DAR E RECEBER

Ajuda social num computador perto de si

Integrar numa única rede a totalidade das respostas sociais existentes em Portugal, sejam de IPSS ou de grupos informais, que possam ter articulação com uma entidade que possa atestar da sua veracidade, transformar cada português em voluntário e dar nova vida aos bens é o objetivo último do portal darereceber.pt, que a Entrajuda e a Cáritas Portuguesa lançaram há pouco mais de meio ano.
“O balanço é muito, muito positivo”, começa por afirmar Isabel Jonet, presidente da Entrajuda, autora da candidatura ao POPH que levou à prática o projeto darereceber.pt.
“Por um lado, pôde-se lançar o portal e dar-lhe visibilidade, dando assim visibilidade a muitas ações de voluntariado e à possibilidade de as pessoas doarem as coisas que têm em casa e já não lhe dão utilidade. Por outro, o portal permitiu trazer esta intervenção na solidariedade social para um plano um pouco diferente. Para além dos acessos e dos bens doados à plataforma e dos voluntários que hoje estão inscritos, também promove esta possibilidade de as pessoas poderem trabalhar em rede”, argumenta Isabel Jonet, explicando: “Trabalhar em rede é muito importante, especialmente, quando os recursos são escassos e estas redes, com as novas plataformas informáticas, estão muito facilitadas, pelo que o «Dar e Receber» trouxe esta ideia da rede e que as pessoas se podem ver na rede sem perder o espaço e a individualidade, mas partilhando recursos”.
O portal “é uma plataforma congregadora de pessoas e instituições”, de pessoas que têm algo para dar e de instituições que procuram algo e, também, de pessoas que querem dar bens a instituições que precisam desses bens.
Ponto assente para a Entrajuda e a Cáritas é a exclusiva utilização do canal das IPSS para fazer chegar os bens e serviços aos destinatários.
“Para nós é, absolutamente, essencial que seja percecionada esta forma de trabalhar por parte das pessoas. As IPSS são um canal privilegiado de combate à pobreza, cortando ciclos, e de comportamentos acomodativos. As instituições é que conhecem a realidade no terreno”, sublinha a presidente da Entrajuda.
O darereceber.pt surge na sequência de algum trabalho já desenvolvido pela Entrajuda, que à data da sua criação, 2004, identificou algumas lacunas a nível de ação social.
“A Entrajuda surgiu muito pela experiência do Banco Alimentar Contra a Fome e o que conhecemos são muitas instituições espalhadas pelo território nacional que têm dificuldades e diversas carências. E já em 2004, quando foi fundada, o que me parecia que poderia fazer mais falta às instituições eram recursos humanos qualificados e é com esse objetivo que a Entrajuda nasce”, conta, explicando o «modus operandi» da instituição, que desembocou no portal nascido em maio deste ano.
“O que fizemos foi lançar a Bolsa de Voluntariado, em 2005, e que hoje é o maior site português de voluntariado onde as instituições podem ir à procura de voluntários com talentos e qualificações, mas também com apetências particulares. E o que temos neste site é um ponto de encontro entre as pessoas que querem dar e as instituições que têm necessidade dessas qualificações. Em 2007 abrimos o Banco de Bens Doados, um espaço físico com instalações em Lisboa”, elenca Isabel Jonet, sustentando: “Ao longo destes anos e com a evolução das novas tecnologias consideramos que não faz sentido não ter estas respostas na internet, mais acessíveis e, sobretudo, onde os jovens se reconhecem. Se queremos jovens a fazer voluntariado temos que ir ao encontro deles nas plataformas deles e que são as realidades atuais”.
Então, perante o desafio da Cáritas Portuguesa, a Entrajuda apresentou uma candidatura ao POPH para levar aquelas duas respostas sociais, a Bolsa de Voluntariado (já na internet) e o Banco de Bens Doados, para o online, criando algo de completamente novo em Portugal, “uma espécie de «Google da Caridade», ou seja, é um Google das respostas sociais que existem para ajudar a pessoa com necessidades, exatamente na área geográfica onde essa pessoa tem as necessidades”, afirma Isabel Jonet, explicando: “Lançámos o portal «Dar e Receber» cujo principal pilar é a ajuda social. É um motor de busca que permite fazer a listagem de todas as respostas sociais que existem em Portugal. As instituições inscrevem-se, são visitadas, no caso de não serem já conhecidas, e nós vamos confirmar se é real aquilo que as instituições dizem que oferecem. Casos há em que as instituições têm o registo de IPSS, mas não têm atividade. Portanto, temos que confirmar o que fazem, a quem e como”.
Assim, o darereceber.pt é um motor de busca com o principal enfoque na ajuda social, mas com mais dois pilares, o da Bolsa de Voluntariado e o Banco de Bens Doados.
E apesar destas duas acessibilidades já existirem receberam melhoramentos importantes.
“A Bolsa de Voluntariado já existia no âmbito da Entrajuda, mas com esta candidatura pôde-se ir mais além. Lavou-se a cara e tornou-se de muito mais fácil acesso e mais moderno. Mas incluiu-se que cada instituição pudesse ter um mini-site sem qualquer custo, onde pode mostrar a sua atividade. As instituições, mesmo que não tenham recursos, têm a possibilidade de ter uma montra na internet para mostrarem o que fazem, como fazem e com quem fazem”, revela Isabel Jonet, destacando: “Tratando-se de uma resposta nova e inovadora, temos que ensinar as pessoas, temos que dar formação e, sobretudo, que tentar transformar esta plataforma num instrumento de trabalho das técnicas de Serviço Social. Elas têm que perceber que encontram aqui uma ajuda que pode ser preciosa para o seu dia a dia”.
Em termos de resultados, Isabel Jonet mostra-se parcialmente satisfeita, pois ainda há “falta de hábito” por parte das instituições em recorrerem a estas soluções.
“Se a plataforma revela que há pessoas interessadas em fazer voluntariado e em doar bens, e agora sabem mais facilmente como fazê-lo, já o mesmo tipo de procura por parte das instituições não se verifica que seja tão habitual”, afirma, argumentando: “Parece-me que as instituições de solidariedade social, hoje, ainda preferem pedir do que procurar onde os meios estão definidos, mesmo que seja em plataformas onde eles estão para doação. Há ainda alguma necessidade de se informar estas instituições de que existe uma plataforma que disponibiliza a informação do que existe e pode ser procurado. Parece-me que preferem bater a portas físicas, porque não estão tão habituadas à possibilidade de irem à internet procurar o que necessitam”.
A “falta de hábito” é, para a presidente da Entrajuda, o principal obstáculo a que o portal alcance na plenitude os seus objetivos que são bastante ambiciosos.
“Ainda há todo um caminho a percorrer e, por isso, temos feito uma ampla divulgação mediática e diversas ações de formação” para que entre nas rotinas das instituições a busca do que necessitam numa plataforma que lhes disponibiliza uma vasta oferta em termos de ajuda social, voluntariado e bens doados.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-12-05



















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