“No princípio a ideia foi sempre a de criar um infantário, porque na altura não se justificava avançar na terceira idade, apesar de haver quem já pensasse em avançar para essa área, mas a necessidade era na área da infância”, começa por explicar Fernando Santos, presidente do Centro Social, Cultural e Recreativo de Carregosa, no concelho de Oliveira de Azeméis, referindo que quando iniciou atividade em 1986 a instituição o fez com as valências de creche e pré-escolar.
Inserida no concelho altamente industrializado, onde não há grandes problemas com falta de emprego, era necessário dar resposta aos pais que, querendo trabalhar, precisavam de um local onde deixar os filhos. É nesse espírito que surge o Centro Social e que mais tarde abriu a valência de ATL.
Apesar deste cenário, entretanto, a instituição abraçou a valência de Serviço de Apoio Domiciliário, porque “com a população cada vez mais envelhecida, com alguns filhos a emigrarem, era uma necessidade”, refere a diretora-técnica Alexandra Palma, acrescentando: “Penso que uma resposta social de Centro de Dia e até de Lar possivelmente daria e teríamos utentes, mas a questão é que, neste momento, a situação financeira não o permite. Agora, sabemos que existem utentes para essas respostas. Se me perguntar se a nossa resposta é suficiente para as carências da comunidade, suficiente não é, mas outro tipo de respostas aqui nesta freguesia ou uma dimensão maior do Apoio Domiciliário cobriria mais as falhas. Se tivéssemos Acordo de Cooperação para mais utentes em SAD, chegaríamos a mais pessoas que necessitam do nosso apoio, mas não temos…”.
O presidente lembra ainda que Carregosa “está rodeada de instituições sediadas nas freguesias vizinhas”, mas mesmo assim defende que se o Centro Social tivesse outras valências teria utentes, recordando um projeto antigo da instituição: “Sabemos que há pessoas aqui da freguesia a frequentar Centros de Dia de freguesias vizinhas, porque nós não temos essa resposta. Há um projeto feito e que chegou quase a avançar para a construção de um Centro de Dia e Lar, num terreno que temos com 20 mil metros quadrados, só que a conjuntura económica não permitiu, nem permite que se arranque com ele”.
Relativamente ao projeto de expansão física da instituição e, dessa forma, de acolher mais respostas sociais, para já não passa disso mesmo, um projeto que espera melhores tempos para poder avançar. Na presidência há cerca de ano e meio, mas membro dos órgãos sociais há duas décadas, Fernando Santos não quer dar passos maiores do que as pernas.
“Este é um projeto já com alguns anos e que passa pela construção de um Centro de Dia/Lar. Na altura fez-se um projeto e, há uns anos, tentou-se uma candidatura ao QREN. Só que do lado do Governo as coisas estagnaram e este é um projeto com muitos números”, explica, sustentando: “Enquanto for presidente desta casa, e que não há de ser muito tempo, porque defendo que se faça um mandato e se dê o lugar a outros, vamos ter os pés assentes no chão. Fazer projetos ou fazer obra por se fazer obra e depois as coisas não funcionarem, não se justifica, porque em vez de estarmos a abrir mais um equipamento, fechamos dois. Devemos ter esse cuidado”.
Fernando Santos afirma que “a necessidade existe, mas se calhar não é tanta quanto isso, porque a partir do momento em que há aqui ao lado lares em Cesar, Fajões e Nogueira de Cravo a necessidade não será tão premente”.
Mesmo assim, o líder da instituição considera que a existir o equipamento haveria utentes, porém “fazer uma obra de quatro ou cinco milhões de euros não justifica”.
Não colocar em perigo o que já existe é um princípio de que os responsáveis pelo Centro Social de Carregosa não abdicam, como defende Alexandra Palma, que coloca em cima da mesa outra questão fundamental: “A incerteza que se vive não aconselha a avançar. E para além de todos esses custos, será que os Acordos de Cooperação seriam feitos? Com estas incertezas todas, mais vale melhorarmos as condições da nossa casa e quando as coisas estiverem melhor, se melhorarem a nível do País, então, será uma possibilidade”.
E esse tem sido o caminho seguido pela atual e a anterior Direções, que quebraram um ciclo de não investimento na instituição desde a sua criação. Instalada num edifício com quase 30 anos, este estava já necessitado de melhoramentos, até para poder manter níveis de qualidade que lhe permitissem ombrear com o Centro Escolar, entretanto, inaugurado na freguesia.
“Há cinco anos colocámos um telhado novo, depois painéis solares, ar condicionado e os alumínios todos mudados. Desde julho temos feito uma revolução total no piso de cima, onde funciona a creche, com uma alteração total e fizemos um grande investimento na cozinha e numa copa de leite completamente nova”, conta o presidente, que se mostra orgulhoso com o trabalho já feito: “A instituição, neste momento, está bem e recomenda-se. No último meio ano investimos nesta casa cerca de 90 mil euros em remodelações”.
Apesar de parte das obras terem sido subsidiadas pela ADRITEM - Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das Terras de Santa Maria, “fez-se muito mais coisas fora desse apoio”, lembra Alexandra Palma, ao que o presidente acrescenta: “É com orgulho que as coisas estão feitas, os pais agora entram aqui e veem as coisas com outro ar”.
Outro grande investimento da instituição foi o controlo de acessos.
“Implantámos um sistema de controlo de entradas, porque sentimos que era uma preocupação dos pais e hoje ninguém entra aqui sem nós sabermos. A proximidade da rua era uma preocupação”, sublinha o presidente, ao que a diretora-técnica acrescenta: “O apoio dos pais foi fundamental para a colocação do controlo de acessos. Hoje em dia os medos são tantos e a insegurança que se sente tanta que achámos muito importante fechar na totalidade a instituição, porque nunca se sabe quem vem por aí”.
A requalificação das instalações era algo de fundamental para a prossecução do objetivo da instituição, que estavam um pouco deixadas ao desleixo e que poderia ter acarretado grandes dificuldades para o Centro, uma vez que entretanto nasceu na freguesia uma resposta estatal.
“Quando há cinco anos surgiu o Centro Escolar passámos a competir com o Estado e poderia ter sido um problema, que agora já não é. Ao início pensámos que íamos ter alguns problemas com eventuais saídas de crianças, mas isso não aconteceu. Os números do pré-escolar estão nos limites e isso deve-se à qualidade do serviço. Uma grande vantagem que temos é a de servirmos refeições feitas na casa, para além da qualidade dos nossos formadores”, refere Fernando Santos, deixando um elogio ao corpo de funcionários: “Tenho uma excelente equipa, não tenho necessidade de cá vir todos os dias e isto não me dá muitas dores de cabeça. Sabemos que há um caminho que é o serviço e que a prioridade são os utentes. A partir do momento em que isto é posto em prática o objetivo cumpre-se”.
E na opinião dos responsáveis pela instituição as intervenções realizadas foram essenciais para que o objetivo pudesse continuar a ser prosseguido e o serviço à comunidade desenvolvido.
“Se as coisas se mantivessem como estavam, a preocupação que há pouco o presidente expressou sobre o Centro Escolar, tinha sido uma realidade”, sustenta a diretora-técnica, que acrescenta: “Com as mudanças, o envolver os pais em tudo, porque são pais interessados, e se eles são exigentes temos que corresponder, porque o que não falta para aí são infantários, com vagas. Eles hoje entram aqui e sentem que a casa também é deles. A instituição precisava mesmo de mudança, que começou com o anterior presidente Marco Azevedo, de se envolver com a comunidade e a mostrar-se, o que até aí não acontecia”.
Neste particular o cortar com um certo imobilismo que vinha do passado foi fundamental. A visão dos novos dirigentes, mais jovens e com outra mentalidade, acabou por resgatar a instituição do marasmo.
“As pessoas acomodaram-se. Hoje os pais entram nesta casa com muito mais confiança. Se não se fizesse nada, como o que temos feito, as instituições em volta já nos tinham levado os miúdos”, argumenta Fernando Santos, sublinhando: “Nesta casa estamos a lidar com pessoas e não com números e, se calhar, há algum tempo atrás lidava-se só com os números”.
Atualmente, o Centro Social, Cultural e Recreativo de Carregosa acolhe 51 crianças em creche, 66 petizes em pré-escolar e ainda 36 em ATL, enquanto o SAD serve 40 utentes, com uma equipa de 35 funcionários.
Ter a sala dos bebés no limite é um objetivos, porque a partir desse ponto a instituição consegue garantir algum futuro.
Nesse sentido, “os bebés vão aparecendo”, diz Alexandra Palma, acrescentando: “Em setembro temos sempre aquela dúvida sobre se haverá bebés, mas há medida que os meses vão passando eles vão aparecendo. E até aqui chegámos sempre a junho com as salas repletas. Há um ano crítico que é o de 2013, em que não houve bebés. As pessoas estavam com muito medo de ter filhos e do futuro, mas penso que esse medo já passou”.
E se o ano de 2013 foi muito complicado, o Centro Social de Carregosa não se pode queixar muito da crise, uma vez que na região o emprego ainda vai sendo uma realidade.
“Esta é uma comunidade remediada, pois há muita indústria e muitas empresas aqui à volta. Maioritariamente os pais dos nossos utentes são empregados de fábricas, o que nos coloca perante uma situação de não haver muita riqueza, mas em que há trabalho”, refere Alexandra Palma, explicando: “Houve empresas que fecharam, o que deixou alguns pais em situação de desemprego. Com a existência de fábricas grandes que vão recrutando trabalho temporário, faz com que alguns estejam desempregados por pouco tempo, mas também são empregos de curta duração. Mesmo assim, tivemos pedidos para baixar mensalidades e pedidos para mensalidade zero. Não temos muitas situações dessas, mas temos”.
À semelhança da comunidade, a instituição não é rica, mas vive uma situação equilibrada.
“Financeiramente, tento gerir a instituição tal como o faço na minha pequena empresa. Comprar o melhor possível, ser mauzinho com os fornecedores e exigir qualidade acima de tudo”, defende o presidente, que dá ainda nota de um objetivo alcançado na gestão da casa: “Por fim, e consegui-o passado meio ano, trabalhámos para termos liquidez financeira para, muitas vezes, aproveitar promoções. Esta casa gasta muito a nível de alimentação e quando se tem fundo de maneio é muito importante”.
Quanto ao futuro, os responsáveis pela instituição apostam na melhoria do edifício-mãe, sem pensar em outros investimentos que na conjuntura de incerteza que se vive, apenas poderia trazer dissabores.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos).
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