CASA DO POVO DE ALVALADE, SANTIAGO DO CACÉM

Novo Lar de Idosos abre em Setembro

A vontade da Direcção é inaugurar e abrir aos utentes o novo Lar de Idosos em Setembro, porém, a incerteza sobre a celebração ou não de um Acordo de Cooperação com a Segurança Social está a levantar problemas, pois esta é informação fundamental para abrir as inscrições.
O novo equipamento da Casa do Povo de Alvalade tem capacidade para 60 utentes e está pronto, decorrendo, durante o mês de Agosto, a fase de limpeza e colocação do mobiliário. O desejo dos dirigentes da instituição é que a valência abre em Setembro, mas ainda há muitas dúvidas no ar.
“Abrir o Lar sem Acordo de Cooperação não é impraticável, porque há sempre gente que pode pagar, mas levanta-nos muitos problemas. A começar pela população que vê as suas expectativas defraudadas com a criação de um equipamento que é, como se diz, para ricos”, afirma Luís Silva, presidente da instituição e que está na casa do Povo desde 1976.
“Esperemos que haja comparticipação do Estado, senão acontece como um equipamento que há aqui perto, que não tem Acordo de Cooperação, está cheio, mas não tem ninguém da aldeia… Quem mais pode é que está lá porque pode pagar”, lamenta, revelando acerca das expectativas futuras da Direcção: “Quando avançámos para isto não sabíamos que não haveria Acordo… Temos esperança, porque em Abril abriu um Lar na freguesia vizinha de Bela e está cheio, sendo que tem Acordo de Cooperação apenas para algumas vagas. Esse foi construído no âmbito do PARES”.
A nova Estrutura Residencial Para Idosos, construída em Alvalade, custou 2,1 milhões de euros, ao abrigo do POPH, cabendo à instituição um valor de cerca de 900 mil euros. Quanto à questão do Acordo de Cooperação, Luís Silva adianta ainda: “Da Segurança Social dizem-nos que vão cortar nas instituições com acordos firmados e que não tenham o número de pessoas do Acordo e que isso vai reverter para novos acordos… Não sei se isso vai ser aplicado ou não… Mas do conhecimento que tenho do distrito de Beja, quando abriu um lar na freguesia de S. Bárbara de Padrões, concelho de Ourique, dos 40 lugares apenas sete eram comparticipados, mas pouco tempo depois aumentaram bastante o número de comparticipados. Aqui ainda não sabemos como vai ser, mas temos que saber! Queremos inaugurar o Lar em Setembro e temos que saber como é, até para começarmos a receber as inscrições, porque é muito diferente o valor a pagar pelas pessoas se houver Acordo e se não houver”.
A isto, o vice-poresidente Ricardo Cruz acrescenta: “Não podemos esquecer que as reformas aqui são todas da ordem dos 300, 400 euros. A maioria das pessoas é do Regime Rural”.
E se inicialmente a comparticipação na obra era de 60%, entretanto passou para 75%, tendo o presidente Luís Silva esperança de que ainda possa ver aquela percentagem aumentada, até porque, como revela: “O nosso Lar, segundo o projecto, é uma obra transconcelhia. Nós estamos na ponta interior do concelho, com fronteira com os concelhos de Odemira, Ourique, Aljustrel, e há muita gente a querer vir para cá. Sabemos disso porque estamos a ser muito contactados, apesar de ainda não estarmos a receber inscrições”.
Outrora concelho, Alvalade do Sado é a freguesia mais interior do concelho de Santiago do Cacém e a mais distante da capital de distrito, Setúbal. Viveu durante muito tempo, e ainda agora em grande parte, da lavoura, onde durante muitas gerações imperou o latifúndio, mas actualmente a Casa do Povo é, simplesmente, o maior empregador da freguesia. Hoje são 44 os funcionários do quadro, a que se juntam mais nove colaboradores ao abrigo de um protocolo com o IEFP.
Apesar do grande investimento que a instituição tem que fazer, a saúde financeira não é problemática.
“É equilibrada, mas, neste momento, a nossa dívida ao Crédito Agrícola é de 970 mil euros”, sustenta Luís Silva que revela ainda que a instituição, com a campanha de donativos para a construção do equipamento, ter conseguido qualquer coisa como “50 mil euros”.

CASA COM 71 ANOS

“A Casa do Povo de Alvalade foi criada em 1943 e, ao contrário daquilo que aconteceu no resto do Alentejo, em que eram sindicatos dos trabalhadores rurais mas comandados pelos patrões, aqui em Alvalade isso não aconteceu”, começa por contar Luís Silva, recordando: “Os fundadores foram um professor primário, do Norte que estava aqui destacado, um industrial de calçado, um comerciante de retalho e pequenos produtores, mas os grandes latifundiários não estavam cá integrados nos órgãos fundadores e directivos”.
Uma das grandes aspirações da altura era a assistência médica, passando a população rural a ter cuidados de saúde com a criação da Casa do Povo, que se instalou numa casa pequena e em 1964 foi, então, construído o edifício-sede, no centro histórico da freguesia.
“Com o 25 de Abril muitas Casas do Povo foram extintas, mas especialmente devido à extinção do organismo da tutela, em 1991, que era Junta Central das Casas do Povo. Nessa altura foram muitas as que desapareceram”, lembra o presidente da instituição, acrescentando: “No entanto, a Casa do Povo de Alvalade nunca deixou a sua actividade sócio-cultural e recreativa. A opção foi pela área social e em 1982 surgiu o Centro de Dia, no primeiro andar do edifício-sede, mudando para este novo em 2003, e dois anos depois, em instalações da autarquia, o Jardim-de-Infância O Comboio”.
Actualmente, a Casa do Povo de Alvalade acolhe em «O Comboio» 25 bebés em creche e outros tantos petizes em pré-escolar, 107 idosos em Centro de Dia, sendo que apenas 90 lugares estão protocolados, e ajuda 75 utentes em Serviço de Apoio Domiciliário (35 em sete dias e 40 apenas cinco dias) e ainda 264 pessoas no âmbito do PCAAC - Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados.
Os 30 anos do Centro de Dia tem funcionado como uma verdadeira revolução em Alvalade, com os idosos a abrirem-se a novas realidades.
“Os nossos idosos mudaram bastante desde que temos aqui um jovem animador social, que chega a ter a sala cheia em dias de actividades. Para além disto, ainda temos ginástica para as crianças e para os idosos”, revela Luís Silva, que realça: “Não esquecendo que estamos num meio rural, gostaríamos de ter também aulas de música, porque, estou certo, que alguns ainda gostariam de aprender ou recordar. Nas sedes de concelho há uma outra realidade que são as universidades sénior, mas aqui seria um pouco complicado porque as pessoas não cresceram nesses meios, mas não quer dizer que não se motivassem também. Dantes também não pintavam e agora fazem-no. Aqui há uns anos não havia nada disto, mas também não havia técnicos. Em, boa hora as instituições começaram a integrar técnicos nos seus quadros”.
Paralelamente às três respostas sociais, a Casa do Povo de Alvalade sempre acompanhou a comunidade tentando integrá-la social e culturalmente. Este acompanhamento é feito através de actividades culturais e recreativas e ainda do bar da sede, que dispõe de todas as condições de conforto e bem-estar, incluindo um posto de Internet.
A este propósito, Ricardo Cruz refere as “colónias de férias do infantário e para a comunidade, o Baile da Pinha, que é uma tradição muito antiga, as Festas de S. João, com marchas infantis, a Feira Medieval, criada por nós e com a participação de muitas outras instituições”, sublinhando que “são tudo actividades abertas à população”.
Por seu turno, Luís Silva deixa um lamento: “Dantes faziam-se muito mais actividades culturais, como teatro, mas agora os tempos são outros, as pessoas são outras e a juventude tem outros interesses, como os computadores e os jogos”.
E como seria Alvalade sem a Casa do Povo? “Não faço ideia”, diz Luís Silva, ao que Ricardo Cruz acrescenta: “Numa visão mais jovem, a Casa do Povo é o ex-libris da terra. Aqui na região há diversas Casas do Povo activas, mas nenhuma como a nossa, nem tão grande. Talvez aqui o povo seja mais unido, porque qualquer coisa da Casa do Povo é sempre algo para a terra”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-08-11



















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