No penúltimo dia do ano de 1999, o padre Joaquim Ferreira, pároco de Mindelo, tinha “a barriga a doer porque não havia clientes” para o novo Centro Social e Paroquial que inaugurava na presença do ministro da Solidariedade, Ferro Rodrigues. Felizmente, tudo se resolveu e hoje a vida da instituição é também feita de listas de espera.
“Esta casa surgiu da necessidade em haver uma instituição de carácter social. Construímos uma igreja nova na praia e achámos conveniente fazer uma obra de cariz social. Comprámos o terreno e dedicámo-nos à construção”, recorda o pároco e presidente da instituição, acrescentando: “Não havia nada de ordem social e era necessária uma instituição para ajudar a resolver os problemas da infância à terceira idade. E tem-se visto e vê-se que esta é uma instituição bem necessária para colmatar os problemas que existem”.
Depois de algumas obras de melhoramento e requalificação das instalações onde o Centro funciona, o grande propósito dos seus dirigentes é o saneamento das contas da instituição, para, então, abordar o futuro com outro à-vontade.
Este desiderato surge, porque com as obras realizadas o investimento foi grande e a situação financeira da instituição ficou desequilibrada.
“Temos que ter esta casa sustentável e enquanto eu cá estiver terá que o ser. É certo que nos metemos em obras muito grandes, porque o ON2 nos deu umas centenas de milhares de euros, mas nós também metemos alguns, porque isto foi uma remodelação muito grande e houve obras que não eram contempladas por esse programa”, refere o padre Ferreira, no que é acompanhado pela diretora-técnica Mafalda Figueiredo: “É que a ampliação da creche foi há dois anos, mas o Acordo de Cooperação (para mais 21 crianças) foi apenas há um ano”.
E como explica a responsável técnica, a intervenção não foi por questões estéticas, mas por necessidade: “Houve uma remodelação do espaço, criando-se mais salas e transformando-se o ATL em creche. Perante a procura que vínhamos registando na creche, a nossa valência mais procurada, assim transformámos o espaço do ATL em creche. Convém dizer que na altura fizemos ainda melhoramentos a nível da cozinha, no pré-escolar, mas dentro do edifício que já existia”.
A instituição surgiu com respostas para a infância e terceira idade, especificamente creche e ATL e Centro de Dia e SAD. Mas, “por razões várias o ATL desapareceu numa altura em que havia conveniência que mudássemos de valência por parte da Segurança Social, então, depois veio o jardim-de-infância”, conta o pároco, que recorda um momento de dificuldade por que a instituição passou: “Há dois, três anos tivemos aqui uma situação muito difícil e o chão ia-nos fugindo, porque as despesas eram muitas, as obras custaram muito dinheiro, o Acordo de Cooperação não vinha, pois estivemos um ano com a nova creche sem acordo… Entretanto, recebemos uma herança e estamos a pagar as dívidas todas com ela. Depois de termos tudo a zero é que vamos conseguir saber se somos sustentáveis ou não, pois estamos já a lançar um estudo para o efeito. Para isso temos que pagar tudo o que devemos, como ao banco e a alguns de nós que emprestaram dinheiro à instituição”.
Apesar das dificuldades, o presidente da instituição acredita que as águas agitadas já passaram: “Esta instituição é sustentável e, com os protocolos que existem e a capacidade das pessoas que cá temos e suas mensalidades, parece-me que tornam a casa sustentável. Toda a gente manda funcionários embora, a própria Segurança Social está a mandar 700 embora, mas nós queremos ver se, não metendo mais ninguém, aguentamos o barco. Em cada mês temos que guardar cinco a sete mil euros para a manutenção futura e depois com o normal funcionamento da instituição manter a sustentabilidade da casa”.
Atualmente, o Centro de Mindelo acolhe 66 crianças em Creche (mais 10 do que o Acordo de Cooperação), 52 em Pré-escolar (mais oito), 30 idosos em Centro de Dia (mais cinco) e 30 em SAD (única valência que não tem mais utentes do que os contratualizados com a Segurança Social). Esta situação poderia acarretar dificuldades financeiras extra à instituição, mas, para já, tal não se verifica.
“Se pergunta se são os Acordos de Cooperação que mantêm a casa, digo-lhe que sim, e pela lógica têm que ser. Se o excedente de utentes face aos Acordos causa alguma dificuldade à instituição, digo-lhe que não, se bem que não se pode dar uma resposta definitiva a essa questão, porque cada ano letivo é diferente. As mensalidades divergem, o tipo de agregados familiares também e há essas oscilações”, começa por dizer Mafalda Figueiredo, explicando: “Agora, o que se tem conseguido, e que é normal nestas freguesias, é estipular um excedente possível, ou seja, aceitamos apenas um número de utentes fora do Acordo que não influencie o resultado final. Por exemplo, os cinco utentes que temos a mais em Centro de Dia é o nosso limite. Há capacidades que não podem ser ultrapassadas e só em situações muito urgentes e de negligência é que ultrapassaríamos esses limites”.
Contudo, a instituição tem uma situação particular, pois tem mais utentes em Creche do que as vagas em Pré-escolar, o que exige dos responsáveis do Centro uma certa ginástica e criatividade para poderem responder satisfatoriamente aos anseios dos pais.
“O pré-escolar é uma situação atípica, porque como só temos duas salas, segundo o Acordo seriam 22 para cada sala, o número de crianças que escoa de creche é superior ao que suportamos nas salas e por isso temos excedente. E este ano vai haver uma nova dificuldade, porque os meninos que saem de Creche são mais dos que os que conseguimos absorver, logo não conseguimos cumprir os 44 acordos”, revela a diretora-técnica, prosseguindo: “Por acaso em termos de mensalidades, a situação financeira da valência é positiva, mas há situações em que não conseguimos controlar com tanta facilidade de ano para ano. Esta situação com o alargamento da Creche desestabilizou um pouco o Pré-escolar, que pela lógica deveria ter mais uma sala. Até hoje temos conseguido cumprir com o nosso propósito com as pessoas que cá estão e nos escolhem. Este ano ainda temos que pensar numa solução… Ainda não temos o número definitivo de crianças que querem continuar, mas entre as que quererão ir para o público e algumas transferências que acabam sempre por acontecer, pode ser que o número se componha, porque é muito complicado pedir a um pai que retire o filho porque não temos vaga, quando ele nos escolheu e já cá tem a criança. O que não quero é ter que escolher, porque todos os que cá estão é por opção”.
Para os responsáveis da instituição, a explicação é simples e passa pela qualidade do serviço, o que faz com que haja uma lista de espera para Creche. E esta argumentação ganha mais força quando nas proximidades da instituição abriu há dois anos um Centro Escolar.
“Há aqui esse dado novo que é a entrada em funcionamento de um jardim-de-infância público, há coisa de dois anos, e que é aqui a 200 metros. Inicialmente estava com medo que viesse esvaziar o nosso, pois está instalado num edifício novo, mas a verdade é que foram para lá dois meninos e passados dois dias estavam de volta. E não houve esvaziamento por causa da qualidade do serviço que aqui temos, porque eles lá não pagam”, assevera o padre Ferreira, que, no entanto, confessa: “Mas, sou sincero, estava com medo”.
Esta realidade é comprovada pela diretora-técnica: “As crianças que realmente se transferem, e num universo de 15 que é o que sai por ano, duas é o número das que ficam no Centro Escolar. No ano passado foi apenas uma… Na altura que abriu o Centro Escolar achámos que ia ser um problema e até nos sentimos aliviados por só termos as duas salas de Pré-escolar e não três, mas correu bem, não houve nenhuma situação delicada. Ou melhor, a situação delicada agora é, se calhar, ter que dizer a alguns pais que não há vaga”.
Para além da qualidade do serviço prestado, a situação geográfica da instituição é uma mais-valia.
“A grande procura que temos tem muito que ver com a nossa situação geográfica, pois estamos sediados quase à face da estrada e à face do Metro somos uma boa alternativa. Estamos muito bem localizados para os pais que trabalham e querem deixar os seus filhos no trajeto e perto das vias de comunicação. Depois, aqui em Mindelo os centros escolares estão todos juntos, o que acaba por ser positivo para os pais. Há uma conjuntura geográfica que nos favorece”, sublinha Mafalda Figueiredo.
No entanto, e não negando a evidência geográfica, o pároco prefere destacar outra questão.
“Insisto que a qualidade do serviço é a nossa grande fonte de atração de crianças”, sublinha, no que é acompanhado pela responsável técnica: “Sim, não é apenas a situação geográfica que nos favorece, mas igualmente um bom trabalho que se vai fazendo. Por exemplo, temos muitos irmãos que passam por aqui, isto demonstra que os mais se fidelizam à instituição. E não há melhor publicidade que o boca a boca”.
E se a resposta em termos de infância está devidamente assegurada, no que toca à terceira idade, para os dirigentes da instituição o Centro de Dia e o SAD já não chega.
Nos tempos que correm, a instituição tem lista de espera para Centro de Dia, o que não se passa com o SAD, porque é uma valência muito rotativa. “Por norma são pessoas que estão acamadas e que vão falecendo, por isso é uma valência com maior oscilação de entradas e saídas, havendo assim uma maior capacidade de resposta da nossa parte”, refere Mafalda Figueiredo, constatando que o mesmo não se passa com a outra valência para a terceira idade: “O Centro de Dia é por fases. É raro o idoso vir para cá por vontade própria, normalmente é por necessidade. Aqui os utentes são maioritariamente da freguesia e por referências dadas. Atualmente estamos numa fase em que estamos cheios, tal como as outras instituições aqui em volta, mas há oscilações. Temos períodos, como o início do inverno ou no pico do calor, em que há mais procura e que também são alturas em que falecem mais”.
Quanto ao futuro, os dirigentes não se comprometem em demasia, porque as condições económicas não o permitem. Daí que o padre Joaquim Ferreira defenda que “o grande projeto é pôr as contas todas direitinhas e, depois, com os pés bem assentes no chão pensar no que é preciso”, lembrando: “Estamos abertos para dar resposta a quem mais precisa e não a quem mais jeito nos dá”.
Apesar disso, é desejo da instituição alargar o SAD aos fins-de-semana, algo que já esteve para acontecer “mas o Governo falhou”. “Não nos vamos meter numa situação que vai sobrecarregar muito os utentes ou desequilibrar as contas da casa. Com Acordo de Cooperação dava para avançarmos, assim não dá”, afirma o presidente.
No sentido de projetar a instituição foi criado o Grupo Folclórico Infantil do Centro Social e Paroquial de Mindelo, que mobiliza os pais e cria uma maior ligação com os pais e os antigos alunos da instituição. O grupo, que é constituído por funcionários, alunos e antigos alunos, pais e familiares e integra crianças a partir dos dois anos, envolve quase uma centena de pessoas.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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