Os toxicodependentes gastam, em média, entre quatro e cinco anos de vida em tentativas de desintoxicação e cerca de metade tem problemas com a justiça enquanto consome, segundo um estudo sobre a vida daqueles indivíduos. "Toxicodependentes: trajectórias, perfis sócio-psicológicos, padrões familiares e processos mentais" é uma pesquisa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), coordenada pela socióloga Anália Torres e apresentada em Lisboa no seminário "Consumo de Drogas: Dor, prazer e dependências".
O estudo baseou-se em 885 casos de indivíduos que recorreram ao Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) do Restelo, em Lisboa, através dos quais foi possível uma caracterização social, familiar e dos padrões de consumo dos toxicodependentes. A investigação, baseada em informação recolhida em 2003, apurou que, na sua maioria, "os toxicodependentes são homens em idade jovem, apresentam pouca escolaridade e baixa integração sócio-profissional".
Os toxicodependentes têm maioritariamente pais casados, são solteiros e recorreram ao CAT por causa da sua dependência da heroína. Dos casos analisados, 83 por cento eram homens e 17 por cento mulheres. As mulheres estão, contudo, a recorrer cada vez mais ao CAT, tendo existido um aumento de 21,9 por cento de homens para 29,1 por cento de mulheres, entre 1999 e 2003.
A média de idade dos toxicodependentes à data de acolhimento no CAT era de 27 anos, embora os investigadores tenham identificado "um aumento na idade dos indivíduos" que, nos últimos anos, recorreram a este centro. Até 1993, a média de idades dos toxicodependentes era de 25 anos, de 27 anos entre 1994 e 1998 e de 30 anos entre 1999 e 2003.
Reconhecendo que "não há estatuto ou condição social impermeável à toxicodependência", os autores do estudo indicam que os pais de indivíduos que recorreram ao CAT se inserem em categorias profissionais mais desfavorecidas, relativamente à maioria da população de Lisboa.
Uma das conclusões que surpreendeu os investigadores foi o facto da maioria dos toxicodependentes ter pais casados. "Contraria-se, assim, uma leitura mais simplista que associa a separação ou o divórcio dos pais à toxicodependência dos filhos, verificando-se provavelmente que serão as situações problemáticas, as tensões e as conflituosidades familiares as que mais pesam, independentemente da situação conjugal dos pais do indivíduo toxicodependente", escrevem os autores do estudo.
Em relação à droga consumida, a esmagadora maioria (90 por cento) dos indivíduos recorreu ao CAT devido à dependência da heroína. Entre o total de indivíduos consumidores de heroína, 56 por cento fumava-a, 27 por cento injectava-a e 17 por cento utilizava os dois modos de consumo. A idade média de início de consumo de heroína identificada pelos investigadores foi os 20 anos. O estudo indica que o tempo médio em tentativas de desintoxicação é de quatro a cinco anos, os quais são geralmente gastos entre os 25 e os 30 anos.
O estudo analisou ainda as mudanças nas trajectórias de vida dos indivíduos estudados após o contacto com o CAT, tendo apurado que "a maioria dos indivíduos abandonou os consumos de drogas, melhorou a sua escolaridade, empregou-se e constituiu família".
Data de introdução: 2005-06-08