
Temos pessoas com muito pensamento. Falo de um Vieira da Silva, de um Carvalho da Silva, falo com muito carinho do nosso Bispo do Porto, mas não vou citar mais nomes pois penso que o Congresso não deve ser uma montra de rostos. Deve ser sim um espaço de divulgamentos. Era isso que eu queria. Concluímos cedo as inscrições, pela primeira vez. Eu queria, sobretudo, que surgissem ali ideias envolventes. Hoje fala-se muito de inovação, mas a inovação não é um fim em si mesmo. É um instrumento para um serviço às pessoas que têm que estar no centro das nossas preocupações. Encontrar melhores respostas, melhores serviços, é isto que é fundamental e julgo que o Congresso nos vai ajudar.
V.M. Pinto - texto e fotos
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