Reunir 704 pessoas, dos 3 aos 73 anos (provavelmente alguns ainda mais velhos, mas assim rima!), e levá-las em excursão do Porto até ao Jardim Zoológico de Lisboa é… Obra!
No ano em que celebra 50 anos de existência, a Obra Diocesana de Promoção Social, a maior IPSS do País, concretizou mais uma das 50 actividades comemorativas previstas para 2014 e realizou a maior excursão de uma única IPSS alguma vez realizada em Portugal. Mais de sete centenas de crianças, idosos e colaboradores dos seus 12 Centros Sociais viajaram de comboio (eram oito carruagem completamente lotadas) e invadiram, literalmente, o Jardim Zoológico de Lisboa.
Uma autêntica epopeia solidária que proporcionou um dia diferente e completamente fantástico a todos a avaliar pelo entusiasmo, excitação e sorrisos que cada um dos 704 rostos que viajaram no comboio fretado à CP rumo à capital do Império exibiam.
A partida da estação de Campanhã estava agendada para as 7h52, mas o dia para todos começou bem mais cedo… É de acreditar mesmo que muitos tenham dormido mal, ou nem sequer tenham dormido, fruto da excitação e ansiedade de ir ver… os bichos.
Por volta das 6h30 já os Centros Sociais do Carriçal, do Cerco do Porto, da Fonte da Moura, do Lagarteiro, de Machado Vaz, da Pasteleira, de Pinheiro Torres, da Rainha Dª Leonor, do Regado, de S. João de Deus, de S. Roque da Lameira e de São Tomé começaram a viver uma azáfama diferente da habitual, especialmente àquelas horas da manhã.
Às 7h30 já todos os excursionistas, transportados até Campanhã em autocarros, se encontravam na plataforma da estação portuense, aguardando que o comboio especial da Obra Diocesana aportasse à Linha 9. Toda a gente dentro da respectiva carruagem, previamente definida, e poucos minutos depois da hora prevista lá abalava o comboio da Obra, carregado de felicidade, mas também de muito entusiasmo. Até à chegada a Lisboa, cerca de 3h30 depois, era frequente ouvir-se perguntar se ainda faltava muito para chegar a Lisboa, em especial vindo das bocas dos mais pequeninos.
Uma hora após a partida foi tempo do pequeno-almoço, com toda a gente a «engolir» um pão com manteiga e um iogurte, ao que a seguir alguns (poucos) se deixaram cair nos braços de Orfeu, uma vez que a alvorada havia sido bem mais cedo do que o habitual. Porém, a esmagadora maioria estava demasiado excitada para que se deixasse agarrar pelo joão-pestana.
Entre a pequenada, enquanto uns brincavam, outros ouviam histórias contadas pelas educadoras, outros jogavam vídeo-jogos, outros ainda desenhavam, enquanto os mais velhos conversavam ou descansavam as vistas.
OBRA PÁRA LISBOA
A chegada à estação de Sete-Rios foi à hora prevista (11h30). Encaminhado por agentes da PSP, o longo, muito longo, cortejo da Obra Diocesana percorreu a pé os cerca de 500 metros que separam a estação da CP do Zoológico, parando o trânsito envolvente aos três cruzamentos que teve que atravessar. À sua passagem o desespero dos automobilistas era uma espécie de saudação à comitiva portuense tantas eram as buzinadelas. A Obra parava Lisboa!
Já no interior do Jardim Zoológico foi tempo de encontrar sombras para o almoço. Espalhados pelas áreas da entrada, miúdos e graúdos saborearam uma sandes de panado, um sumo e uma peça de fruto como se fosse o mais lauto dos manjares, e de forma bem rápida, porque o objectivo era ver a bicharada.
Estômago reconfortado, cada grupo seguiu o seu próprio itinerário dentro do Zoo… Elefantes, girafas, rinocerontes, leões, tigres e tudo o mais que de animal selvagem a mente se possa lembrar, nada ficou por ver. O cansaço não existia e nem os mais idosos, muitos auxiliados por bengalas, mostravam sinais de desgaste ou impaciência pela caminhada em torno dos espaços onde os animais vivem no centro de Lisboa.
Às 14h30 foi hora de reunir à entrada da Baía dos Golfinhos, onde meia-hora depois começava o espectáculo dos mamíferos marinhos. Com a plateia completamente lotada, muito por culpa dos 704 visitantes da Invicta, o espectáculo começou com a actuação do Kwibus, do Joshua, do Seth e do Marduk, quatro leões-marinhos que conquistaram de imediato todo o público. De seguida foram os golfinhos Neo, de 10 anos, Soda, de 40, e Ajax, de 20, a fazerem as delícias de miúdos e graúdos com as suas piruetas e acrobacias, que levaram o público ao rubro.
Foi a cereja em cima do bolo e que, por certo, nenhum dos presentes jamais esquecerá, mesmo os de mais tenra idade.
NOS BRAÇOS DE ORFEU
Findo o espectáculo foi tempo de regressar à estação de Sete-Rios, onde o comboio tinha hora marcada para partir (16h30). Uns 10 minutos de atraso, nada que complicasse o tráfego ferroviário, e a Obra estava de regresso a casa.
Atentas e conhecedoras do que a casa gasta, as educadoras e as auxiliares não perderam tempo em dar o lanche à pequenada, pois ainda antes de o comboio passar por Santarém já eram muitos os que, extenuados pela caminhada, pelo calor, mas essencialmente pela excitação, se entregaram aos prazeres do sono. E nem o desconforto, para quem quer dormir, dos assentos do comboio foram impeditivos que muitos dormissem o sono dos justos até à cidade Invicta.
No entanto, muitos eram os que ainda estavam demasiado entusiasmados com o que tinham assistido e vivido durante o dia para se entregarem ao sono e ao cansaço, continuando a festa rumo ao Norte.
No regresso entre as 465 crianças, os 145 idosos e os 96 colaboradores a satisfação media-se pelos sorrisos rasgados, pelo sono profundo e sereno de muitos e pela euforia de outros tantos que reinava no comboio da Obra.
João Pratas, o responsável pela logística, ainda na ida para Lisboa dizia, ao SOLIDARIEDADE, que agora já só lhe faltava fretar um avião para iniciativas da instituição. Sintomático ou não, já no regresso uma colaboradora comentava com outras: “Agora era irmos de avião à Disneylândia… Bem, basta o presidente sonhar e, por certo, vamos!”.
PRESIDENTE ORGULHOSO
A viagem, durante a qual não houve qualquer incidente e em que a organização roçou a perfeição (se tal é possível), terminou às 20h00 no ponto onde havia começado 12 horas antes e onde já se encontravam os autocarros que levariam as 704 almas repletas de felicidade até aos respectivos bairros, de onde seguiriam para as suas casas.
“É um sentir de felicidade”, começou por dizer Américo Ribeiro, presidente do Conselho de Administração da Obra Diocesana de Promoção Social, que, visivelmente emocionado, fez o balanço da epopeia solidária que perdurará na memória de todos os que a integraram: “É histórico. Uma honra grande para a instituição, que mostrou a sua capacidade organizativa e de mobilização e a sua capacidade de sentir a responsabilidade. Foi excelente e não posso deixar de realçar o primor da CP, mas fundamentalmente o da PSP, quer da cidade do Porto quer da de Lisboa, que foram inexcedíveis, pela segurança e tranquilidade que nos deram. Parámos a cidade de Lisboa, foi um momento único na vida da Obra, um momento único para todas estas pessoas, provavelmente para muitas destas crianças e destes idosos a primeira e única vez que visitam o Jardim Zoológico”.
Quanto ao futuro: “Só consigo dizer que, neste momento, esta instituição é imparável, na sua forma de estar, na visibilidade e na qualidade que põe em tudo e isto é um exemplo. Foi possível testemunhar o exemplo de ternura destas crianças, de dedicação de todos estes idosos e, fundamentalmente, do sorriso que todos eles apresentaram neste dia. Estas 704 pessoas demonstram aquilo que a Obra é. A Obra Diocesana hoje é aquilo que as pessoas que estão dentro dela querem que ela seja, fundamentalmente os colaboradores. O Conselho de Administração é um mero gestor, não deixando de ser também um grande motivador e entusiasta, e hoje foi um teste à capacidade da instituição. Hoje sou um homem feliz, emocionado e orgulhoso”.
A alegria de todos à chegada a Campanhã foi a maior prova de que, apesar da crise, das dificuldades e das carências, é possível fazer as pessoas felizes.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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